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Seleção do Irão.Atacada por tudoe por todos
Ponto prévio: não simpatizo com Carlos Queiroz por
causa de histórias de Moçambique quando tínhamos uma delegação do SOL
em Maputo, mas isso são outros quinhentos.
Apesar disso, nunca deixei de reconhecer a Carlos Queiroz um papel determinante na mudança de mentalidades do futebol português, nomeadamente com a conquista de dois campeonatos do mundo de sub-20, tendo essas conquistas sido o embrião de gerações de ouro – João Pinto, Paulo Sousa, Figo, Rui Costa, entre tantos outros, que agora dão lugar a Bernardo Silva, Bruno Fernandes e companhia, além de Ronaldo.
Posto isto, diga-se que o atual treinador do Irão teve um dos papéis mais difíceis deste mundial, levando pancada de todos os lados, mas revelando-se um verdadeiro amigo dos seus jogadores. A sua preocupação era tanta que até estava ao seu lado quando estes falavam, não fossem dizer algo que os iria prejudicar fortemente, já para não falar das famílias. É sabido – pelo menos foi bastante noticiado e nem Queiroz o desmentiu – que os jogadores iranianos sofreram ameaças físicas, algumas de morte, bem como os seus familiares, por parte de enviados do regime dos aiatolas ao Qatar. E o que acontecia sempre que algum jogador iraniano ou o treinador davam uma conferência de imprensa? As perguntas versavam quase todas sobre a situação que se vive no Irão, onde uma boa parte da população enfrenta uma espécie de guerra civil. Muita coragem tiveram os jogadores que não cantaram o hino no primeiro jogo – calculo as pressões que sofreram a seguir – além de terem dado entrevistas arriscadas. Pergunto-me quantos jornalistas que fizeram as perguntas óbvias e necessárias teriam a coragem que os jogadores e Queiroz tiveram... O maior ídolo futebolístico iraniano, o tal que Ronaldo destronou de melhor marcador de sempre de seleções, penso que está em prisão domiciliária, e terá sofrido bastante com o apoio que deu às mulheres iranianas. A equipa do Irão jogou sempre debaixo de uma enorme pressão, sendo atacada pelos iranianos que lutam nas ruas – que queriam mais demonstrações públicas de agravo ao Governo – e pelo próprio regime, que não queria tanta liberdade. Até mulheres iranianas que assistiam aos jogos nas bancadas foram agredidas pelos enviados dos aiatolas com a complacência das autoridades do Qatar e da FIFA. Perante isto, o Irão de Carlos Queiroz esteve à beira de fazer história e não se apurou para a fase seguinte por uma unha negra. Parabéns pois aos bravos iranianos que conseguiram chamar ainda mais a atenção do mundo para o que se passa no seu país.
P. S. Não consegui perceber a razão de o Irão ser a única seleção apresentada pela FIFA como República Islâmica. Não haverá outras? E as monarquias? E as outras Repúblicas? Pode ser só desconhecimento meu.
* Director do "iN"
IN "iN" - 01/12/22.
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