01/09/2022

VÍTOR RAÍNHO

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A minha vénia a Gorbachov

Gorbachov foi o homem que permitiu a abertura para as repúblicas soviéticas e para os países do Pacto de Varsóvia. Só por isto, merece que lhe façamos uma vénia. 

Mikhail Gorbachov é, seguramente, das pessoas mais importantes do século XX, e são muitos milhões de habitantes que melhoraram, e muito, a sua vida. Até por uma razão muito simples: conquistaram a liberdade, a democracia. Foi um autêntico visionário, no seu meio, quando percebeu que o modelo socialista só trazia miséria, opressão e totalitarismo - obviamente que qualquer regime terá as suas vantagens, no caso soviético foi o desporto, a saúde e a educação, apesar do ‘fanatismo’ ideológico. Por isso acabou com a União Soviética, um conjunto de repúblicas forçadas a estar juntas e que nada ou muito pouco tinham em comum. A não ser, claro, um ditador que lhes determinava a vida.

Quando o Muro de Berlim caiu, foi fácil perceber como do lado oriental quase viviam na idade das trevas, enquanto no lado ocidental se vivia com prosperidade, daí a razão de muitos fugirem logo para a antiga RFA. Olhando para os antigos países do Bloco do Leste percebemos como foram subjugados pela força das armas a viverem uma vida que não era a sua. As invasões da Hungria em 1956 e da Checoslováquia em 1968 foram dos momentos mais dramáticos do pós-Segunda Guerra Mundial.

Gorbachov foi o homem que permitiu a abertura para as repúblicas soviéticas e para os países do Pacto de Varsóvia. Só por isto, merece que lhe façamos uma vénia. E o que pensa o Partido Comunista Português desta grande figura da democracia? “Gorbachov foi um dos principais responsáveis pela destruição da União Soviética e a restauração do capitalismo na Rússia, quando o que se impunha era o aperfeiçoamento do socialismo”, disse o partido em comunicado. Mas foi mais longe: “O reconhecimento e rasgados elogios que lhe são despendidos pelos responsáveis dos EUA, da UE e da NATO falam por si”. Mais uma vez, o PCP foi igual a si próprio. Um partido que caminha para a insignificância, balofo e incapaz de elogiar a democracia. Quanto mais o 25 de Abril se afasta no tempo, mais o PCP vai ficando isolado nas memórias do papel que teve para derrubar a ditadura. Até porque o seu sonho foi e será sempre instalar uma ditadura ao estilo soviético.

* Jornalista, director do "iN"

IN "iN" - 01/09/22.

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