11/05/2022

CATARINA MACHADO

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Cancro do ovário:
risco familiar oncológico

A propósito do Dia Mundial do Cancro do Ovário, que se assinala a 8 de maio, é importante dizer que a prevenção é a melhor terapia e já é possível evitá-lo com antecedência nos casos hereditários. Não hesite, procure o seu médico e evite risco, só em Portugal existem cerca de 474 casos por ano.

A nível mundial estima-se que existam cerca de 238.000 novos casos de cancro do ovário, sendo a Europa o continente com a taxa de incidência mais elevada. Em Portugal existem cerca de 474 novos casos por ano.

O cancro do ovário hereditário está sobretudo associado a mutações germinativas dos genes reparadores do DNA (BRCA1 e BRCA2). Mutações noutros genes podem também estar associadas a este tipo de cancro, como é o caso dos genes de reparação implicados na síndrome de Lynch, entre outros menos frequentes.

É recomendado atualmente que seja oferecida a possibilidade de realização do estudo genético dos genes reparadores de DNA a todas as mulheres com carcinoma do ovário com característica histológica de tumor não-mucinoso. Este estudo é realizado em amostra tumoral, sendo que os casos em que é identificada uma mutação patogénica - isto é, capaz de provocar doença, são encaminhados para uma consulta de genética onde é feito o despiste de situação hereditária. Quando se confirma tratar-se de um cancro em contexto de síndrome hereditária, são consideradas medidas preventivas para os portadores destas mutações.

A prevenção inclui vigilância ginecológica, mas também a chamada "salpingo-ooforectomia profilática" (SOP) e a quimioprevenção, sendo a SOP a estratégia de prevenção mais eficaz, podendo contribuir para a redução de risco de cancro ginecológico associado a mutação BRCA entre 80 e 96%, a redução de risco de cancro da mama em cerca de 50% e a redução da mortalidade específica e global. Recomenda-se a SOP a partir dos 35-40 anos e depois de ter o número de filhos desejados, um conselho que deve ser individualizado, tendo em conta a idade de diagnóstico de cancro do ovário na família e o tipo de mutação. Por exemplo, a mutação BRCA2 costuma ter um menor risco de cancro do ovário e uma idade de diagnóstico mais tardia.

O cancro do ovário associado a mutações patogénicas nos genes BRCA1 e BRCA2 tem um comportamento biológico diferente do que tem origem esporádica, estando associado a uma maior taxa de resposta a determinadas terapêuticas, o que é outro dos grandes benefícios em identificar estas mutações nos tumores de ovário. Como sempre, a prevenção é uma aliada para a nossa saúde.

* Geneticista no Hospital CUF Tejo - Consulta de Risco Familiar Oncológico

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 08/05/22.

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