08/03/2022

MARTA F. REIS

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Como se acaba a guerra?

Somam-se 1,5 milhões de refugiados, mas como diz numa entrevista nesta edição Ricardo Alexandre, será terrível se a torneira do Ocidente fechar por exemplo no Afeganistão e tantos refugiados de guerra e climáticos no mundo ou cá já, por integrar, estrangeiros a viver com água racionada, pasme-se, no Alentejo.

É a pergunta que nos fazemos numa altura em que a ofensiva russa atinge diretamente civis e se multiplicam os relatos desesperados de fugas abortadas por bombardeamentos, acordos de cessar-fogo que não são cumpridos e corredores humanitários que demoram. Acaba se Putin ou a Ucrânia cederem? Parece improvável. Se a NATO recuar e chegar a um acordo neutral a Leste? Se todos os países forem claros - a China proibir transmissões da Premier League é mais um bom sinal da sua ambiguidade e que país imporá sanções à China? Se as sanções forem sérias e oligarcas russos não fugirem com o seu dinheiro ou o navio que saiu com gás da Rússia na véspera do início da invasão não puder atracar como atracou em Portugal? A censura de ambas as partes alimenta a desinformação e a União Europeia deu um péssimo sinal - e bastava ver as últimas emissões do canal RT antes de ser apagado do ar para perceber como a guerra apanhou desprevenidos também muitos russos, que o que viam era o gozo em antena quanto às acusações a um plano de Moscovo. 

Numa das últimas noites, um comentador com um globo de borracha na mão ria-se - e riam-se mesmo - de que ninguém sabia onde era a Ucrânia. Somam-se 1,5 milhões de refugiados, mas como diz numa entrevista nesta edição Ricardo Alexandre, será terrível se a torneira do Ocidente fechar por exemplo no Afeganistão e tantos refugiados de guerra e climáticos no mundo ou cá já, por integrar, estrangeiros a viver com água racionada, pasme-se, no Alentejo. Nos impactos diretos, o aumento do preço aos combustíveis e o clima de incerteza trouxe a realidade às carteiras, numa altura em que é certo que o Governo terá de rever as previsões, ser realista e acertar nas prioridades e que os euros do autovoucher valem tanto como as promoções desesperadas dos supermercados em que já não se percebe o que vale o quê e a certa altura é fácil sentirmo-nos roubados e manipulados. 

E no meio disto, nas medidas apresentadas no final da semana passada o ministro do Ambiente anunciou o apoio à compra de carros elétricos, de três mil para os quatro mil euros, o que só vale para carros novos e irá naturalmente beneficiar uma fatia da população mais folgada que pensa em comprar carro elétrico. São 10 milhões de euros e, como se costuma justificar, já estava previsto. Bem sei que não dava para muitos mais litros à borla no autovoucher ou aumentar por aí além reformas, mas que justiça há nesta medida?   

* Jornalista, licenciada em comunicação social.

IN "iN" - 07/03/22.

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