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Caros emigrantes,
precisamos de falar
Esta poderia ser a frase de arranque de uma carta, com um pedido de desculpas, enviada aos portugueses residentes no estrangeiro por aqueles que se sentaram à mesa e rabiscaram um acordo sobre a validação dos votos nas eleições legislativas que deu no que deu. Os mesmos que agora tentam a custo livrar-se de qualquer responsabilidade.
É certo que António Costa já disse que o Estado deve "um pedido de desculpas" aos emigrantes que vão ter de repetir o voto. Falta que quem de direito materialize o ato. Eles estão à espera.
Formular um pedido de desculpas perfeito não é fácil. Primeiro, porque é necessário admitir o erro, admitir a culpa. Segundo, porque é preciso expressar o arrependimento com sinceridade. Terceiro, porque é essencial explicar o que aconteceu de errado. Por fim, fazê-lo olhos nos olhos, o que, neste caso, é praticamente impossível. Só com estas condições um pedido de desculpas não soará a falso, segundo conclui um estudo da Universidade de Ohio.
O problema reside precisamente aqui. Soar a falso. Recuperar a confiança de quem depositou confiança num boletim de voto que não contou para nada será uma tarefa complicada, mas nunca poderá soar a falso. É que não chega acreditar na força e na resiliência daqueles que um dia resolveram partir para sobreviver. É preciso fazê-los sentir que são Portugal não só em agosto, mas também em todos os meses do ano.
O risco de abstenção, forçada, na votação do círculo da Europa marcada para os dias 12 e 13 de março é grande. Ficou patente a desilusão e frustração entre os emigrantes que já nas eleições presidenciais enfrentaram problemas na votação.
O Tribunal Constitucional e a Comissão Nacional de Eleições fizeram o que tinha de ser feito.
Agora é a vez dos outros.
Caros políticos, precisamos de falar.
* Director adjunto
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 18/02/22.
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