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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
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Função pública congelada
O primeiro-ministro bem pode anunciar a bonança, mas se no final das contas ela não se sentir no bolso de quem trabalha, é porque não chegou.
Se ouvirmos António Costa, a bonança parece estar já ao virar da esquina. Com uma folga orçamental de 1.800 milhões, uma previsão de crescimento da economia de 4,6% e uma ‘‘bazuca’’ avaliada em milhões de promessas, a confiança é tanta que o primeiro-ministro não hesita em afirmar que “neste quadro, é evidente que a política de rendimentos tem de ser vista, não como um entrave ao crescimento, mas também como um contributo positivo para o investimento”.
São palavras doces para um país amargurado por décadas de castigo económico e perda salarial, mas será que o Orçamento concorda com elas?
No que toca aos trabalhadores dos serviços públicos, já sabemos que a resposta é negativa. A ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, deixou cair por terra a promessa feita em 2019 de aumentar em 1% os salários da Função Pública que, na prática, estão em perda há mais de uma década.
O último ano em que houve aumentos reais foi 2009. A partir de 2010 os funcionários atravessaram o deserto com cortes nas remunerações, congelamento das progressões, cortes nos subsídios, aumento dos horários de trabalho... só em 2015, com a ‘‘geringonça’’, este caminho foi interrompido. Ao longo dessa legislatura a reversão dos cortes e reposição das progressões ajudaram a contrariar as desigualdades mas não foram suficientes para valorizar as carreiras massacradas.
O Expresso fez as contas e concluiu que, em termos reais, “mesmo com o aumento deste ano a somar ao registado em 2020, as remunerações mais baixas vão ficar 5,6% abaixo do patamar de 2010. Já para quem ganhava até 791,91 euros, e que por isso terá mais 10 euros mensais, a perda chega aos 8,5%”. Já os sindicatos calculam que, em alguns escalões salariais, as perdas reais ultrapassem os 10%.
Em 2020, pela primeira vez em mais de uma década, o Governo anunciou um aumento salarial generalizado na Função Pública. Só que a montanha pariu um rato, os 0,3% de atualização ficaram abaixo da inflação desse ano e nem se fizeram sentir no bolso dos trabalhadores. A insuficiência foi tão evidente que levou o primeiro-ministro a anunciar que em 2021, “aconteça o que acontecer”, a valorização seria de pelo menos 1%.
Como todos sabemos, a promessa acabou por não ser cumprida e apenas as remunerações até 800 euros foram atualizadas, mais de meio milhão de funcionários ficou sem aumentos salariais.
É neste contexto e seguindo o fio desta história que temos de olhar para a intenção de manter congelados os salários da Função Pública. Para trás parece ter ficado a tempestade mas também o reconhecimento a quem tanto deu a este país ganhando tão pouco.
O primeiro-ministro bem pode anunciar a bonança, mas se no final das contas ela não se sentir no bolso de quem trabalha, é porque não chegou.
* Deputada à A.R. pelo Bloco de Esquerda
IN "i" - 07/10/21
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4-SOƁRƐƲIƲƐƝƬƐS ƊA HISƬÓRIA
"Quem tem a oportunidade de conversar com um sobrevivente acaba sendo uma testemunha também. Porque eu sou testemunha de ter conhecido um sobrevivente. Então, quem tiver a oportunidade, é bom se apressar porque sobreviventes estão ficando velhinhos e não duram para sempre”.
A afirmação de José Jakobson, filho de um sobrevivente do Holocausto, revela a importância de ouvir a história diretamente de quem a viveu. E, com esse objetivo, o Caminhos da Reportagem desta semana conversa com sobreviventes de um dos maiores genocídios que o mundo presenciou.
O Holocausto matou 11 milhões de pessoas, seis milhões só de judeus. Muitos deles fugiram para o Brasil, além de outros países, antes, durante e depois da 2ª Guerra Mundial. Chegaram aqui debilitados, com sequelas físicas e psicológicas. “A ideia dos alemães era que nenhum judeu iria sobreviver à presença deles. Feroz mesmo! No fim da guerra eu estava pesando, quando já tinha comido, uns 30 quilos”, conta Nanette Konig, judia holandesa que sobreviveu ao nazismo. Ela foi colega de escola de Anne Frank, a menina judia que ficou famosa por escrever um diário enquanto vivia em um esconderijo com a família. As duas se reencontraram no campo de concentração. Anne Frank, assim como a família de Nanette, não sobreviveu.
Nossa equipe conversou com outros sobreviventes que testemunharam os horrores dos campos de trabalho forçado e de extermínio. “Lá em Auschwitz foi feita uma segregação. Um vagão ia para a morte, para o crematório, e o outro vagão ia para campos de trabalho. Se eu tivesse má sorte de estar no vagão que iria para a morte, não tinha me salvado”, afirma o judeu polonês Julian Gartner.
Durante a guerra, os judeus e outros grupos perseguidos, como negros, ciganos, homossexuais e inimigos políticos, enfrentaram a fome, o frio, a perda da identidade, da família, da saúde e da vida. Conversamos com Anita Prestes, filha do comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes com a judia alemã Olga Benário. Anita, que nasceu enquanto a mãe estava presa, se considera “filha da solidariedade internacional”, uma vez que foi libertada depois de uma campanha envolvendo vários países. Também conhecemos Salvador Haim, filho de um ex-prisioneiro que fez vídeos dentro de um campo de concentração na Bulgária.
O feito, considerado inédito pelo Museu do Holocausto de Washington, contém imagens da rotina em um campo de concentração. “Mostra o pessoal trabalhando, quebrando pedra, afiando ferramenta, pondo dinamite para estourar pedra. Como ele fez o filme, quem autorizou, isso a gente não sabe”, narra Salvador. O Caminhos da Reportagem também visita lugares de preservação da memória dos sobreviventes, como o Museu do Holocausto em Curitiba, que reúne documentos, fotografias e objetos dos judeus que vieram para o Brasil. Na Argentina visitamos o Centro Simon Wiesenthal, que leva o nome de um dos mais famosos caça-nazistas do pós-guerra.
Ainda mostramos como os alemães lidam com esse capítulo da história, seja no currículo escolar, seja com projetos como as “pedras de tropeço”, intervenções artísticas espalhadas pela Alemanha e demais países europeus, em homenagem às vítimas do nazismo