31/12/2021

MARIA ROSA BORGES

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A insustentável leveza 

das previsões económicas

Seria desejável que a economia nacional, ganhando balanço com os fundos europeus disponíveis, conseguisse descolar desta performance sofrível.

As previsões para a evolução da economia portuguesa no triénio 2021-2023, realizadas pelas diversas instituições nacionais e internacionais não são substancialmente diferentes. Se os valores podem divergir um pouco, a fundamentação é, na essência, a mesma. Mas, sendo a economia uma ciência social, o ajustamento do comportamento dos agentes, em função da informação que até eles vai chegando, condiciona o seu processo de tomada de decisão e pode debilitar estas previsões. A crise pandémica é, definitivamente, a maior condicionante das expectativas dos agentes económicos, por isso, a incerteza das previsões não é negligenciável e a almejada convergência com os países europeus pode ser mais uma vez adiada.

Vejamos um breve resumo dos principais números projetados para a economia portuguesa, divulgados no Boletim Económico do Banco de Portugal (BdP) de dezembro de 2021. Este relatório prevê um crescimento do PIB, para o triénio 2021-2023, de 4,8%, 5,8% e 3,1%, respetivamente. A evolução do produto é impulsionada, por um lado, pelo aumento do consumo privado de 7,2%, 6,6% e 3,9%, o qual é estimulado pela poupança acumulada no período da pandemia e por um crescimento dos salários previsto de 3%, e, por outro lado, pelo crescimento do investimento que se prevê aumente 7,2% em 2021, e atinja, nos dois anos seguintes, 6,6% e 3,9%, respetivamente, muito devido à utilização dos fundos europeus.

A recuperação da economia mundial e do turismo em particular, justificam um crescimento das exportações no horizonte da previsão de 12,7%, 7,8% e 3,9%, respetivamente. A taxa de desemprego média estabiliza em torno dos 5,8%, o que traduz a resiliência das empresas na manutenção dos postos de trabalho e o défice público retoma a sua trajetória descendente, perspetivando-se que, já no próximo ano, se situe abaixo dos 3% do PIB e que a dívida se reduza consistentemente.

Estes são bons indicadores, mas não são excelentes. Por um lado, as previsões para 2023 são modestas e, em termos acumulados, entre 2019 e 2024, apenas conseguiremos alcançar um crescimento semelhante à área do euro. Estes factos não deixam de elucidar as dificuldades de convergência com a Europa. Seria desejável que a economia portuguesa, ganhando balanço com os fundos europeus disponíveis, conseguisse descolar desta performance sofrível e atingir um crescimento significativamente acima da média dos nossos congéneres europeus, o que não parece ser uma realidade deduzível a partir destes números.

Acresce que, as previsões pouco nos dizem em relação aos riscos que a economia enfrenta, em particular aos riscos ligados à evolução da crise pandémica, que se agrava diariamente e que insiste em oscilar no tempo, confundindo Estado, empresas e famílias. A reintrodução de medidas mais restritivas não está afastada no curto prazo, antes pelo contrário. É uma nuvem negra que paira no horizonte e que pode minar a confiança dos agentes económicos de forma indelével, com consequências negativas sobre as previsões, acentuando consideravelmente a imprevisibilidade do futuro.

* Professora de Economia do ISEG

IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 31/12/21.

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