01/09/2021

CAROLINA GOMES

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3 motivos porque estar 

numa praia é cada vez

 menos relaxante

Tempos houve em que conseguia desfrutar de um dia de praia. Já dizia Fernando Pessoa que “Cansa sentir quando se pensa”, e analisar uma experiência de praia atualmente causa inevitavelmente inquietação.

A associação ambientalista ZERO, divulgou recentemente que as praias portuguesas registaram uma diminuição da sua qualidade comparativamente a 2020. Durante este ano 20 praias estiveram interditas e 45 com banho desaconselhado ou proibido.

A avaliação, feita através dos resultados oficiais do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, revelou que ao todo mais 20 praias apresentaram problemas de contaminação das águas, todas elas no interior do país.

Mesmo em praias fluviais, que são as que temos no interior, recorrentemente reconhecidas pela sua qualidade, não é raro detetar óleo nas águas ou espuma nas margens, por exemplo.

Além disso, se tivermos em conta que é a estas águas que vêm desaguar, de forma direta ou indireta, pequenos rios e ribeiras para onde são tantas vezes feitas descargas poluentes, o sentimento de segurança é ainda menor.

E continuado nas praias fluviais, um dos seus atrativos é muitas vezes a paisagem verde e a sombra natural. Mas quando essa paisagem se transforma num aglomerado caótico de monocultura de eucalipto em regeneração espontânea? E quando essa sombra também é assegurada por espécies invasoras?

Mas já agora uma pequena nota: também nas praias costeiras a paisagem muda de forma assustadora de ano para ano, com dunas a desaparecer nuns sítios, areais a crescer sem fim noutros e lixo já histórico a ocupar o lugar da biodiversidade do ecossistema dunar.

Há ainda um outro aspeto na origem da minha inquietação: o próprio período do ano propício à praia é cada vez mais extenso. Já são vários os anos em que temperaturas de verão se prolongam até outubro, numa cada vez mais óbvia redução de estações. A transição cíclica entre primavera, verão, outono, inverno, dá lugar a duas estações, uma cada vez mais quente e outra cada vez mais tempestuosa.

As alterações climáticas estão sobre nós, as mudanças das estações são sintoma. Mas as alterações dos recursos hídricos e da paisagem são parte da causa, levadas a cabo de forma tão dirigida que se diria intencional, não fosse ela inconsciente, irresponsável e inconsequente.

Esta semana Mike Meredith, líder científico do British Antarctic Survey e principal autor do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, alertou para que a crise global da água se irá intensificar com o colapso do clima. Acrescentando que “já existem fortes evidências de que estamos a assistir a essas mudanças. Em algumas regiões secas, as secas tornar-se-ão piores e durarão mais. Esses riscos são agravados por consequências indiretas, como maior risco de incêndios florestais, como já estamos a ver”.

Mas apenas com um pouco de atenção, sem precisar que ninguém o diga, ou sequer que a ciência o comprove, vemos, nas atividades comuns da nossa vida, como uma ida à praia, que o problema está aqui, que o vaticinado está a acontecer e que, se nada for feito, o Apocalipse será real.

𝓔𝓼𝓽𝓪𝓶𝓸𝓼 𝓪 𝓿𝓲𝓿𝓮𝓻 𝓾𝓶𝓪 𝓬𝓻𝓲𝓼𝓮 𝓰𝓵𝓸𝓫𝓪𝓵 𝓹𝓻𝓸𝓿𝓸𝓬𝓪𝓭𝓪 𝓹𝓸𝓻 𝓾𝓶 𝓿𝓲́𝓻𝓾𝓼, 𝓹𝓸𝓲𝓼, 𝓼𝓮 𝓷𝓪𝓭𝓪 𝓯𝓸𝓻 𝓯𝓮𝓲𝓽𝓸, 𝓪 𝓬𝓻𝓲𝓼𝓮 𝓬𝓵𝓲𝓶𝓪́𝓽𝓲𝓬𝓪 𝓽𝓮𝓻𝓪́ 𝓬𝓸𝓷𝓼𝓮𝓺𝓾𝓮̂𝓷𝓬𝓲𝓪𝓼 𝓪𝓲𝓷𝓭𝓪 𝓶𝓪𝓲𝓼 𝓹𝓻𝓸𝓯𝓾𝓷𝓭𝓪𝓼 𝓷𝓪𝓼 𝓿𝓲𝓭𝓪𝓼 𝓭𝓮 𝓽𝓸𝓭𝓸 𝓸 𝓹𝓵𝓪𝓷𝓮𝓽𝓪, 𝓼𝓮 𝓷𝓪𝓭𝓪 𝓯𝓸𝓻 𝓯𝓮𝓲𝓽𝓸… 𝓜𝓪𝓼 𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓮́ 𝓹𝓻𝓮𝓬𝓲𝓼𝓸 𝓯𝓪𝔃𝓮𝓻 𝓿𝓪𝓲 𝓫𝓮𝓶 𝓪𝓵𝓮́𝓶 𝓭𝓮 𝓪𝓵𝓽𝓮𝓻𝓪𝓬̧𝓸̃𝓮𝓼 𝓭𝓮 𝓬𝓸𝓶𝓹𝓸𝓻𝓽𝓪𝓶𝓮𝓷𝓽𝓸𝓼 𝓲𝓷𝓭𝓲𝓿𝓲𝓭𝓾𝓪𝓲𝓼, 𝓭𝓸 𝓬𝓱𝓪𝓶𝓹𝓸̂ 𝓺𝓾𝓮 𝓾𝓼𝓸 𝓮 𝓭𝓸 𝓬𝓪𝓻𝓻𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓬𝓸𝓷𝓭𝓾𝔃𝓸: 𝓪 𝓮𝔁𝓲𝓰𝓮̂𝓷𝓬𝓲𝓪 𝓭𝓮 𝓪𝓬̧𝓪̃𝓸 𝓭𝓮𝓿𝓮 𝓼𝓮𝓻 𝓭𝓲𝓻𝓲𝓰𝓲𝓭𝓪 𝓹𝓪𝓻𝓪 𝓺𝓾𝓮𝓶 𝓰𝓸𝓿𝓮𝓻𝓷𝓪, 𝓹𝓪𝓻𝓪 𝓺𝓾𝓮 𝓪𝓼 𝓹𝓸𝓵𝓲́𝓽𝓲𝓬𝓪𝓼 𝓺𝓾𝓮 𝓮𝓼𝓽𝓻𝓾𝓽𝓾𝓻𝓪𝓶 𝓪𝓼 𝓷𝓸𝓼𝓼𝓪𝓼 𝓼𝓸𝓬𝓲𝓮𝓭𝓪𝓭𝓮𝓼 𝓼𝓮𝓳𝓪𝓶 𝓾𝓶𝓪 𝓻𝓮𝓼𝓹𝓸𝓼𝓽𝓪 𝓼𝓮́𝓻𝓲𝓪 𝓪̀ 𝓮𝓶𝓮𝓻𝓰𝓮̂𝓷𝓬𝓲𝓪 𝓬𝓵𝓲𝓶𝓪́𝓽𝓲𝓬𝓪.

* Antrpóloga

IN "INTERIOR DO AVESSO" - 20/08/21

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