17/07/2021

VITOR RAÍNHO

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Ana Paula Vitorino.

 Censura em causa própria

Vejo e oiço coisas que pensava só ser possível por volta das sete da manhã nalguma discoteca – mas como estão fechadas há muito tempo, só mesmo a corte socialista para nos surpreender. 

Como já se provou por variadíssimas vezes, António Costa é um génio da política e se assim não fosse há muito que tinha sido corrido do cargo por indecência e má figura. Os seus ministros podem falhar estrondosamente que não há problema nenhum. 

O tempo cura tudo e os chatos dos jornalistas acabarão por deixar cair os temas polémicos, até porque os jornalistas cor de rosa, não os das revistas, mas os amiguinhos do Largo do Rato, tratarão de desvalorizar as polémicas e com os seus sorrisinhos cínicos farão passar a mensagem que interessa ao primeiro-ministro. Se alguém tem dúvidas é só abrir os olhos. 

Vejo e oiço coisas que pensava só ser possível por volta das sete da manhã nalguma discoteca – mas como estão fechadas há muito tempo, só mesmo a corte socialista para nos surpreender. Um ministro é envolvido num acidente fatal para um trabalhador e as explicações só surgiram dias depois e após a versão do seu gabinete ser desmentida, mas não há problema. Os jornalistas ladram e a caravana passa. São tantos os exemplos que seria preciso um texto bem maior. Mas o que se pode dizer de um Governo que tem um ministro – também ele governante de José Sócrates – que diz que quer ir para casa mas não o deixam ir? 

Mas vamos ao último caso, que não dará em nada seguramente. Ana Paula Vitorino, ex-ministra do Mar e casada com o atual ministro da Administração Interna, foi nomeada pelo Governo para a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, órgão que tem como objetivo fiscalizar os contratos do Governo na área dos transportes. A sua nomeação provocou indignação em várias frentes, mas o Executivo de Costa explicou que Ana Paula Vitorino é uma pessoa independente e que saberá separar as águas, leia-se filiação partidária, ex-governante e mulher de um governante. Acontece que se ficou a saber que Vitorino foi ouvida por uma comissão parlamentar, de que é suplente e que depois do texto escrito pelo relator quis alterar o que havia afirmado na tal comissão. 

Se isto fosse com um deputado de um partido um pouco mais à direita do que o PS, o que se diria? Mas Vitorino pode estar descansada, Costa não lhe tirará o emprego que, ao que se diz, lhe dará mais de 15 mil euros por mês – limpando assim o “despedimento” no novo Governo. 

* Jornalista

IN "i" - 16/07/21

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