08/06/2021

MARGARIDA VIEITEZ

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Sim, existem

 pessoas interessantes!

O mundo tem cerca de sete bilhões de pessoas. Muitas delas continuam a escolher e aceitar viver relações de profunda miséria afetiva, pelas mais variadas razões.

Serão masoquistas? Não creio! Tenho a convicção que simplesmente não acreditam que seja possível viver relações realmente enriquecedoras e gratificantes (não perfeitas!), porque no momento em que começam a acreditar que merecem experienciá-las, “batem com a porta” e nunca mais permitem que esse “padrão”, por vezes repetido uma, duas, dez vezes… volte à sua vida e preencha os seus vazios, carências, solidão ou desesperos existenciais, porque elas aprenderam a reconhecê-los e a preenchê-los com todo o seu amor.

Muitos dos artigos que já escrevi descrevem com maior detalhe as razões que podem estar na origem de decidir gastar o seu tempo e energia com quem realmente não o merece.

Este artigo, escrevo-o com um objetivo muito concreto: dizer-lhe que existem muitos milhões de pessoas com quem vale realmente a pena viver uma relação de Amor, e elas andam por aí…

Mas, como descobrir se vai valer a pena continuar a conhecer?

Imagine que decide fazer um bolo de laranja, escolhe uma receita e vê que vai precisar de 6 ovos, açúcar, farinha, fermento, manteiga e laranjas. Depois de procurar, chega à conclusão que só tem 3 ovos, não tem fermento nem laranjas em casa, mas mesmo assim, pensa: o bolo de laranja é o meu preferido e vou fazê-lo na mesma.

O que acontece? Consegue imaginar o tamanho e o sabor do bolo?

Metaforicamente é isso mesmo que sentirá todos os dias da sua vida se escolher alguém que não está verdadeiramente interessado em si!

Então, e como saber?

Escolhi 8 indícios que me parecem ser os mais importantes tentar descobrir nos primeiros encontros e no início de uma relação.

E neste momento, provavelmente está a pensar: Mas como?

Estando atento e não duvidando do que a sua voz interior lhe sussurra baixinho, e por vezes, alto demais.

Estes são para mim, os 8 indícios de que ele/ela possam ser “a tal” pessoa que vale a pena conhecer, dar o seu tempo e a sua atenção:

1 – A expressão facial, como olha para si e a forma como o trata.

Pode ser difícil acreditar, mas você tem esse poder/recurso dentro de si, de perceber na expressão facial dos outros e na forma como o olham, se são pessoas que lhe querem e fazem bem ou se pelo contrário se deve afastar. O que acontece é que a maioria das vezes, a voz da sua carência consegue falar mais alto e sobrepor-se, e acaba por seguir o que ela lhe diz.

Igualmente, o que sente quando está com essa pessoa e a forma como ela se relaciona consigo é mais rica que mil palavras.

Você sabe quando é tratado com admiração, respeito e ternura e sabe também que abdicar de um destes elementos, ou de todos eles, significa estar a abdicar do seu amor próprio e do melhor para si! Porque o faria?

2 –  Afetos e atração

Se se considera uma pessoa afetuosa, por que razão aceita ter uma relação com alguém que não o seja e espera chegar “o dia do milagre” em que ele/ela o irá surpreender com toneladas de romance, surpresas, abraços e beijinhos?

Se no início de uma relação, essa pessoa nem lhe dá a mão quando vão passear, acha mesmo que lhe vai dar o seu coração?

Se essa pessoa saiu consigo uma vez e na segunda já lhe fala de sexo, o que acha mesmo que quer consigo? Vai a uma farmácia comprar bombons?

Se é uma pessoa romântica, tente descobrir logo nos primeiros encontros se ele/ela também são. Pergunte! Será muito melhor sentir agora algum receio, do que intensa frustração e desilusão no futuro. Porque vai comprar uns sapatos de um número que não é o seu?

A intimidade sexual é expressão de afetos, e quando não o é, é sexo! Pense no que quer para si e dê-se ainda mais valor!

3 – Interesse e empatia

Alguém que está realmente interessado em si, demostra esse interesse das mais variadas formas: tem tempo para si, para estar e conversar consigo, interessa-se pela sua vida e pelo seu dia a dia, pergunta-lhe como está e o que está a fazer, convida-o para sair e fazer programas, responde às suas perguntas e mensagens, não aparece e desaparece, mantém consistência de comportamentos, preocupa-se e cuida de si. Não inventa desculpas!

Não se trata de abrir sempre a porta do carro, trata-se de gestos e comportamentos reveladores de carinho, proteção bem querer e amor. Trata-se de sentir que essa mesma pessoa abriu um espaço novo na sua vida para si e cuida dele como quem cuida de um jardim.

Igualmente importante é perceber se ele/ela revela empatia, isto é, capacidade de calçar os seus sapatinhos, gerir as suas emoções menos positivas, e se demostra compreensão face ao seu sofrimento e dor.  Quando está triste, ele/ela diz que não tem tempo? Fuja de narcisistas e psicopatas que lhe dizem “a chorar por causa disso?” ou “e que importância isso tem?

4 – Transparência, confiança e verdade

Se você não mandar o seu raciocínio de férias cada vez que se apaixona, então certamente conseguirá perceber se essa pessoa está a ser sincera e verdadeira consigo. Se está a ser genuína ou se está a interpretar um personagem. Se tentar dar-lhe a entender que é “o mais importante da sua quinta” ou falar em dinheiro, trabalho e bens materiais a cada minuto, pode concluir que já tem um compromisso com todos eles.

Pergunte-lhe como se vê, se pode confiar nele/a e se é uma pessoa confiável. Pelas respostas, e especialmente pela leitura da linguagem não verbal, vai saber!

A construção de “um lugar de confiança” na relação é feita devagarinho, construído a pouco e pouco, um dia de cada vez. As mentiras por sua vez, são metaforicamente uma espécie de “pedras” que embatem nessa construção, podendo provocar os mais variados danos.

Se sente que não confia é porque não confia (no entanto pode acontecer essa falta de confiança estar relacionada com experiências e marcas profundas). Quando se confia não existe espaço para não confiar e, nem sequer pensamos nisso.

Escolha pessoas confiáveis e ter uma relação de verdade e confiança plena.  

5 – Comunicação, afinidades e valores

Tem de pensar igual? Não! E ainda bem que não!

Tem de gostar do mesmo? Não! Mas é importante que gostem de algumas coisas em comum.

Tem de ter os mesmos interesses e afinidades? Não! Mas partilhar interesses e afinidades pode gerar maior identificação. Todos gostamos de reconhecer nos outros aspetos semelhantes.

Tem de ter valores iguais? Aqui a minha experiência revela-me que o sucesso de uma relação assenta, para além de outras coisas, em valores e princípios semelhantes.

Se ao sair com alguém, detetar que essa pessoa tem valores muito diferentes dos seus a vários níveis, equacione conversar sobre o tema e serem o mais sinceros possível um com o outro. Não tenha medo de perder um namorado/a que pode não conseguir ser namorado/a!

6 – Entusiasmo, diversão, humor e perspetiva positiva

É dos ingredientes mais importantes numa relação. Diria que é o sumo da laranja no bolo de laranja!

O entusiasmo dos dois em querer estar juntos e divertirem-se e uma perspetiva adequada do que é uma relação saudável e gratificante, aliada a muitas e muitas “paletes” de sentido de humor, são igualmente segredos dos casais que se mantém juntos.

Não escolha pessoas com uma perspetiva do mundo perigosa e tenebrosa, queixosos, vítimas, críticos, pessimistas, credores de tudo e mais alguma coisa, pessoas que cobram constantemente ou que contruíram um castelo cheio de fantasmas no passado.

Se pode ter uma relação a cores porque escolhe viver uma a preto e branco?

7 – Compromisso, conexão, sonhos e projetos a dois

Este é um aspeto muito importante: Ele/ela quando assume um compromisso consigo, cumpre-o ou adia repetidamente e dá justificações? Porque precisa de ter uma relação com uma pessoa com quem não pode contar?

Algo igualmente importante é perceber em que fase da sua vida ele/ela está e que tipo de relação pretende. O receio de perguntar e de dizer o que realmente quer para si, pode levá-lo por caminhos sombrios e fazê-lo perder o seu tempo.

Quando entra numa loja, é o empregado que lhe diz o que precisa de comprar ou é você que diz o que necessita?

E o que significa conexão? Demonstrar genuíno interesse por aquilo que o seu companheiro se interessa, faz com que este sinta que tem interesse por ele, pelo seu mundo interior e que gosta realmente dele. Se não acontece, talvez seja porque essa pessoa está demasiado centrada em si própria.

É essencial e fundamental sonhar e ter projetos a dois, no sentido de os dois sentirem que estão a construir um algo muito especial todos os dias da sua vida.

Caso perceba que essa pessoa que conheceu há pouco tempo não tem essa vontade de ter um projeto a dois ou que eventualmente pretende apenas investir no seu próprio projeto de vida individual, e você quer isso para si, conversem sinceramente e esclareçam a situação. A vida é muito curta para perder tempo a viver equívocos!

8 – Inspiração e imaginação

Os casais mais poderosos são aqueles que conseguem inspirar-se um ao outro a crescer enquanto seres humanos, especialmente, emocional, espiritualmente e em Amor.

São aqueles que conseguem ver um no outro potencialidades, capacidades, talentos, aptidões, recursos, que por vezes o próprio não consegue ver. Aqueles que conseguem olhar muito além da imperfeição, descobrir e focar-se, com fé e determinação, no que de melhor os dois têm dentro de si!

São os que sabem amar com grandeza de espírito e ver mais além da projeção das feridas emocionais, próprias e alheias.

São aqueles que conseguem juntar a sua capacidade criativa e imaginativa e construir caminhos, pontes, jardins, atravessar mares, dar a volta ao mundo num dia, tocar as estrelas, sentarem-se no colo um do outro e conversar, mesmo quando não concordam e pensam de forma diferente.

São os casais que descobriram que não precisam de ter razão, porque pedir e aceitar desculpas tem mais valor e é um ato de amor.

Se essa pessoa para além de tudo, o inspira a desafiar-se, a sair da sua zona de conforto e a ser cada dia melhor, se o empurra para os seus sonhos, se lhe diz “vai”, se não o julga, se o admira e valoriza, se se sente em paz ao seu lado, se também é delicioso estar com ela no mais profundo silencio, se os dois riem e brincam como crianças, se conversam horas a fio e se sente aceite e nunca tem vontade de ir para casa, se sente que é seu amigo/a…

Talvez possa ser a pessoa que sempre esperou e ainda não tinha encontrado.

Por vezes, é preciso esperar até ela chegar, e dizer algumas vezes pelo caminho: “não és tu que que eu quero!”

Mas sabe uma coisa? Enquanto estamos a fazer o caminho sozinhos, vamos conhecendo-nos e percebendo com quem queremos fazer o caminho a dois. Esse é um tempo de descoberta que vai possibilitar ter relações verdadeiramente enriquecedoras. Por isso, se está sozinho há muito tempo, não tenha pressa, disfrute, essa pessoa vai chegar à sua vida quando menos esperar. Ou será que é quando estiver preparado para o viver? Talvez! 

E quando chegar… não olhe para trás, corra e abrace-a!

É provável que também ela tenha feito um longo caminho e esperado muito para a/o encontrar e conhecer!

* Especialista em mediação familiar, de conflitos e aconselhamento conjugal

IN "VISÃO" -21/05/21

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