03/06/2021

JÚLIO MACHADO VAZ

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Telemedicina

A 6 de Maio o "La Vanguardia" publicava um artigo intitulado "O apoio médico virtual em alta, incluindo depois da pandemia". Não foi o vírus a trazer a telemedicina, qual dama de honor, mas as limitações à prática clínica dos últimos tempos tornaram-na preciosa e mais visível.

Para ultrapassar distâncias, monitorizar valores analíticos, dar a simples (?) palavra que impede alguém de se sentir abandonado(a). No caso dos mais velhos, menos familiarizados com a tecnologia, foram amiúde os mais novos a mobilizarem-se para lhes colocar à frente monitor e profissional de saúde "prontos a vestir".

Diz-se que o Diabo está nos detalhes. Bom, eu acrescentaria Deus e a prática clínica sensata! No referido artigo afirma-se que 82% dos espanhóis são a favor de consultas online, mas quando se trate de doenças menores ou secundárias. Ou seja, como os autores sublinham, a questão fundamental é decidir o que podemos diagnosticar sem consulta presencial.

Tudo o que diga respeito a actos burocráticos - e os profissionais de saúde estão soterrados por eles... - e acompanhamento de situações crónicas é muito mais passível de ser resolvido pela tecnologia. Um bom exemplo é o actual auto-agendamento da vacinação, que claramente agilizou o processo, aligeirando a carga sobre os ombros dos profissionais. Mas atenção!, a tecnologia também precisa de se encontrar de "boa saúde" para ser útil. Se os equipamentos são pouco fiáveis e a articulação entre as unidades de saúde falha, as vantagens podem tornar-se um pesadelo para técnicos e utentes, já ouvi relatos de pôr os cabelos em pé e a paciência de rastos! Saliento, a propósito, que a Academia Americana de Médicos de Família distingue entre telessaúde e telemedicina. Esta usa a tecnologia para o cuidar à distância, a primeira fornece a tecnologia e os serviços que o tornam possível.

Ainda e sempre o bom senso, dou a palavra a Deidre Keeves da UCLA Saúde em Los Angeles: "Não estamos a utilizar a tecnologia para substituir a relação médico-doente. Estamos a usá-la para complementar e apoiar essa relação". Ámen!

Num inquérito publicado em Janeiro nos Estados Unidos 15% das pessoas preferiam recorrer apenas à telemedicina, 44% diziam continuar a privilegiar a consulta presencial - que já não dispensa a tecnologia... - e 42% escolhiam a combinação de cuidados presenciais e virtuais. Essa combinação é ainda tímida, mas não nos iludamos, a melhoria do presente e o reforço dos alicerces de um futuro sólido para o bem-estar dos cidadãos e a sobrevivência do Serviço Nacional de Saúde exigem o investimento imediato e eficaz nesse equilíbrio.

Exagero? Perguntem a quem está no terreno. Como eu faço, órfão que sou de dons divinatórios. 

* Psiquiatra

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"

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