08/05/2021

MANUEL MOLINOS

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Ficar mal na foto 

com a foto de Odemira

A Europa social, ou a tentativa dela, que vai ser debatida hoje, no Porto, pelos chefes de Estado e de Governo da União Europeia, é exatamente a mesma que não conseguiu responder ao desafio migratório mais grave desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A mesma que ainda não foi capaz de desenvolver e aplicar políticas de asilo mais justas e eficientes. É esta Europa que Portugal recebe hoje. Um anfitrião que também fica mal na fotografia com as fotografias de Odemira que mostrou aos país e ao Mundo.

Temos motivos para nos envergonharmos pelos retratos de Odemira? Temos. Por diferentes razões. A principal é que foi preciso um surto de covid-19 para que Governo e restantes autoridades despertassem hipocritamente para uma situação conhecida há vários anos. Um problema que não colocava apenas em causa a saúde dos imigrantes, mas de todos os outros que os rodeiam. Os mesmos que até condenam as condições sub-humanas e a exploração de trabalhadores agrícolas imigrantes, desde que não os levem para perto de sua casa.

A segunda razão é que em 2018 ainda não existiam "task forces". Apenas grupos de trabalho. Como o que foi criado nessa data por doze entidades, sim doze, para tratar da questão da nova agricultura intensiva. Câmara Municipal de Odemira, CCDR Alentejo, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, entre outras organizações, prometeram refletir sobre a mão de obra, integração de imigrantes e sua eventual fixação na região. Talvez tenham refletido. Resolvido é que não.

Pelo meio, ficaram alertas. Muitos, incluindo de quem refletiu, mas não resolveu. Houve ainda inspeções, investigações e centenas de empresas criadas na hora com capital social de um euro.

Ontem, às escondidas da noite, dezenas de trabalhadores foram realojados. Hoje, a Europa senta-se à mesa à procura de ações concretas para uma Europa mais social. Para a história, pelo menos, ficará mais uma fotografia.

* Director adjunto

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 07/05/21

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