23/01/2021

PEDRO BACELAR DE VASCONCELOS

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Eu voto Ana Gomes

Não é novidade. A 24 de setembro de 2020 expliquei aqui as razões do meu apoio a Ana Gomes: "Perante uma conjuntura perversa que ameaça o planeta e o futuro das gerações mais jovens, que compromete a confiança nas instituições democráticas e mina a solidariedade europeia, precisamos de uma presidência independente dos interesses instalados que nos conduziram a este pântano, de uma voz forte e destemida, de uma vontade resoluta que aponte caminhos novos e nos devolva a esperança. Não vejo (o presidente cessante) talhado para tal missão, mas há uma mulher com provas dadas na solidariedade com a "causa perdida" - dizia-se! - do povo de Timor-Leste, no combate infatigável contra a corrupção, na exigência de respostas para as alterações climáticas, na defesa da democracia e da coesão social, dentro e fora de portas. Ana Gomes demonstrou, em todas as funções institucionais que assumiu, uma notável coerência, ousadia e fidelidade às causas concretas que motivam a sua intervenção pública. É esta a alternativa que a República reclama!". Insisti ao longo dos últimos cinco meses na importância destas eleições e na absoluta necessidade de evitar a sua irresponsável desvalorização. Com raras exceções, ninguém quis ponderar com a devida antecedência as consequências perversas da eleição do presidente em pleno estado de emergência!

Apesar de tudo, há sinais de esperança. Era imensa a fila que se formou a partir das mesas de voto distribuídas por dois pavilhões ao fundo da Rua Alves Redol, e que subia até à Damião de Góis, tomando depois a direção do Marquês, para infletir mais adiante e descer, por fim, até ao fundo da Rua de Cervantes. Um cordão humano quilométrico que envolveu o quarteirão inteiro onde se localizam os campos de jogos do Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da Câmara Municipal do Porto. Do fundo da Rua de Cervantes até à mesa, cerca de hora e meia ao frio e ao Sol de um domingo de inverno! Em desfile processional, numa devoção quase religiosa, não se fazia ouvir qualquer protesto ou expressão de impaciência, mesmo quando um jovem de aparência frágil desmaiou, sendo logo amparado pelos mais próximos e pela agente da proteção civil presente no local. Todos mascarados, cada um mantendo distância adequada para o seguinte, mais gente nova do que é habitual encontrar nestes locais e circunstância. Serenos, compenetrados da solenidade da missão que para ali os convocou. O espetáculo repetiu-se pela generalidade das mesas de voto antecipado que se distribuíram pelo país. Foi uma afirmação de cidadania, com gestos de um civismo exemplar que testemunhei com surpresa e deslumbramento. No domingo, pela dignidade do voto, em defesa da democracia, vamos votar. Eu voto Ana Gomes.

*  Deputado e professor de Direito Constitucional

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 21/01/21

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