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A incúria de
um governo socialista
Corremos o risco de perder mais uma semana para consertar um erro que não deveria ter ocorrido no Natal. E os efeitos destas novas medidas só se irão fazer sentir após duas semanas.
Nos anos 70, foi realizado um estudo com crianças de quatro anos que ficou conhecido, até aos dias de hoje, como o teste do marshmallow. A sua importância científica foi de tal ordem que ainda hoje este teste é referenciado em vários estudos e ganhou uma reputação internacional junto dos seus pares. A simplicidade do teste consistia em avaliar a força de vontade das crianças e as estratégias que encontravam para ultrapassar o seu impulso imediato. No centro de uma sala do jardim de infância, estava uma mesa com um tabuleiro cheio de doces que era apresentado à criança e a quem se pedia para escolher o doce de que mais gostava. O mais difícil viria a seguir: o investigador explicava à criança que se esperasse por ele enquanto tivesse que se ausentar para ir tratar de um assunto, no seu regresso, a criança poderia comer dois doces. A observação recaía sobre uma criança de 4 anos, fechada numa sala, com um tabuleiro cheio de doces à sua frente, durante cerca de 15 minutos e sobre a sua decisão. Quem esperava tinha direito a dois doces, quem não conseguisse aguardar pelo investigador, comia só um. O resultado, que pouco interessa para aqui, foi de que um terço dominou a sua gulodice até ao regresso do investigador, outro terço não resistiu e levou de imediato o marshmallow à boca e os restantes foram cedendo ao longo dos 15 minutos. Reverência seja feita às crianças que compreenderam que iriam ganhar um doce extra, recompensa da sua força de vontade e de autodomínio.
Em adultos, esta perceção está mais do que adquirida e já temos desenvolvida a capacidade de analisar situações idênticas, prevendo as consequências da nossa impulsividade. Ou não.
O governo socialista, liderado por António Costa e, neste momento de crise, por Marta Temido, tem demonstrado a sua inabilidade para lidar com a pandemia que se instalou entre nós. Se no início tiveram todas as condições para procurarem soluções para os problemas que se apresentavam, hoje, passados 10 meses, acusam um desnorte que não pode ser ignorado ou desculpado. O auge desta desorientação e falta de rumo evidenciou-se com a decisão política de aligeirar as medidas restritivas na época do Natal, numa tentativa de reconciliação com os portugueses, comprando o seu sossego com uma liberdade que custará caro a muitas famílias. Tal e qual um pai que não quer ouvir mais o seu filho e lhe dá o que ele quer para a mão, mesmo sabendo que irá ser prejudicial para a criança.
Assim foi. Tivemos um governo de esquerda que se quis armar em liberal e tomou a decisão de não impedir as famílias de se juntarem para celebrar o Natal, contrariamente ao que os seus congéneres europeus fizeram. Em simultâneo, a tónica do discurso do Primeiro-Ministro incidia sobre a vacina que iria chegar em janeiro, altura em que se daria início ao programa nacional de vacinação. Dito assim e neste seguimento, até parecia que em janeiro todos poderíamos respirar de alívio. E talvez assim tivesse sido, caso não estivéssemos a pagar o preço fatal do presente envenenado que nos foi dado pelo governo. A situação está caótica e a sensação é a de um naufrago que sobrevive ao naufrágio e chega à praia com muito esforço e morre. Com a vacina à porta, não havia dúvidas que só tínhamos de manter os números, que ainda eram aceitáveis, e sobreviver até toda a população estar vacinada, sem grandes devaneios. Em vez disto, comemos o marshmallow na Consoada, com o alto patrocínio dos nossos decisores políticos. O resultado foi aquele a que assistimos nesta semana: em apenas 24 horas, Portugal registou um aumento de casos superior a 5%, o que nunca tinha acontecido.
Como se não bastasse, desde sexta-feira passada que saem notícias a anunciar as medidas que deverão ser implementadas no decorrer desta semana. Não se compreende a hesitação em tomar uma decisão concreta perante os indicadores que já estão disponíveis para os responsáveis políticos, e estar a aguardar a reunião com o Infarmed convocada para terça-feira. Corremos o risco de perder mais uma semana para consertar um erro que não deveria ter ocorrido no Natal, sendo que os efeitos destas novas medidas só se irão fazer sentir após duas semanas da sua implementação.
À conta de uma benevolência calculada e populista deste governo, temos famílias que não estarão completas no próximo Natal e outras que verão os seus rendimentos voar pela janela fora, com o encerramento do comércio e da restauração. Os apoios prometidos pelo Estado às PME’s tardam em chegar, ou melhor, quando chegam a Portugal, ficam retidos nos Ministérios para outros gastos, sem nunca alcançarem a economia real e as mãos do comerciante ou do empresário que já está sufocado com esta arritmia económica.
Há, manifestamente e sem qualquer equívoco, uma incapacidade em gerir esta crise pandémica demonstrada pelo governo e espelhada pelos números resultantes de uma opção exclusivamente política, há duas semanas atrás. Mais uma vez, corremos atrás do prejuízo, porque não houve coragem política para manter uma estratégia que, a bem ou a mal, permitia que estivéssemos abertos e com a economia à média luz. Neste momento, após a festa, patrocinada pelo governo socialista e pela sua Ministra da Saúde, o salão de baile encerrará para obras e as luzes apagar-se-ão por tempo indeterminado, enquanto que os convivas se encostarão às paredes à espera que chegue o amanhecer.
IN "i" . 11/01/21
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