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Testemunho:
"Ter medo é justamente o que o medo quer".
Eu não tenho medo do COVID 19.
Deixa-nos em paz!
O estigma existe. Já olham para nós e para o nosso carro de lado. Se aparecemos na televisão como, ficamos carimbados como positivos, como os doentes de SIDA e/ou Hepatite C. Não tenho medo. Segundo os Centro de Controle da Doença e Prevenção em Atlanta, sou doente de risco. Sou mãe de três adoráveis criaturas e morreria por eles. A ciência vai ocupar-se deste vírus. Até lá, os médicos tratam os doentes com medicamentos para outras patologias, sem estudos empíricos. Continuam os ensaios in vitro. Evidence Based Medicine exige-se. Não existem ainda ensaios clínicos e, a China vai ganhar muitos pontos à Europa.
Sou positiva ao nCoV19. E o estigma existe. Estamos rotulados nas
fichas da PSP. Como outras mulheres, sou mãe de três filhos e estão
todos bem, mas angustiados, porque jovens. A morena Francisca, a número
um interrompeu os seus estudos de fine art em Camberwell em
Londres, antes que o insano e infetado como eu do Boris Johnson desse
cabo da segurança dela. Veio com a sua amiga irmã, e a minha filha de
coração, Maria, e estiveram 15 dias fechadas na nossa casa de Lisboa.
A
Constança, estudante do 2º ano de psicologia, fechou-se em casa dos pais
do seu namoro, o Afonso, um jogador de futsal do Sport Lisboa e Benfica
e da seleção nacional de futsal. Não pude abraçar as minhas princesas
quando regressei de Israel. E o meu príncipe mais pequeno, o Joaquim
confinou-se com o seu pai. E percebeu a importância do amor, nos seus 17
anos e o ciclo de estudos interrompidos devido a este período
pandémico. Eu confinei-me entre artigos de opinião, entrevista a Anne
Backhaus do Der Spiegel (a publicar na próxima semana) e informação à
Sara de Melo Rocha a primeira a entrevistar-me sobre o meu estudo em São
Tomé e Príncipe, direto por Skype ao Miguel Ribeiro da SICNotícias. A
vida continua. Quero pedir às pessoas, portugueses, que se aguentem
firmes. Sou grupo de risco e testei positiva, contra a vontade do SNS.
Em Abrantes onde estava na altura, a barraca da Cruz Vermelha Portuguesa
estava montada sem qualquer equipamento e ou profissionais. Levei a
teste uma senhora de 67 anos que tinha vindo como eu de Isarel, com
escala em Madrid. Os médicos, uma angolana outro ucraniano, disseram que
eu não era elegível. A Mariazinha testou negativa à colheita de
zaragatoa. Completada a quarentena, eu testei positiva no sábado
seguinte, nos Laboratórios Germano de Sousa, laboratório COVID 19,
certificado e credível, 100% português, por insistência minha.
Como
eu, milhares de portugueses testarão positivos. É determinante testar,
sem fim e sem limites. Este vírus veio sem margem de negociação. Estudo
crises e emergências em saúde pública há anos. Avisei a Ministra da
Saúde. Disponibilizei-me para ajudar. Nem respondeu.
Graças aos
cientistas, parafraseio o José Germano de Sousa (filho) os médicos
portugueses são os melhores! E são. E dão uma luva branca a este
Ministério. Conseguiremos atingir a imunidade. Mas até lá, nós, os
portugueses, precisamos de amor uns dos outros. Mais do que informações
negras e estatísticas de morte. Precisamos de mensagens positivas. De
pessoas que recuperam como o meu querido Padre António Pereira, meu
orientador espiritual, há muitos e muitos anos. Tantos como a existência
da minha filha número um, que ele batizou.
Valeria a pena morrer por ele, mas ele recuperou. Agradeço ao grande
infeciologista Prof. Doutor Francisco Antunes, catedrático jubilado da
Faculdade de Medicina de Lisboa que me orientou para eu orientar o
superior dos Monfortinos e os padres mais idosos. Precisava a Ministra
da saúde ter sido mais humilde e ter aceite, a minha ajuda, pro bono,
mas ignorou as minhas mensagens. Enquanto isso, o seu protegido
Francisco George, escreveu-me mensagens de(S)amor, falando das insígnias
que recebeu dos seus governos amigos e da Ministra atual, chamemos-lhe
préstimos ao Estado. A graça Freitas tem sido ferozmente atacada por
ele. Isso escreveu a Clara ferreira Alves, grande e singela pluma, sem
caprichos e papas na língua. E isso obrigou-me a escrever um email cordial a João Vieira Pereira, dizendo o que sinto da imprensa escrita daquele grupo.
Num momento em que o País e o Mundo atravessa um egocentrismo e o
egoísmo cresce vertiginosamente com o salve-se quem puder, aplaudo a
crónica da Pluma Caprichosa em que me revejo.
E este
artigo de opinião com o maior infeciologista português, que esta a
monitorizar a minha infeção à distância e a do Padre António Pereira,
que liderou a minha peregrinação e viagem a Israel.
E
pergunto-lhe, desafiando-o: não quer começar a publicar no seu jornal
histórias de sucesso com tratamentos de pessoas que se livraram deste
inferno? Em vez de ouvir e publicar, permita-me, como diz a Clara
Ferreira Alves uns quantos próceres, cheios de si? E que em nada
conseguem mobilizar as pessoas, iletradas e cheias de medo? Sabe, espero
que este País e o mundo fiquem melhores e com menos ridículos vaidosos
que se atropelam em comentários e leis vazias ou cheias de nada, em que
todos falam e nada têm para dizer.
Por amor a Deus: conte
história de sucesso. O SNS vai colapsar. Já não há resposta para coisa
alguma. Mobilizei milhares de euros e vão ser doados 10 aparelhos
através de uma empresa a quem pedi ajuda, e peço que fale com o Daniel
Ferro Presidente do CHLUN - Santa Maria - ligado à minha faculdade. Por
amor de Deus: façam diferente. Maio vai dizimar vidas em barda. Será um
maio cheio de Primaveras negras. Ajude a celebrar a vida dos que
resistem e perceber porque pessoas vulneráveis resistem e outras não.
Falem ao Prof. Francisco Antunes. Chega de Georges da vida. Que me
escrevem "mensagens de amor" a dizer que não lê os meus artigos mas os
amigos lhe contam. E me (des)informa sobre as insígnias que os amigos
lhe deram.
Tenho assistido a muita incompetência que me consome. Esta pandemia
veio matar a nossa existência social. Já somos proibidos de tudo: de ver
os que amamos, de viajar e de deslocar, distanciar socialmente e até de
ser falsos testes de diagnóstico. Movem-me medonhos sorrisos da tutela e
angústias dos familiares dos mortos ou dos doentes. E onde fica a
palavra de conforto aos familiares de doentes e de pessoas infetadas e
com futuro incerto? Ocupo-me de tudos e nadas. Desde o diagnóstico
positivo, ainda mais presa a mim e aos meus amores, dou-me conta de dias
passados a telefonar, agora não de 3 em 3 horas, mas mais espaçadamente
ao Padre António Pereira. Não tratado pelo fantástico SNS, mas pelo
Professor Francisco Antunes. Atravesso sonhos entre imagens de Fátima e
arredores, observando as vacas em pasto num campo em frente às janelas
que abro de manhã. E sonho com um futuro que vai chegar. Mesmo que ele
não queira. Continuo positiva como muitas portuguesas e portuguesas e
seremos considerados anticorpos. Eu duplamente. Passei por malária duas
vezes. E dispenso hidroxicloroquina e zithromax. Metade dos portugueses
comprou e tem em stock, assambarcando (como referiu a Bastonária da
Ordem dos Farmacêuticos) os medicamentos das farmácias, a quem precisa,
de facto. Estes medicamentos apenas devem ser ministrados por médicos em
estado mais avançado da doença. Apelo aos portugueses: sejamos fortes e
resilientes. Esta doença vai atingir milhares de nós. Não podemos ter
medo dela. E eu não tenho medo, que é, parafraseando Alexandre O"Neill,
"...justamente o que o medo quer".
* Especialista em Comunicação de Crise em Saúde Pública. Professora
Convidada no Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública, FMUL
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
08/04/20
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