21/12/2020

RUTH MANUS

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Pequeno manual para 

não ser um idiota

 neste Natal

 Não, uma festa com 20, 30 pessoas não pode ser inofensiva no momento que atravessamos. Mesmo que dure pouco tempo.

 Esse é mais um texto que começa com a frase “sim, estamos todos de saco cheio de tudo isso”. Porque estamos mesmo. Em Portugal, no Brasil, no Canadá, na Bélgica, em Angola, na China. Todos querem viver algo – nem que seja uma noite – dentro da antiga normalidade. E o Natal se apresenta como uma ocasião muito tentadora por uma série de razões. Mas precisamos racionalizar e conversar um pouco sobre isso.

1 Não use “as tradições” como desculpa para ser inconsequente

Não. O fato de todo ano haver uma importante festa no jantar de 24 e no almoço de 25 desde que você nasceu, não é desculpa para jogar a pandemia para o alto. Frequentemente, a noção de tradição é utilizada como forma de tentar justificar coisas que já não são adequadas na atualidade. Não faça isso com o Natal de 2020.

2 Não ache que a sua família se vai tornar menos unida por não haver festa de Natal

Se a sua família tem uma base genuína no amor e na afetividade, não vai ser a ausência de uma festa que reúna todo mundo que vai fazer com que os laços se tornem mais fracos. Pelo contrário, não fazer uma festa com todos juntos é que é sinal de respeito e cuidado. E se sua família não está baseada no afeto constante, desculpe avisar, mas infelizmente sua festa de Natal é apenas uma fachada.

3 Não coloque a culpa nas crianças

Muita gente diz que só vai fazer festa por causa das crianças. Crianças não precisam de todos os tios e primos para se divertirem. É absolutamente possível fazer uma comemoração doméstica sem aglomeração e proporcionar uma noite maravilhosa. Crianças precisam de pouco. Crianças não vão crescer traumatizadas por causa de um Natal diferente. Mas vão crescer tristes se perderem os avós mais cedo do que o necessário.

4 Não saia fazendo compras como sempre fez

Sim, precisamos ajudar a economia. Obviamente não estamos defendendo um Natal de consumo desenfreado, mas pregar um consumo zero nesse Natal também não me parece saudável. Mas nada de lotar em shoppings centers, tentando repetir os hábitos dos outros anos. Compras online, compras de pequenos produtores, novas soluções.

5 Não ache que “só umas horinhas” são “só umas horinhas”

Não, uma festa com 20, 30 pessoas não pode ser inofensiva no momento que atravessamos. Mesmo que dure pouco, mesmo que ainda se tente ficar de máscara. As pessoas vão comer e beber. Vão falar sem máscara. As pessoas estarão em lugares fechados. Não arrisquem.

6 Não coloque a culpa na religião

Assim como é fácil justificar a nossa vontade de comemorar “culpabilizando” as crianças, também é muito fácil fazer o mesmo com a religião. Não, não é pecado deixar de reunir a família num ano de pandemia. Não, você não vai para o inferno por respeitar as normas de saúde pública. Não, Deus não vai se ofender se não houver peru.

7 Não decepcione o aniversariante

Pergunte-se o que Jesus preferiria. Questione se ele, sabendo do risco para a saúde das pessoas, em especial os idosos, quereria grandes festas em sua homenagem. Se ele ficaria satisfeito com famílias enormes aglomeradas, com enorme risco de contaminação (de membros da família e, posteriormente, de terceiros), para festejar o dia do seu nascimento. A resposta é muito fácil.

8 Lembre-se que no ano que vem, há Natal outra vez

No ano que vem também há Natal. O que não sabemos é se ainda estaremos aqui. Nenhum de nós sabe – e é assim todo ano. O que sabemos é que a probabilidade de estarmos juntos no ano que vem é bem maior se não contrairmos Covid-19. Bem como sabemos, que se formos diligentes nesse Natal, é provável que em 2021 os abraços e festejos sejam retomados sem a dor de algum membro da família estar faltando.

 IN "OBSERVADOR" - 19/12/20

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