27/12/2020

INÊS CARDOSO

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Vacina, essa nova esperança 

A palavra esperança tem origem no latim "spes", que significa ter confiança em algo positivo. O mesmo termo deu também origem ao verbo "sperare", do qual deriva o nosso esperar. 

O que significa que, indo à raiz em que as duas palavras se ligam, a esperança é uma espera inquieta e ativa, pressupõe uma ação consistente e persistente para que os objetivos se concretizem. E embora seja o oposto do desespero, as situações mais desesperantes frequentemente originam um novo esperar.

No "marco histórico" da chegada dos primeiros lotes de vacinas a todos os países da União Europeia, a ministra da Saúde aludiu precisamente a "uma nova esperança". Que não pode ser um mero otimismo de quem está cansado de um ano para esquecer e anseia virar a página, mas o resultado consequente da ação inexcedível da ciência, que ganhou uma centralidade absoluta na nossa vida.

O caminho apenas começa a abrir-se hoje, cheio de curvas e cruzamentos em que corremos o risco de nos desorientar. Logo nas primeiras horas perdeu-se o simbolismo de total unidade dos estados-membros, que Ursula von der Leyen tanto se esforçou por sublinhar, com a Hungria a arrancar para a vacinação antes dos parceiros. Não que essa diferença de horas tenha algum efeito prático, mas traduz precisamente a distância entre os apelos políticos e a real distância que separa os países numa corrida que vai ter velocidades completamente distintas em diferentes partes do Mundo.

No arranque da operação, o Governo lançou um portal que responde a dúvidas sobre a vacina, os efeitos secundários, os canais adequados para contactar os serviços ou os períodos estimados para cada cidadão aceder à vacina, inclusivamente com um simulador em que cada um pesquisa a fase em que está inserido. A comunicação será essencial para inspirar confiança e para que o receio que ainda subsiste possa gradualmente desvanecer-se.

Central na missão gigantesca do plano de vacinação, o Serviço Nacional de Saúde terá ainda de recuperar gradualmente capacidade para acudir aos doentes não covid. A tantos milhares que este ano viram consultas adiadas, cirurgias canceladas, tratamentos interrompidos. É para eles, também para eles, que precisamos de renovar a esperança.

*Directora

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - HOJE

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