14/10/2020

RICARDO LEITE PINTO

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Oito meses de Covid

Dir-se-á que a estratégia é não ter estratégia e assim acomodarmos passo a passo as soluções a tomar. Mas isso exigirá muito civismo “sueco”. 

Nem sempre aprendemos com o passado. Ou porque julgamos que o passado não tem nada para nos ensinar ou porque somos alunos cábulas. As pandemias, pela imprevisibilidade e novidade, são um bom teste para se avaliar dos resultados da aprendizagem. E o que avulta na actual situação é uma razoável indefinição quer dos decisores públicos quer dos cientistas como se a história dos últimos oito meses servisse para pouco.

Em rigor ajudou a confirmar  duas ideias.

Uma delas é a da resistência aos confinamentos gerais . Não porque não pudessem ser encarados como boas soluções sanitárias, mas porque o custo económico é enorme. E ainda assim aprendeu-se qualquer coisa do ponto de vista da saúde: que utilidade teria confinar Viseu ou Castelo Branco se os focos são no Porto?

Outra é a de que só com vacina disponível universalmente poderemos pôr um ponto final em tudo isto. Até lá as soluções continuam a ter apenas como referência os limites de resistência do SNS na perspectiva dos internamentos hospitalares.

Quanto ao resto não parece que exista uma estratégia. Ou, pelo menos, protocolos claros e rigorosos em como proceder. Um exemplo que todas as semanas tem batido à porta: que fazer com um aluno contaminado em sala de aula? Vai para casa (ou para o hospital) até ficar curado, é claro. E os outros alunos e professores: ficam todos de quarentena? Ou apenas os que estiveram a menos de dois metros?

Dir-se-á que a estratégia é não ter estratégia e assim acomodarmos passo a passo as soluções a tomar. Mas isso exigirá muito civismo “sueco” e grandes doses de responsabilidade individual e auto-controlo. Coisas que os portugueses não têm em abundância como o passado nos ensina.

Mas não seria uma má solução se todos os  cidadãos respeitassem as boas práticas e estas, por sua vez, resultassem de orientações simples, claras e coerentes e que não mudassem  ao sabor das conferências de imprensa. Essa será, talvez a principal lição a retirar de oito meses de pandemia.

* Professor universitário

IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 13/10/20

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