01/07/2020

JOSÉ CARLOS VASCONCELOS

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Princípios e valores, “mas”…

Há comentadores que entendem não haver hoje em Portugal uma oposição à altura e se entendem à altura de ser

1 O Dia Mundial do Refugiado foi no passado dia 20 e o Presidente Marcelo assinalou-o sublinhando que “os refugiados são pessoas como nós, o humano é universal e todas as vidas contam”, sendo “Portugal um país aberto aos outros. De valores humanistas, de solidariedade e justiça, que fazem dos portugueses um exemplo mundial no acolhimento e integração dos refugiados”. Muito bem, temos até das legislações mais avançadas nesse domínio e na proteção dos emigrantes. Não fazemos, aliás, mais do que a nossa obrigação, atendendo inclusive à diáspora de milhões de portugueses ao longo do tempo.

Muito bem, “mas”… Na prática, muitos “mas”. Desde logo, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Que esteve e está tragicamente em foco, no banco dos réus, com a morte nas suas instalações, vítima de tratamento bárbaro, de um cidadão ucraniano. E que foi agora uma vez mais referenciado, em relatório de uma credível instituição internacional, por em 2019 ter detido nas suas instalações, para além do tempo previsto em convenção internacional que o País subscreveu, um total de 77 menores. O SEF justifica, “mas” (mais um…). Há anos, aliás, que há críticas e recomendações da Provedoria de Justiça, as últimas da atual provedora, mormente sobre o “isolamento excessivo” dos detidos, a que não é dado qualquer seguimento.

Não pode ser. Além da urgente posição, que já aqui reclamei, sobre o caso do ucraniano assassinado, impõe-se fazer muito mais do que o MAI já anunciou. Que Governo e Parlamento assumam as suas responsabilidades; e que o Presidente também intervenha e quando fizer declarações “comemorativas” como aquela não esqueça realidades que negam os princípios e valores que se proclamam.

2 Como se já não bastasse a Covid-19 a infernizar-nos a vida, para além da abundante indispensável informação sobre a pandemia, suas manifestações e consequências, somos fustigados por chusmas de comentários e variações, a seu respeito, que não interessam nem ao Menino Jesus. E que só servem, muitas delas, para nos dar um certo retrato, não muito lisonjeiro, dos seus autores. Incidindo em particular sobre o que Presidente da República e primeiro-ministro fazem e não fazem, dizem e não dizem. Trata-se do exercício da liberdade de opinião, tudo bem. No entanto já é difícil suportar tanta repetição por um lado e contradição por outro, tanta divagação de mais e coerência de menos.

O que muitas vezes julgo acontecer, e me penaliza pela ideia que tenho da responsabilidade de opinar ou comentar nos média, sobretudo em circunstâncias difíceis como as atuais, é uma certa tendência para uma infundada crítica fácil, com falta de capacidade de análise (ou de seriedade?) e em alguns casos de respeito pelos outros. Fazendo amiúde juízos com base no que já se sabe quando se escreve ou fala, e não com base no que se sabia quando se tinha de tomar, ou mesmo arriscar, uma decisão. Além disso, há comentadores que entendem não haver hoje em Portugal uma oposição à altura e se entendem à altura de ser essa oposição. Outra conversa…

IN "VISÃO"
29/'6/20

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