16/06/2020

ULISSES PEREIRA

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2020, o ano em que 
as empresas falidas
 valem ouro

Quando acções que se designam de “lixo” voam desta forma é sinal que o mercado está a chegar ao seu topo.

A semana passada trouxe fortes quedas à bolsa portuguesa e à generalidade das praças mundiais. Tenho escrito com frequência sobre o meu pessimismo quanto aos próximos meses nos mercados, por isso não vou hoje repetir argumentos nesse sentido, preferindo destacar um fenómeno verdadeiramente louco que aconteceu no início da semana passada.

Nos Estados Unidos, as acções que estão falidas, ou em vias disso, simplesmente voaram em bolsa. Para terem noção da dimensão deste movimento, em cinco sessões (a última das quais na passada terça-feira), as acções cotadas a menos de 1 dólar no índice Russel 2000 subiram em média 79%! Estamos a falar da média, o que significa que inúmeras acções deste género subiram 400 ou 500% em cinco dias…

Vou dar três exemplos, para que percebam a loucura que se gerou em torno de empresas falidas. O primeiro exemplo é de uma empresa bem conhecida pelos portugueses que é a Hertz, empresa de aluguer de automóveis. Como foi amplamente noticiado, tinha declarado a falência e, em apenas três sessões, subiu 600%.

Outro caso surreal é o da Nikola Corporation. Além de já ter declarado a falência, já tinha sido anunciado que as acções seriam excluídas de negociação. Ainda assim, triplicou o seu valor em bolsa em apenas três dias.

O último exemplo desta euforia é também o mais ridículo de todos. A FANGDD (DUO) é uma empresa imobiliária chinesa (esta não é falida, nem vale menos de um dólar), na terça subiu 1100% em apenas quatro horas só porque alguém achou que era uma acção ligada ao nome "FAANG". Recordo que FAANG é o que se apelidou às grandes acções da bolsa norte-americana (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google).

Claro que, uns dias depois, estas acções já perderam praticamente tudo que ganharam. Já nem os posts no Twitter e no Reddit a apelar à compra das acções resulta. De um céu ilusório ao inferno de sempre em poucos dias.

Isto diz bem do estado de loucura a que chegou o mercado. Se juntarmos a isto, o facto de algumas corretoras estarem a cobrar 0% de comissões no "daytrade", daqueles que se dedicavam às apostas desportivas ficaram impossibilitados de o fazer devido à suspensão dos eventos desportivos e de muitos nos Estados Unidos terem ficado em casa devido à pandemia, percebemos que uma nova onda de investidores entrou no mercado. Não é por acaso que o número de novas contas abertas em corretoras norte-americanas bateu recordes neste período. Verdadeiros jogadores que negoceiam no mercado accionista como se de "bitcoins" se tratasse ou como se fosse uma aposta num jogo de ténis entre o Federer e o Nadal.

Infelizmente, quando acções a que costumamos designar de "lixo" voam desta forma é um sinal de que o mercado está a chegar ao seu topo. Infelizmente, para a maioria destes investidores que agora entram nestas alturas no mercado a história não tem um final feliz. E não creio que desta vez seja diferente. Estranho mundo este em que empresas falidas sobem 500% em apenas dias. Bem-vindos ao mundo da fantasia e ilusão.

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
15/06/20

* Ulisses Pereira não detém qualquer dos ativos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui

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