15/06/2020

TERESA GUEDES

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A Preservação da natureza
 não pode ficar em extinção

O ritmo das mudanças ambientais naturais aumentou dramaticamente: terramotos, o aumento da temperatura e consequente degelo, entre muito outros. Mas, também a alteração provocada pelo homem sofreu acelerações, a substituição de terrenos selvagens para urbanização ou cultivo aumentou a um ritmo acelerado. O equilíbrio dos sistemas essenciais para a vida é interrompido e, embora a natureza tenha uma resiliência notável, não tem tempo suficiente para recuperar todas estas alterações.

Nos primórdios do século XX, nada fazia prever que se dava início ao que atualmente é considerada a sexta extinção em massa em curso no planeta Terra. Hoje, o ser humano debate-se com um panorama, no qual, de oito milhões de espécies no mundo, existem cerca de um milhão de animais e plantas sob ameaça de extinção.

Este cenário negro, mas realista, descortinado pelo relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos (IPBES), publicado pelas Nações Unidas em 2019, pode tornar-se permanente e irreversível se alterações profundas e céleres não forem adotadas. As populações selvagens da maioria dos principais habitats terrestres caíram em pelo menos 20%, principalmente desde 1900. Pelo menos 680 espécies de vertebrados foram levadas à extinção desde o século XVI e mais de 40% das espécies de insetos estão em declínio, estando já 1/3 classificadas como ameaçadas.

Isto demonstra que cada dia é um passo dado na direção do abismo para centenas de espécies em risco e salvar estas espécies de uma extinção quase certa é uma corrida contra o tempo, na qual os parques zoológicos contribuem incrivelmente para amortizar estes números tão preocupantes.

A biodiversidade é um quadro maravilhoso onde se pintam todos os seres vivos que existem na Terra, com a sua diversidade genética e ecossistemas distintos. Nesta pintura não existem personagens secundárias ou figurantes. Cada uma destas espécies desempenha um papel fundamental e tem um protagonismo que não lhe pode ser retirado. A ausência de qualquer um destes atores pode alterar o curso da história, encaminhando-nos para um desfecho que não é desejável.

Atualmente, todas as causas remetem apenas a um fator: o Homem. As principais causas de extinção são a degradação e a fragmentação dos habitats naturais, resultado da abertura de grandes áreas para implantação de pastagens ou agricultura intensiva, urbanização, poluição, incêndios florestais, indústria madeireira e mineira, e caça. Esses fatores reduzem o total de espaços disponíveis para as espécies e aumentam o grau de isolamento entre as suas populações, diminuindo a diversidade genética, o que pode conduzir, eventualmente, à extinção de espécies.

Outra causa importante que leva espécies à extinção é a introdução de espécies exóticas, ou seja, aquelas que são levadas para além dos limites de sua área do seu habitat natural. Essas espécies apresentam vantagens competitivas e favorecidas pela ausência de predadores e, aproveitando-se dos espaços criados pela degradação dos ambientes naturais, dominam os nichos ocupados pelas espécies nativas, eliminando-as.

Os parques zoológicos são agentes ativos na garantia de que espécies que se encontram esbatidas e ameaçadas, não se deixem apagar nos abismos da extinção. A questão é: como é que os parques zoológicos desempenham o seu papel e porque são necessários?

A missão de conservação das espécies é cumprida em várias linhas de ação. Primeiramente, a reprodução. A forma mais intuitiva da preservação das espécies é através da continuidade das mesmas garantindo uma linhagem genética pura.

De seguida, existe o reconhecimento de que a mudança começa com a consciência de que algo está mal e de que a ação é necessária. É aqui que o papel dos parques zoológicos volta a ser reiterado, desta vez enquanto entidades que sensibilizam e educam a comunidade para a profundidade dos desafios que a fauna atravessa.

Os parques zoológicos permitem, às populações que os visitam, dar a conhecer inúmeras espécies, que por razões de distância geográfica existem apenas no imaginário ou muitas vezes são até desconhecidas pela raridade de que são alvo. A complexidade de envolver as pessoas na preservação prende-se com um lema difícil de que apenas defendemos aquilo que nos é próximo e conhecemos.

Poder transmitir às pessoas quem são os animais e as dificuldades que a vida selvagem sente, torna-se essencial para que elas também possam desempenhar um papel importantíssimo de embaixadores da natureza, ajudando a preservar.

Ao participar e divulgar programas de conservação in-situ, os zoos apoiam o restauro das populações animais nos locais de origem, reestabelecendo o equilíbrio dos ecossistemas.

É através de uma rede de parques zoológicos, à qual o Zoo Santo Inácio pertence, a Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA), que ocorre a partilha gratuitade animais. Algumas espécies estão listadas no Programa Europeu de Espécies Ameaçadas (EEP), onde existe um coordenador que sabe onde está cada um dos animais pelos zoos da Europa e que trata de juntar os potenciais "pares" ou formar bachelor groups (grupos com indivíduos do mesmo sexo), contribuindo para a manutenção das espécies e sua variabilidade genética.

Salvar a biodiversidade é um papel de todos nós, quer seja através da mudança de comportamentos individuais, quer seja através de partilha de conhecimentos e experiências, quer através de donativos e apoio a estes espaços.

Está ao nosso alcance, enquanto parte ativa do Ecossistema Terra, reconhecer os desafios que atualmente se colocam à biodiversidade e abraçar o poder que todos temos de pincelar este quadro com ações em prol da natureza. Neste caminho, o papel dos parques zoológicos, que todos os dias contam com profissionais dedicados, que colocam como prioridade o bem-estar dos animais e a perpetuação das espécies animais, não pode ser esquecido.

Há um caminho, e há vontade! É preciso persistir e não desistir. O comportamento que cada um de nós exprime será sempre observado e copiado por alguém.

Conhecer estes espaços, os seus animais e sair de uma visita ao Zoo Santo Inácio com a consciência renovada podem parecer simples gestos, mas podem significar a garantia da sobrevivência e de uma vida melhor para muitas espécies, inclusive da própria vida humana.

* Directora do Zoo Santo Inácio

IN  "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
08/06/20

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