15/04/2020

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HOJE  NO  "i"
Estudo alerta que medidas de distanciamento social podem ser necessárias até 2022

Investigadores da Universidade de Harvard estudaram diferentes cenários para a evolução da pandemia. Concluem que, sem uma vacina ou imunidade de grupo, medidas de distanciamento social interminentes podem ser necessárias nos próximos dois anos mas os modelos sugerem se forem muito restritivas durante muito tempo podem levar a que o pico seguinte seja maior. 

Quanto tempo durará o combate à covid-19? Investigadores da Universidade de Harvard publicaram ontem novos cenários e admitem que, na ausência de uma vacina ou de um reforço da capacidade dos hospitais e tratamentos, algumas medidas de distanciamento social poderão ter de manter-se, de forma intermitente, até 2022, para evitar sobrecarga dos serviços de saúde.
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DISTANCIAMENTO SOCIAL

O estudo publicado na revista Science traça aquela que é até ao momento a análise mais distendida no tempo para a evolução da pandemia. Os investigadores admitem que existem ainda várias incógnitas, como saber ao certo se o vírus continuará a circular depois desta primeira vaga - cenário que consideram provável - se se torna endémico como outros coronavírus ou a gripe e se, nesse caso, haverá um ou mais surtos por ano, o que vai depender da imunidade conferida pela exposição à doença.
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Se não for permanente, os modelos apontam para surtos anuais ou a cada dois anos, o que também vai depender da imunidade de grupo - como evolui a percentagem da população com defesas, que a equipa estima mais uma vez que tenha de chegar aos 70% para funcionar como barreira contra a doença. Atualmente, os investigadores estimam que a percentagem da população portuguesa infectada pelo vírus esteja entre 1% e 2%. Uma equipa do Imperial College em Londres aponta para 0,93% e, ao SOL, a matemática e e especialista em epidemiologia Gabriela Gomes, da Escola Superior de Medicina Tropical de Liverpool, calculou que possa rondar os 2%. Em ambas as projeções, que sugerem então que pelo menos 100 mil portugueses possam já ter sido expostos ao vírus, abrangem-se os casos confirmados e também uma projeção de quantas pessoas contraíram o vírus e não tiveram sintomas.
Os modelos dos investigadores de Harvard sugerem ainda que os surtos com início nos meses de outono/inverno tenderão a ter picos maiores, mas o SARS-COV-2 pode proliferar em qualquer altura. Certo parece também que, após, o levantamento das medidas, o vírus tende a reaparecer, mas a equipa constata que uma maior supressão de contactos e mais prolongada no tempo poderá levar a surtos maiores. Um alerta que poderá ser tido em conta numa fase em que a maioria dos países europeus estuda a melhor forma de reabrir a economia e planear um regresso à normalidade.
"Medidas de distanciamento social mais longas e restritivas nem sempre se correlacionam com maiores reduções do pico da epidemia. No caso de um período de 20 semanas de distanciamento social com uma redução de 60% no R0 (o número de contágios causado por cada doente infectado), o pico ressurgente foi praticamente da mesma da dimensão de uma epidemia sem controlo", lê-se no artigo. A equipa diz que os cenários apontam para as maiores reduções do pico de infeções quando as medidas conseguem dividir os casos de forma igual entre ondas - dos cenários em que as medidas de distanciamento social são temporárias, a equipa conclui que medidas com uma duração de 20 semanas (cinco meses) mas moderadas (uma redução de 20% a 40% nos contactos) produzem nos modelos as epidemias com picos menos elevados de casos e menor dimensão final.
“Medidas de distanciamento eficazes podem reduzir a incidência de SARS-CoV-2 e tornar fasível uma estratégia de rastreio de contactos e quarentena como fizeram a Coreia do Sul e Singapura”, escreve a equipa, sublinhando estar ciente dos impactos socioeconómicos de prolongar no tempo medidas de distanciamento social. "O nosso objetivo ao modelar estas políticas não é recomendá-las mas identificar trajetórias prováveis da epidemia mediante diferentes abordagens, identificar intervenções complementares como aumentar a capacidade de Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) e incentivar ideias inovadoras que expandam a lista de opção para controlar a pandemia a longo prazo", lê-se no artigo. "Não tomamos posição sobre se os cenários são aconselháveis dado o impacto económico que o distanciamento pode causar, mas notamos o impacto potencialmente catastrófico no sistema de saúde que pode prever-se se o distanciamento for pouco eficaz e/ou se não for mantido por tempo suficiente".

O artigo conclui que os testes serológicos, os chamados testes de imunidade que detetam anticorpos contra o novo vírus, são urgentes para perceber a extensão e duração da imunidade e que os sistemas de vigilância epidemiológica terão de manter-se nos próximos anos para prevenir o ressurgimento de surtos. A equipa admite mesmo que possam ter de manter-se até 2025.
Questionado ontem sobre se Portugal está a equacionar apps de geolocalização que permitem identificar contactos com pessoas infectadas, à semelhança das estratégias desenvolvidas na China ou na Coreia do Sul, o secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales defendeu que devem ser analisadas as experiências dos outros países mas considerou precoce uma decisão. “Temos primeiro de observar algumas experiências de outros países, acho isso fundamental, sabendo que isso pode interferir em muitos aspetos nomeadamente em questões de privacidade pessoal. Temos de fazer a observação do que são as experiências nos outros países para explorarmos possibilidades desse tipo, ou de outro tipo, mas, para já, parece-me ainda precoce admitir uma possibilidade nessa matéria


* Acrescentem a estas "boas" previsões o acréscimo de neuroses ou úlceras duodenais e também o mais grave, morrer à fome.

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