.
.
HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Êxodo na Índia depois de Modi ordenar
o confinamento: "A fome vai
matar-nos antes do vírus"
Nesta terça-feira a Índia tinha 1200 casos confirmados de covid-19 e 32 mortes, mas os peritos duvidam dos números oficiais, dizendo que as autoridades indianas estão a testar muito poucas pessoas.
A decisão do governo indiano de fechar fábricas e decretar o
confinamento, desde a passada quarta-feira, deixou centenas de milhares
de pessoas sem rendimento e muitos migrantes que trabalham nas cidades,
ganhando ao dia, a tentar regressar às suas aldeias natais. Sem dinheiro
ou comida, houve quem tentasse seguir a pé ou apanhar um autocarro
apinhado para voltar a casa, com cenas de multidões amontoadas nas
estações, o oposto à ideia de isolamento social. Sem recursos ou
trabalho, a fome é uma ameaça tão grande como o coronavírus.
.
"Não
conseguia pagar o quarto onde estávamos por isso não tinha escolha,
tinha de sair", disse à AFP Ranjit Kumar, que caminhou com a mulher e o
filho de 2 anos durante dois dias só para chegar a um terminal de
autocarros nos arredores de Deli. E o cenário lá era de milhares de
pessoas a tentar entrar num autocarro.
"Para sobreviver, tivemos de voltar à minha aldeia. Não havia
outra opção", contou Mamta, de 35 anos, que junto com o marido
trabalhava numa fábrica de automóveis em Gurgaon, nos arredores de Deli,
que foi encerrada por causa do coronavírus. Com os quatro filhos
caminharam cinco dias até chegarem a Sidamai, em Uttar Pradesh, a cerca
de 200 quilómetros de distância.
"A única coisa que nos manteve a andar era que não havia mais nenhum lado para ir", disse ao The Guardian.
"Mas apesar de termos chegado à aldeia, não temos dinheiro ou comida.
Não sei como vamos sobreviver. A fome vai matar-nos antes do
coronavírus", lamentou.
O mesmo explicou Mubashar, um refugiado rohingya que vive num campo em Deli, à Al Jazeera:
"Estamos a enfrentar tanto a fome como o coronavírus ao mesmo tempo.
Mas acho que a fome nos vai matar antes do vírus", referindo que sem
hipótese de trabalhar pelo menos durante mais duas semanas, já tinha
cortado as refeições para apenas uma por dia e que mesmo assim não terá
alimentos suficientes.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ordenou o
confinamento total do país de 1300 milhões de habitantes durante pelo
menos 21 dias. Quando o êxodo se tornou num problema, no domingo, o
governo ordenou que as fronteiras estaduais e distritais fossem
fechadas, dando ordem para as autoridades locais organizarem abrigos
temporários.
De acordo com a informação oficial,
por todo o país já foram criados 21 mil destes abrigos que albergam 660
mil pessoas. Outros 2,3 milhões estarão a receber apoio alimentar
nestes mesmos locais.
Estima-se que a economia informal do país empregue 424 milhões de indianos, ou seja, 90% da força de trabalho.
A
26 de março, a Índia tinha anunciado um pacote de emergência no valor
de 22,5 mil milhões de dólares para ajudar os mais pobres durante este
período. A ideia é usar pacotes de ajuda já existentes, alargando-os
para permitir a distribuição gratuita de comida e de dinheiro para as
famílias mais pobres. Estas podem contar com 500 rupias (cerca de seis
euros) por mês durante os próximos três meses.
Entretanto, as autoridades temem que três em cada dez pessoas
que tenham migrado da cidade para o campo possam estar infetadas com o
coronavírus. Nesta terça-feira a Índia tinha 1200 casos confirmados de
covid-19 e 32 mortes, mas os peritos duvidam dos números oficiais, dizendo que a Índia está a testar muito poucas pessoas.
Um vídeo partilhado no Twitter por um jornalista do Times of India e pelo jornal The Hindu
parecia mostrar os migrantes a serem desinfetados à mangueirada por
homens em fatos protetores no estado de Uttar Pradesh. O magistrado
local indicou que os bombeiros tinham recebido ordens para desinfetar os
autocarros, mas "entusiasmaram-se" e usaram o desinfetante nas pessoas.
Outras autoridades falaram de uma ação "excessivamente zelosa" de
alguns funcionários, "por ignorância ou medo".
Um quarto das mortes estão relacionadas com uma cerimónia numa mesquita
no bairro de maioria muçulmana de Nizamuddin Oeste, em Deli. Centenas de
pessoas, incluindo vários estrangeiros, participaram no encontro, tendo
o bairro sido isolado pelas autoridades de saúde, que procuram em todos
os cantos do país por pessoas que tenham estado no evento, no final de
fevereiro.
* A Índia é um covil de 1% de esclavagistas com 99% de escravizados, notem que 1% são aproximadamente 12 milhões.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário