24/03/2020

ANYÓNIO CLUNY

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Em apoio dos 
que trabalham no 
serviço nacional de saúde

É nas suas mãos que, antes do mais, depositamos a confiança na salvação dos nossos: da família, dos amigos, dos vizinhos, dos colegas de trabalho, enfim, dos nossos concidadãos.

A situação criada com o Covid-19 irá constituir um teste à capacidade que o país tem de se erguer para a defesa do bem comum.

A defesa do bem comum – na verdade, é ela que justifica a existência de uma sociedade organizada politicamente na forma de um Estado – envolve a organização permanente de mecanismos de solidariedade efetiva, cuja necessidade muitos só recordam em situações como estas.

Tal solidariedade implica a disposição de todos, designadamente dos que mais podem, para mobilizarem o que mais têm e podem dar, arcando, se necessário, com os maiores contributos para minorar os males dos outros, dos que menos podem e têm.

Os tempos que se avizinham exigirão de todos um espírito de sacrifício enorme e, por isso, é necessário que, desta vez, não acabem por ser os de sempre – os de baixo – a suportar o seu peso maior.

Não se manterá durante muito tempo um espírito de disciplina social e de mobilização coletiva – absolutamente indispensável neste momento – se se assistir a uma qualquer evidente e injusta repartição no peso dos sacrifícios que uns e outros terão, afinal, de fazer.

Não será admissível que em torno da mobilização coletiva e do esforço comum comecem, desde logo, a erguer-se mecanismos de erosão da já parca capacidade que a maioria dos cidadãos têm de gozar uma vida digna.

Neste momento, todos nós devemos unir-nos para ajudar os que precisam e isso significa sustentar com o braço mais forte – o Estado – aqueles que, por mais débeis, de maior amparo precisam.
É nestes momentos que se percebe bem como nem tudo depende de uma dinâmica puramente concorrencial ou apenas de uma alegada predisposição da humanidade para o lucro.

É nestes momentos que compreendemos melhor a razão de ser dos impostos que pagamos e da necessidade da sua justa repartição entre os que mais e os que menos podem.

Não por acaso, em momentos destes, todos recorrem, antes do mais, às autoridades públicas e delas reclamam o sentido imparcial e igualitário que justifica a sua existência e ação: a defesa do bem comum ameaçado.

É nas suas mãos e nas dos que servem as funções do Estado que, sobretudo, depositamos a confiança na salvação dos nossos: da família, dos amigos, dos vizinhos, dos colegas de trabalho, enfim, dos nossos concidadãos.

Nas atuais circunstâncias, o maior esforço na defesa do bem comum recairá no pessoal médico, de enfermagem e em todo o tipo de pessoal auxiliar, do mais qualificado ao mais simples, que todos os dias trabalha – nem sempre nas melhores condições e da maneira mais justamente compensada – para manter em funcionamento o Serviço Nacional de Saúde.

A eles devemos, em primeira mão, um agradecimento, que só será verdadeiro se se traduzir em compreensão e apoio – agora e depois, quando a crise passar.

Neles e na sua ação corajosa e desinteressada, reconheceremos a importância de um Estado humana e tecnicamente bem equipado e capaz, por isso, de desempenhar, com justiça, imparcialidade e abnegação, as funções que nenhuma outra entidade conseguirá assegurar e manter, designadamente em situação de crise.

Por isso, para que assim seja, é imprescindível um funcionalismo público de saúde – quadros superiores e não só – prestigiado, motivado, corajoso e desinteressado, estimulado apenas pela defesa do bem comum.

Saibamos todos estimá-lo e compensá-lo, agora e depois, com o nosso reconhecimento e apoio.

IN "i"
17/03/20

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