06/01/2020

SÉRGIO MAGNO

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Internet acima das
 nossas possibilidades

Afinal, os preços das comunicações em Portugal são baixos ou elevados? Depende da forma como fazemos as comparações.

Um estudo da APRITEL, associação que representa as operadoras de comunicações, gerou uma controvérsia assinável em alguns fóruns e redes sociais. Este estudo, publicado no início de novembro, concluiu que «Portugal está entre os países europeus com preços de comunicações eletrónicas mais baixos, ocupando o segundo lugar do ranking». Uma conclusão que, segundo João Cadete de Matos, o presidente da Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), contradiz outros estudos feitos a nível nacional e internacional. Em declarações ao Expresso, a crítica do responsável máximo pela entidade que regula as telecomunicações em Portugal foi evidente: «é difícil entender que uma entidade de telecomunicações esteja a tentar contrapor estudos de entidades internacionais isentas».

Como é possível tais diferenças? Como sabemos, os resultados dos estudos dependem muito dos parâmetros analisados. Na análise encomendada pela APRITEL. foram (bem) comparados preços de serviços 3P e 4P com características semelhantes (largura de banda, por exemplo). Ou seja, os pacotes que incluem televisão, Internet, telefone fixo e, no caso do 4P, comunicações móveis. Quem viaja com regularidade por essa Europa fora sabe que, ao contrário do que muitas vezes se diz, temos serviços de telecomunicações de qualidade muito acima da média. É verdade que há ainda muitas zonas do país com falhas, mas, no global, a infraestrutura instalada pelas operadoras nacionais é do melhor que há no velho continente.

O problema não está na comparação feita, está na comparação que não se pode fazer. Se analisarmos as ofertas das três maiores operadoras nacionais – Altice/Meo, Nos e Vodafone – concluímos que, lá para casa, quase que somos obrigados a optar por um pacote 3P. Existem outras opções, mas, na prática, os preços de entrada que incluem acesso à Internet de banda larga dos três operadores de âmbito nacional anda próximo dos €30/mês. É verdade que, para o valor pedido, a oferta é muito vasta. Por exemplo, por este valor, consegue-se pacotes com 100 Mbps de largura de banda, 100 canais de TV e chamadas de voz quase ilimitadas.

Ou seja, matematicamente, a oferta é boa em termos de qualidade/preço. Mas, certamente, muitos leitores da Exame Informática preferiam ter “apenas”, por exemplo, um serviço de acesso à Internet de 50 Mbps (sem TV ou telefone) se custasse, vá lá, €10/mês. Até porque cada vez mais os conteúdos consumidos são via Internet. E quando analisamos o preço mínimo para acesso de banda larga nos países europeus, “a pintura fica borrada”. Em vez do segundo lugar entre 10 países do estudo da APRITEL, passámos para um dos últimos de acordo com a análise da Comissão Europeia (Broadband Internec Access Cost).

IN "EXAME INFORMÁTICA"
02/01/20

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