30/10/2019

RODRIGO ALVES TAXA

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Ladies and gentlemen, ei-lo:
o Governo Viagra

Ao saber das particularidades do novo Governo tive automaticamente a sensação de estarmos perante uma entidade que, manifestamente sofrendo de uma clara disfunção prática originária, passou a procurar acautelar a sua hipotética boa imagem e prestação futura a toque de excitantes laboratoriais.

Preocupa-me, no entanto, sempre ter ouvido dizer que a demasiada utilização de fármacos, especialmente os libidinosos, pode danificar a máquina, sobretudo quando esta é a máquina do Estado, já tão patologicamente atingida e danificada por hipertensões várias e crónica arritmia cardíaca.

Acresce ainda que sendo eu dos que entendem que a saúde é sempre a mais importante bênção que se pode ter na vida, preocupa-me também o aspeto económico ligado a certos luxos. Bem sei que será defeito meu e dos que como eu pensam.

Distintamente, um socialista é muito mais descomplexado com o dinheiro, sobretudo porque, como se disse um dia, o socialismo só acaba quando acaba o dinheiro dos outros. Como, externamente, a coisa ainda não estagnou de todo, o motor lá vai carburando a toque de comprimido. A grande novidade, que a mim me deixou surpreso, está no recurso ostensivo a acompanhamento de luxo, e aqui é que a minha preocupação atinge o clímax sensorial. Cheira-me que este cocktail de estimulantes, aliado ao reforço de companhia apresentado, pode ser demasiado varonil para o miocárdio estatal. É aguardar e ver, mas cuidado com os enfartes.

 Mas há mais curiosidades no Executivo: vejamos os nomes de alguns ministérios e os títulos de alguns ministros. Ah e tal, fulano x, ministro de Estado e do peixe frito. Se fosse só do peixe frito, ninguém ligava, mas como é também de Estado, a excitação é tal que quase já nem é preciso comprimido. Mas há mais: Ministério do Ambiente e Ação Climática. Apenas o nome é capaz de, por si só, criar uma qualquer protuberância nos cidadãos. E que tal Ministério da Economia e da Transição Digital? Fiquei banzado, tal a classe e o afrodisíaco perfume que deste nome emanam. Já dizia Bocage: “ Foge, cão, que te fazem Barão! Mas para onde, se me fazem Visconde?”

Maravilhoso, este odor que, a contrastar com o passar das décadas, não se dilui e se mantém fétido no imaginário da classe governante nacional, que açambarca títulos muito antes de os merecer. Vá, mas depois desta mais descontraída e luxuriante caracterização, que decerto ninguém levará a mal porque o melhor remédio para uma desgraça é ter sentido de humor, falemos como deve ser. A sério? É este o Governo do nosso país? São estas caras as caras novas e fulgurantes, capazes de promover as tão badaladas reformas estruturais apregoadas pelo PS? É preciso um Governo na casa dos 70 membros para colocar um país no suposto rumo certo? É assim que julgam dignificar a política e o Estado junto das pessoas?

Então os serviços públicos não têm dinheiro para nada mas vamos gastar balúrdios a mudar a chancelaria dos envelopes e papelada ministerial porque é mais chique dizer que se come foie gras de canard ao invés de fígado de pato? É oficial: os últimos quatro anos já foram politicamente miseráveis, mas agora atingimos o nível zero do provincianismo bacoco e abimbalhado.

IN "i" 
25/10/19

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