Eram tempos de neokeynezianismo desenfreado, o “parque escolar” era uma festa gabada pela ministra com a tutela da Educação, faziam-se planos para uma terceira ponte sobre o Tejo, uma terceira autoestrada que ligasse Lisboa ao Porto e claro o novo aeroporto. Só percebemos que algo estaria mal tarde de mais
Em 2007, ainda a crise nos parecia longe, demasiado longe para a
velocidade com que nos caiu em cima. Em Portugal vivíamos sobre a égide
de um Governo socialista, liderado na época pelo animal feroz que muitos
haveriam de apelidar de “menino de ouro do PS”. Eram tempos de
neokeynezianismo desenfreado, o “parque escolar” era uma festa gabada
pela ministra com a tutela da Educação, faziam-se planos para uma
terceira ponte sobre o Tejo, uma terceira autoestrada que ligasse Lisboa
ao Porto e claro o novo aeroporto.
Só percebemos que algo estaria mal tarde de mais, mais concretamente
no dia 24 de julho de 2007. Nos Estados Unidos da América, lá longe, o
Dow Jones dava um trambolhão motivado pelo misto de trafulhice com
nabice que foi o subprime. O ano seguinte, 2008, foi o escalar da crise,
a falência do Lehman Brothers, o efeito sitémico na economia mundial e a
chegada da crise ao velho continente. Economias fragilizadas como a
Portugal, Grécia e Irlanda foram os primeiros a sofrer. Mas o resto do
sul da Europa também sofreu. Sobre isto já tínhamos sido alertados
várias vezes por nomes como Medina Carreira ou José Gomes Ferreira.
Em Portugal, em 2011, o governo de José Sócrates acabaria por cair
com estrondo, abrindo portas a uma coligação de direita que herdou a
pesada herança socialista e ainda uma troika de credores implacáveis que
se vieram imiscuir nas desgovernadas contas da nossa República. O
caminho fez-se a custo, nas empresas e principalmente nas famílias. A
minha geração, que havia chegado ao mercado de trabalho foi a que mais
sofreu. Éramos a geração à rasca e foi com essa cruz que iniciámos a
nossa carreira profissional. À esquerda nunca foi feito o devido ato de
contrição - não tinham culpa de nada, claro está e preferiam o caminho
mais fácil: a rua, as greves e as manifestações. Em 2011 e nos anos que
se seguiram, principalmente com a detenção de Sócrates, seria impossível
pensarmos que esta esquerda voltaria tão rapidamente ao poder.
Acontece que quando se fecha uma porta abre-se uma janela e António
Costa, estratega inteligente e treinado, sabe disso melhor do que
ninguém. Foi fácil criar uma narrativa, correr com Seguro e vender um
sonho aos portugueses. Até a falácia do neokeynezianismo, dos direitos
adquiridos e do Estado forte voltou a ser reciclada, mesmo perante as
feridas que tinha deixado abertas na economia portuguesa.
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Os portugueses não comem economia, não passam férias com a economia e
não fazem compras com a economia. O português médio quer lá saber de
quem é a culpa, quer é consumir, ter dinheiro e ter sonhos. A direita
estupidamente subestimou a forma de pensar do povo português. É óbvio e
legítimo que o eleitor se esteja a marimbar para as contas públicas. O
eleitor não estuda macroeconomia. Levanta-se cedo todos os dias,
trabalha, tem problemas de saúde, tem ambições para os seus filhos e tem
pouco tempo e dinheiro para se divertir. Em suma, tem mais no que
pensar. A nossa vida, a nossa família e o nosso núcleo de amigos são o
que realmente importa. A esquerda percebeu isso e vendou um sonho, a
direita só vendeu um pragmatismo cinzento.
Tudo isto só foi possível porque aquilo que os economistas chamam de
bom clima económico internacional aconteceu. Mas também foi possível
porque havia um Governo alinhado com a Comissão Europeia e com o BCE. Um
Centeno preocupado em equilibrar as contas, sem ter que fazer reformas
profundas. E tudo isto resultou até agora às mil maravilhas. Hoje os
portugueses vivem melhor, pese embora as contas públicas continuem uma
desgraça no que à dívida diz respeito e não tenham sido feitas as
reformas profundas necessárias para que a nossa economia desse de uma
vez por todas a volta.
Acontece que a julgar pelo que dizem os especialistas, tal como foi
noticiado neste mesmo jornal esta semana, o ciclo de crescimento da
economia está a acabar. Os tais fatores externos que nos facultaram um
bom clima económico externo estão a ser cada vez mais questionados e o
mais provável é que muito em breve tenhamos uma crise que pode ainda ser
maior do que aquela que enfrentámos há 10 ou 11 anos.
A pergunta que devemos fazer agora é simples: estaremos preparados? É
óbvio que não. Temos um peso da dívida ainda maior, não temos uma
economia forte e estamos demasiadamente expostos às conjunturas
internacionais. Em suma, estamos montados num barril de pólvora. Da
parte do Governo apenas poderemos contar com medidas populistas e com
cedências à esquerda. Nenhuma reforma será feita para que nos tornemos
verdadeiramente competitivos e isso é grave de mais para podermos
continuar a assistir impávidos e serenos.
A direita está agora a reorganizar-se. No PSD e no CDS há disputas a
decorrer que serão importantes. São provavelmente estes os líderes que
depois de eleitos pelos portugueses terão que, em conjunto com os novos
partidos, de nos voltar a safar do desgoverno socialista. Em ambos os
casos não gostaria que voltássemos ao passado. Quero um PSD novo, tal
como aquele que nos é sugerido pelo Miguel Pinto Luz e quero um CDS
combativo no parlamento, pelo que até ver só um dos nomes sugeridos pela
opinião pública o conseguirá fazer. Espero bem que ganhem, por
Portugal.
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25/10/19
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