26/10/2019

JOÃO GOMES DE ALMEIDA

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Cheira a 2007

Eram tempos de neokeynezianismo desenfreado, o “parque escolar” era uma festa gabada pela ministra com a tutela da Educação, faziam-se planos para uma terceira ponte sobre o Tejo, uma terceira autoestrada que ligasse Lisboa ao Porto e claro o novo aeroporto. Só percebemos que algo estaria mal tarde de mais

Em 2007, ainda a crise nos parecia longe, demasiado longe para a velocidade com que nos caiu em cima. Em Portugal vivíamos sobre a égide de um Governo socialista, liderado na época pelo animal feroz que muitos haveriam de apelidar de “menino de ouro do PS”. Eram tempos de neokeynezianismo desenfreado, o “parque escolar” era uma festa gabada pela ministra com a tutela da Educação, faziam-se planos para uma terceira ponte sobre o Tejo, uma terceira autoestrada que ligasse Lisboa ao Porto e claro o novo aeroporto.

Só percebemos que algo estaria mal tarde de mais, mais concretamente no dia 24 de julho de 2007. Nos Estados Unidos da América, lá longe, o Dow Jones dava um trambolhão motivado pelo misto de trafulhice com nabice que foi o subprime. O ano seguinte, 2008, foi o escalar da crise, a falência do Lehman Brothers, o efeito sitémico na economia mundial e a chegada da crise ao velho continente. Economias fragilizadas como a Portugal, Grécia e Irlanda foram os primeiros a sofrer. Mas o resto do sul da Europa também sofreu. Sobre isto já tínhamos sido alertados várias vezes por nomes como Medina Carreira ou José Gomes Ferreira.

Em Portugal, em 2011, o governo de José Sócrates acabaria por cair com estrondo, abrindo portas a uma coligação de direita que herdou a pesada herança socialista e ainda uma troika de credores implacáveis que se vieram imiscuir nas desgovernadas contas da nossa República. O caminho fez-se a custo, nas empresas e principalmente nas famílias. A minha geração, que havia chegado ao mercado de trabalho foi a que mais sofreu. Éramos a geração à rasca e foi com essa cruz que iniciámos a nossa carreira profissional. À esquerda nunca foi feito o devido ato de contrição - não tinham culpa de nada, claro está e preferiam o caminho mais fácil: a rua, as greves e as manifestações. Em 2011 e nos anos que se seguiram, principalmente com a detenção de Sócrates, seria impossível pensarmos que esta esquerda voltaria tão rapidamente ao poder.

Acontece que quando se fecha uma porta abre-se uma janela e António Costa, estratega inteligente e treinado, sabe disso melhor do que ninguém. Foi fácil criar uma narrativa, correr com Seguro e vender um sonho aos portugueses. Até a falácia do neokeynezianismo, dos direitos adquiridos e do Estado forte voltou a ser reciclada, mesmo perante as feridas que tinha deixado abertas na economia portuguesa.
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Os portugueses não comem economia, não passam férias com a economia e não fazem compras com a economia. O português médio quer lá saber de quem é a culpa, quer é consumir, ter dinheiro e ter sonhos. A direita estupidamente subestimou a forma de pensar do povo português. É óbvio e legítimo que o eleitor se esteja a marimbar para as contas públicas. O eleitor não estuda macroeconomia. Levanta-se cedo todos os dias, trabalha, tem problemas de saúde, tem ambições para os seus filhos e tem pouco tempo e dinheiro para se divertir. Em suma, tem mais no que pensar. A nossa vida, a nossa família e o nosso núcleo de amigos são o que realmente importa. A esquerda percebeu isso e vendou um sonho, a direita só vendeu um pragmatismo cinzento.

Tudo isto só foi possível porque aquilo que os economistas chamam de bom clima económico internacional aconteceu. Mas também foi possível porque havia um Governo alinhado com a Comissão Europeia e com o BCE. Um Centeno preocupado em equilibrar as contas, sem ter que fazer reformas profundas. E tudo isto resultou até agora às mil maravilhas. Hoje os portugueses vivem melhor, pese embora as contas públicas continuem uma desgraça no que à dívida diz respeito e não tenham sido feitas as reformas profundas necessárias para que a nossa economia desse de uma vez por todas a volta.

Acontece que a julgar pelo que dizem os especialistas, tal como foi noticiado neste mesmo jornal esta semana, o ciclo de crescimento da economia está a acabar. Os tais fatores externos que nos facultaram um bom clima económico externo estão a ser cada vez mais questionados e o mais provável é que muito em breve tenhamos uma crise que pode ainda ser maior do que aquela que enfrentámos há 10 ou 11 anos.

A pergunta que devemos fazer agora é simples: estaremos preparados? É óbvio que não. Temos um peso da dívida ainda maior, não temos uma economia forte e estamos demasiadamente expostos às conjunturas internacionais. Em suma, estamos montados num barril de pólvora. Da parte do Governo apenas poderemos contar com medidas populistas e com cedências à esquerda. Nenhuma reforma será feita para que nos tornemos verdadeiramente competitivos e isso é grave de mais para podermos continuar a assistir impávidos e serenos.

A direita está agora a reorganizar-se. No PSD e no CDS há disputas a decorrer que serão importantes. São provavelmente estes os líderes que depois de eleitos pelos portugueses terão que, em conjunto com os novos partidos, de nos voltar a safar do desgoverno socialista. Em ambos os casos não gostaria que voltássemos ao passado. Quero um PSD novo, tal como aquele que nos é sugerido pelo Miguel Pinto Luz e quero um CDS combativo no parlamento, pelo que até ver só um dos nomes sugeridos pela opinião pública o conseguirá fazer. Espero bem que ganhem, por Portugal.

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25/10/19

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