01/09/2019

HELENA PEREIRA

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Seis coisas que já percebemos
 com esta pré-campanha

O PAN já escolheu suas linhas vermelhas: passam por medidas na área da energia e mobilidade.

1. António Costa também usa o “diabo"
A ameaça das crises serve de argumento para muita coisa. António Costa que passou a legislatura a ouvir do PSD que vinha aí o diabo passou agora a usar um tom semelhante. O “diabo” é a recessão económica, que não veio quando Passos a anunciou, mas que já está no horizonte de vários países europeus. E essa recessão serve para ajudar Costa a pedir estabilidade e até justificar a recusa de um dia vir a ter representantes do BE e do PCP num seu futuro Governo.
"Não vale a pena complicar a nossa vida acrescentando riscos de uma crise política aos riscos externos”, respondeu António Costa esta semana em entrevista à TVI, quando questionado sobre essa possibilidade. Sobre o risco de recessão, Costa declarou, aliás, que o PS trabalha com “um cenário macroeconómico conservador”, admitindo que “qualquer crise internacional será problemática”, mas que o país está “melhor preparado” e tem “mais instrumentos” para resistir. Já na entrevista ao Expresso há quase duas semanas, garantia que “todos esses sinais [de recessão] são obviamente preocupantes. (...) É fundamental manter esta trajectória, prosseguir a consolidação das nossas contas públicas, de forma a estarmos ao abrigo de qualquer vendaval, ao contrário do que estávamos em 2008 ou 2011”

2. PS e BE merecem-se
O PS e o BE, como se costuma dizer, merecem-se. As críticas recentes de Costa ao BE, sugerindo que este partido vive ansioso com as notícias que saem no noticiário “do meio-dia”, não são nada surpreendentes nem ultrapassam o tom que o BE tem usado quando se refere ao PS. Lembra-se da frase “O PS é permeável aos grandes interesses económicos"? Quem o disse foi a líder do BE, Catarina Martins numa entrevista ao Expresso, em Dezembro de 2017. Na altura, estava em discussão o corte nas chamadas ‘rendas excessivas’ da energia e o ataque do BE foi de tal maneira violento que até Francisco Assis saiu a terreiro indignado com estas afirmações bem como Manuel Alegre e Ana Gomes (e não consta que sejam todos eles fervorosos adeptos da personalidade de António Costa.

3. Maioria absoluta: uma coisa é querer, outra é falar dela
Na campanha de 2015, António Costa fartou-se de pedir a maioria absoluta e não a teve (até perdeu as eleições para a coligação PàF). “Os portugueses percebem que têm uma escolha muito clara pela frente: ou dão condições de governação maioritária ao PS ou terão de ver arrastar em agonia a actual coligação, em governo de gestão, pelo menos até Fevereiro do próximo ano”, explicava em entrevista ao Observador em 2015. Ou: “Há uma total sintonia entre as condições do sr. Presidente [Cavaco Silva] e a ambição do PS. Que é ter um governo maioritário, que assegure estabilidade e diálogo político e social”. Ou ainda: “Não quero que haja dúvidas que temos todas as condições para ganhar e com maioria absoluta”.

Agora, o socialista não se atreve a repetir preto no branco que gostava de governar com maioria absoluta. Mais: quatro anos depois, tenta outra estratégia. Diz que “isso não é uma coisa que se peça”​ e até garante que “os portugueses não gostam de maiorias absolutas”.

4. Marcelo cool
Uma maioria absoluta, já se percebeu, não é algo que o actual Presidente da República anseie. Ainda ontem, em declarações aos jornalistas, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa foi muito claro ao estilo marcelês: “O que os portugueses votarem, é bem votado porque é o povo quem mais ordena. O que digo é que Portugal ganharia no futuro em não haver sucessão de eleições como temos visto noutros países. Agora, isso é compatível com tantas soluções de Governo. A imaginação dos portugueses saberá encontrar aquela que vai prevalecer”.

5. PAN preparado para o dia 7 de Outubro
Depois de António Costa ter admitido, nas suas recentes intervenções, que tenciona falar com todos os partidos depois de dia 6 de Outubro e ter lembrado que nos últimos anos o PAN nunca votou contra os seus Orçamentos do Estado, o partido de André Silva vem avisar que está preparado para pôr por escrito as suas linhas vermelhas. E até já enumera as áreas: a energia e a mobilidade, anunciou esta semana o deputado André Silva em entrevista ao Negócios. Está visto que todos os possíveis parceiros do PS já fizeram o seu trabalho de casa.

6. Geringonça à direita é anedota
Falar de coligações à direita, quer também tenham o cognome de geringonça ou não, é uma farsa. Nesta fase pré-eleitoral, PSD e CDS nem conversaram a sério sobre a hipótese de uma aliança pré-eleitoral, como Nuno Magalhães explicou em entrevista ao PÚBLICO, e a hipótese de fazerem um acordo pós-eleitoral, como Rui Rio veio admitir, é uma anedota, dado os valores que as sondagens dão a PSD e CDS. Depois de 6 de Outubro, se a direita sofrer uma hecatombe, o que se vai estar a discutir é a sobrevivência destes partidos tradicionais.

IN "PÚBLICO"
30/08/19

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