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IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
16/08/19
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Abastecer até às eleições
Não haveria notícia que o Governo mais gostasse de receber do que a
manutenção da greve dos motoristas de transportes de matérias perigosas
até o mais perto possível das eleições de Outubro. Cada semana conta. Se
o PS se aproximar da maioria absoluta, é porque conseguiu colocar a
greve em brasas lentas e os motoristas a ferro e fogo, dando-lhes
combustível para que se possam manter grevistas por tempo indeterminado,
sem que façam mossa ou grande incómodo, sem que tenham relevância ou
surtam qualquer efeito. Em todos os cenários, esta greve é uma "win-win
situation" para o PS e um absurdo interminável para os grevistas e para o
país. Pardal Henriques consegue, ainda sem partido, entregar nas mãos
de Costa a coligação que nenhuma "geringonça" alguma vez quis, foi capaz
ou sonhou. E António Costa conseguiu, habilmente, impedir que os
motoristas possam pôr um fim à greve, saindo dela de cara lavada.
"O tempo da greve terminou", refere Pedro
Nuno Santos, ministro das Infra-Estruturas. Percebe-se bem a declaração
oficiosa do fim que se adivinha. Depois do acordo entre a Antram e a
Fectrans (sindicato afecto à CGTP), os grevistas estão cada vez mais
isolados na sua irredutibilidade. Instrumentalizados pelo seu porta-voz
sindical, continuam sem terminar uma greve que nem sequer começou,
condenada ao insucesso pelo rasgar das vestes de um PS que abdicou dos
seus princípios genéticos para erguer serviços mínimos que são máximos,
sabendo que os trabalhadores se recusariam a cumpri-los, para logo
decretar a requisição civil que abate definitivamente o direito à greve.
Não há memória de uma campanha eleitoral ter começado assim tão cedo e
sem a presença da oposição. Resta saber se a declaração de Pedro Nuno
Santos não será uma visão para futuros conflitos laborais. Será que,
para o PS, o tempo da greve terminou ou é apenas o tempo desta greve que
acaba?
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A
última grande medida do Governo nesta legislatura será um dos seus
principais trunfos de campanha, sucesso obtido à custa da
instrumentalização de umas centenas pela mão de dois ou três. Talvez
seja a altura de os grevistas perceberem que aqui jaz uma greve que
assim perdurará em vida eterna pós-eleições, recompensando o algoz.
Convinha compreender as razões que impelem os motoristas a continuar com
uma greve que se esvaziou e que, em rigor, já ninguém compreende. A
nomeação de um mediador pelo Governo, requerida pelo Sindicato Nacional
dos Motoristas de Matérias Perigosas, poderá ser uma tentativa de sair
airosamente do posto de abastecimento mas, que não se duvide, a factura
desta falta de combustível é já muito alta para os motoristas e suas
aspirações. Que alguém os proteja de quem fala por eles.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
16/08/19
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