19/06/2019

TERESA CUNHA PINTO

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É desta que fazemos
valer a nossa geração?

Esta geração vive com a barriga cheia de uma grande ilusão. De que é a geração mais informada, mais qualificada, mais viajada. É pura ilusão porque em nada se concretiza e materializa.


Da derrota devastadora, mas não admitida do PSD, à desilusão do CDS, da vitória que não é vitória do PS, à ascensão dos animaizinhos do PAN ao Parlamento Europeu, bem a crónica podia continuar, mas aquilo que mais nos devia deixar perplexos são os números assustadores da abstenção.

Não creio que alguém se possa sentir verdadeiramente vitorioso depois de umas eleições onde se bateram os recordes da abstenção. Quase 70% do eleitorado achou que o assunto não interessava, achou que havia coisas mais importantes que fazer, que a praia é maravilhosa e que não podia esperar, quase 70% do eleitorado julgou que a Europa se decidia sozinha.

Estes números já deixaram de ser um simples alerta há muito tempo, porque destes números retiramos uma sociedade desinteressada, desresponsabilizada e, também, profundamente, desacreditada. Porque a política que se continua a fazer não mobiliza, não dá segurança, não concretiza o futuro. Porque estamos completamente desligados daquilo que nos diz a todos – e sem excepção – respeito.

Podem-se arranjar todas e mais desculpas, mas nenhuma me consegue afastar da ideia e da revolta de estar diante de gerações que pura e simplesmente não querem saber. Admito, contudo, que a geração que mais me revolta é a dos jovens. Precisamente por ser a minha e por ser a que me deveria representar. Mas não. É a minha, mas não me representa. Sei, seguramente, que haverá tantos outros jovens que, tal como eu, se veem perdidos nesta geração que tinha tudo para fazer e criar melhor.

As razões são muitas, as culpas são de muitos, a classe política nacional envergonha-nos, o futuro não nos é seguro. Mas será que temos consciência do quanto isto nos diz respeito? Será que nos apercebemos que ao assistirmos impávidos e serenos estamos a cooperar? E que sempre que deixamos de ir às urnas estamos a permitir que alguém decida por nós? Será que nos lembramos que houve quem lutasse imensamente pelo direito ao voto e que agora abdicamos dele sem vergonha?

Esta geração vive com a barriga cheia de uma grande ilusão. De que é a geração mais informada, mais qualificada, mais viajada. É pura ilusão porque em nada se concretiza e materializa. Esta geração, a minha, age como se vivesse num mundo paralelo, como se o mundo a mais ninguém pertencesse, como se nada lhe dissesse respeito. Esta geração vive a ilusão daquilo que não é, daquilo que não faz, daquilo que não cria. É duro, mas é real. Estamos só, continuamente, a alimentar uma frustração e um vazio que pagará muitas contas no futuro.

Jovens portugueses, para um problema como este só há uma resposta e ela pode ser simplesmente o levantarmo-nos de vez, pormo-nos de pé diante dele. Acabar com um problema começa por aceitar o problema, começa pela dureza da desilusão e da frustração e nós temos nas mãos o grande começo de um futuro melhor que a todos, a todos, diz respeito. As legislativas estão próximas e elas carregam, também, o enorme desafio da abstenção. É desta que fazemos valer a nossa geração?

Estudante, 22 anos

IN "OBSERVADOR"
17/06/19


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