04/04/2019

NÁDIA PIAZZA

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Em tempos de guerra 
"não se fazem 
fogueiras à noite"

A primavera instalou-se e em Portugal começaram os incêndios.

Sempre houve incêndios na primavera, disseram. Verdade.

Sempre houve comportamentos de risco por parte da população, disseram. Grande verdade.

Que a população não sabe lidar com o fogo. Outra verdade gritante.

Ouvimos o presidente do PSD falar do assunto recentemente e não me pareceu correto que estejamos iguais ao ponto de partida: 2017. Estamos melhor e pior.

Melhor porque foram envidados esforços e passos concretos para maior e melhor prevenção e combate ao flagelo dos incêndios.

Pior porque a salvação do nosso território passa por travar a desertificação, a aridez, a escassez de água e essas não são uma prioridade.

Tomamos consciência efetiva da inexistência de ordenamento florestal, da inexistência ou inoperância dos serviços municipais de proteção civil, da ausência de um sistema eficaz de alerta às populações, da gestão eficaz dos combustíveis por parte de quem deve dar o exemplo, as próprias entidades públicas e concessionárias.

Tomamos consciência do quão frágeis e expostos estamos, quão imprevisíveis são o clima e o comportamento dos incêndios.

Porque sabemos mais, estamos pior. E isso não é necessariamente mau. É antes inevitável. E não porque não estão a ser envidados esforços para salvar vidas e o território. E sim, é essa a ordem de prioridades.

Foi declarada proibição de queimas de sobrantes até domingo...e andaremos nisso nos próximos tempos. Não há calendário, há situação e risco.

Sim, é preciso antecipar os eventos e, eventualmente, pecar por excesso de zelo.

Que a população faça a sua parte, que todos os agentes de proteção civil estejam a postos e deixem-se de chantagens, que a gestão dos combustíveis se faça e refaça conforme as chuvas cheguem por volta de abril (esperemos) e que os partidos se contenham ao máximo em usarem os fogos como arma de arremesso em ano eleitoral, porque vos cabe uma grande responsabilidade que é a de não dar ideias a mentes tolas e inconsequentes, que as há.

Faça-se política em sede própria, pelos canais próprios, pelos meios em que a política possa tornar-se ato concreto na melhoria de vida das populações e não no lançamento de uma campanha, em véspera de uma guerra, que teremos todos que travar.

O que temos à nossa frente é uma guerra contra as alterações climáticas, a ignorância ancestral, o abandono sistemático do interior, a incompetência dos responsáveis políticos que teimam em reinar.

Agora, lembrem-se que, em tempos de guerra, "não se fazem fogueiras à noite".

IN "TSF"
29/03/19

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