18/03/2019

VASCO LUPI

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Bolsonomics? 

A Bolsa Brasileira subiu 16,7% desde que Bolsonaro foi eleito.
Uma demonstração de confiança dos mercados na política económica do novo governo.

Bolsonaro foi eleito pelo desejo de mudança do povo Brasileiro. Mudança a nível social, educacional e económico. A política económica divide-se em três objetivos fundamentais: controlar a inflação, baixar o desemprego e reduzir o défice orçamental. Para atingir qualquer um dos três o crescimento económico é vital. O ciclo económico parece soprar a favor de Bolsonaro. Prova-o o crescimento do PIB estimado para 2019, 2,5%, substancialmente acima dos 1,3% de 2018.

Para o auxiliar na redução do défice, Bolsonaro escolheu Paulo Guedes como ministro da economia. O liberal da escola de Chicago promete uma forte política de privatização, tendo a pretensão de vender 50 das 150 empresas que compõem a esfera pública, destacando-se a gigante Petrobras. O objetivo é claro e foi definido por Bolsonaro na sua campanha: ter um saldo positivo primário até 2020. O défice orçamental em 2018 está projetado em 7% e o saldo primário em -2%. A meta parece ser, no mínimo, ambiciosa.

Além disto, a instabilidade política, o congresso e a burocracia no Brasil são duros obstáculos às iniciativas governamentais, além da constante corrupção. Realidades essas captadas no slogan de campanha utilizado por Bolsonaro "Menos Brasília e mais Brasil". Considere-se como exemplo do impacto destas barreiras o corte no crescimento do PIB de 2018. Chegou a estar projetado para 2,6%, mas a incerteza das eleições, a reforma dos transportes públicos e o atraso em aplicar algumas reformas levou à revisão por baixo. Há sempre forças que colidem com a ordem económica e, no Brasil, a burocracia é uma delas. Infelizmente, negativa.

Paralelamente, outro obstáculo à aplicação do plano económico poderá vir do interior do Palácio do Planalto. Nem todos os elementos do governo partilham do radicalismo das ideias económicas do ministro e a contestação a algumas das reformas já começou. Para viabilizar, em parte, a segurança social o ministro Paulo Guedes pretende aumentar a idade de reforma mínima para os 65 anos, tanto para homens como para mulheres. Antes de chegar ao congresso a proposta já está a ser altamente contestada publicamente por três ministros. Inclusive, um dos três, considerou a proposta "um ensaio e não um jogo final." As guerras internas serão um teste à autoridade de Paulo Guedes no governo, podendo levar a um desvio face à sua matriz económica. 

Independentemente das políticas socias e da discordância, ou não, em relação a algumas das crenças de Bolsonaro, a realidade é que o plano económico do novo Presidente foi consensualmente bem-recebido. A estrutura do Estado era, e é, demasiado pesada e burocrática. A segurança social não é sustentável. Os níveis de dívida, 77% do PIB, são demasiado altos para uma economia emergente. A grande questão não é se o Brasil precisa ou não da mudança, mas sim se Bolsonaro e a sua equipa serão capazes de a levar a cabo, acertadamente.

Executar o plano até aqui delineado é o próximo passo. E executá-lo adequadamente será o maior dos desafios de Bolsonaro e do seu Governo. A Bolsa Brasileira, reflexo dos investidores, parece acreditar que Bolsonaro caminha na direção correta – fechou em máximos históricos. Contudo, a onda de esperança associada às reformas prometidas pode acabar por esbarrar na dura realidade brasileira. A realidade da burocracia que torna Brasília maior do que o Brasil.

* Membro do Nova Investment Club

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
13/03/19


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