26/03/2019

LEONÍDIO PAULO FERREIRA

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Brasil na NATO improvável, 
na OCDE mais do que justo

Na Batalha de Montese, em meados de abril de 1945, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) obteve a sua maior vitória sobre os nazis, mas sofreu 400 baixas, entre mortos, feridos e desaparecidos. Três semanas depois, a Segunda Guerra Mundial terminava na frente ocidental e o Brasil figurava pelo seu sacrifício em Itália como o único país latino-americano a ter contribuído para a derrota da Alemanha hitleriana com tropas combatentes na própria Europa.
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Não sei se este episódio da história comum (em Itália, a FEB integrava o V Exército dos Estados Unidos) foi abordado por Jair Bolsonaro e Donald Trump no encontro em Washington, mas serve bem para recordar como Brasil e Estados Unidos têm sido aliados. E nem é preciso sequer remontar à proposta de parceria que o abade Correia da Serra fez chegar aos seus amigos Thomas Jefferson e James Madison quando era embaixador de D. João VI nos tempos da corte portuguesa no Rio de Janeiro.

Estranharam muitos que Trump tivesse exaltado o Brasil como aliado, ao ponto de poder um dia integrar a NATO. Tirando os fundadores Estados Unidos e Canadá, o estatuto de membro é reservado a países europeus, o que permitiria um dia a eventual adesão de uma Geórgia caucasiana na Aliança Atlântica, mas excluiria para sempre o Brasil, nação oceânica. Ora isto significa esquecer que há vários anos a própria NATO promove o debate sobre uma possível NATO Global, que poderia estender-se a Coreia do Sul, Japão e Austrália, desde a Guerra Fria sempre no campo pró-americano. O Brasil, muito utilizado pelas Nações Unidas nas operações de paz, seria outro potencial parceiro, o que talvez não ande assim tão longe daquilo que Trump expressou a Bolsonaro.

 Fosse ainda Dilma Rousseff a liderar o Brasil e a oferta de Trump soaria a estranha, pois tanto a presidente como o seu patrono Lula da Silva optaram sempre por uma política externa simpática com China e Rússia, tentando sem virar costas aos Estados Unidos apostar no multilateralismo. Com Bolsonaro é evidente haver bases para uma parceria renovada, uma espécie de monroísmo partilhado, como se notou já em relação à Venezuela.

Não podendo seguir o seu instinto em relação a fazer do Brasil o 30.º membro da NATO, Trump em contrapartida tem condições para acelerar a entrada do gigante latino-americano na OCDE, o chamado clube dos ricos, pois só integra países desenvolvidos. Tendo em conta que o México e a Colômbia já são membros, não choca a admissão daquela que é a oitava economia mundial. O surpreendente é Trump dar a entender que a candidatura brasileira (datada apenas de 2017, já na era Michel Temer) passará à frente da da Argentina ou, no mínimo, acontecerá em simultâneo.

Bolsonaro e Trump, pois, a reforçar laços entre os dois países. Falei já do abade Correia da Serra, vou falar então de José Silvestre Rebelo, embaixador do imperador D. Pedro, que conseguiu ser recebido pelo presidente James Monroe e assim garantiu que os Estados Unidos fossem o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
24/03/19

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