24/03/2019

JOÃO MARCELINO

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“Eleitoralismos” há muitos

O novo preço dos passes de transporte em Lisboa e Porto é uma extraordinária medida, justa e democrática, que só uma oposição pouco inteligente pode minimizar.

Os novos passes sociais para as grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto são uma extraordinária medida, com um alcance social de enaltecer, sob qualquer ponto de vista. Não me interessa que, como diz a oposição de vistas curtas, seja uma “medida eleitoralista”. É boa para as pessoas – ponto! E para a economia – porque este dinheiro que as famílias poupam, e é muito significativo, vai com certeza ser utilizado para dar mais qualidade à vida desses agregados.

Se esta medida é “eleitoralista” – e é óbvio que aumenta a popularidade do governo – então façam-se eleições em ciclos anuais porque o dinheiro é mais bem aplicado em tornar melhor a vida dos portugueses do que em alimentar a corrupção engravatada. Nos bancos, por exemplo.

Não entendo que seja tão difícil dizer (a qualquer partido em Portugal, dependendo se está no governo ou na oposição) que determinada medida é boa, como é o caso desta. Democratizar os acessos à mobilidade, como à saúde, ao ensino e à Justiça, deveria ser objetivo permanente numa sociedade civilizada. E reconhecer uma boa medida deveria ser uma prática partidária comum – porque, além do mais, é muito estúpido fazer o contrário. Que género de estrutura partidária decide dizer, por exemplo, que esta medida dos passes é “eleitoralista” quando poderia dizer, simplesmente, aquilo que pensam os seus militantes e simpatizantes: que é boa!?

O SNS também começou por ser uma medida “eleitoralista” antes de começar a prolongar a vida das pessoas. As custas dos tribunais, as taxas moderadoras na saúde, o preço dos livros, da água, da energia, a conservação do espaço público nas aldeias, vilas e cidades, o cuidado com a  floresta, os meios dos bombeiros e das polícias, as rendas na energia, etc., etc., etc. – há alguma coisa que não seja “eleitoralista”, seja em que sentido for, bom ou mau, quando se decide numa câmara ou num governo? É por isso muito ridículo ouvir este pseudo argumento a propósito de tudo e de nada. Só se diz isto quando não há mais nada para dizer.

Mas eu digo: o Governo (e não tenho nenhuma simpatia especial por este Governo) tem aqui uma grande medida. Circular nas duas grandes metrópoles portuguesas não custará mais de 40 euros a uma pessoa e mais de 80 a uma família, seja qual for o número de descendentes e ascendentes! Aliás, não é bom: é ótimo, é extraordinário, é justo, é democrático.

Misturar esta medida concreta com a coesão e solidariedade do país, com o combate à desertificação do interior, é uma desonestidade intelectual. Claro que Portugal precisa de soluções para o abandono das vilas e aldeias, que qualquer governo deve promover neste domínio políticas agregadoras e facilitadoras da vida das pessoas, e também aí nos transportes. A política, aliás, só deveria ser isso: perceber do que precisam as pessoas e fazer acontecer o melhor para elas no estreito limite das possibilidades das finanças das comunidades.

De resto, tudo em política é uma escolha, seja qual for a data das eleições. E, desta vez, o Governo escolheu bem. Não reconhecer isto e perder tempo a dizer banalidades laterais é, além de demagogia, um outro tipo de “eleitoralismo” – o pouco inteligente. Foi isso que fizeram esta semana os principais políticos portugueses da oposição, à direita.

IN "O JORNAL ECONÓMICO"
22/03/19

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