10/03/2019

ANDRÉ SILVA

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O elo cada vez 
mais forte que 
pode paralisar um país

O mais flagrante são os dados da violência doméstica, espelho da forma como encaramos estes princípios no nosso país. Em 2018 foram assassinadas 28 mulheres e os números deste ano são já muito preocupantes.

Em Estados de Direito responsáveis e justos, assinalar o Dia Internacional da Mulher teria contornos de maior celebração e de menos pesar. Muito caminho já foi percorrido por aquelas e aqueles que acreditam e trabalham por uma democracia aberta e pluralista, assente nos valores da não discriminação, no acesso à educação e nos demais direitos fundamentais. Mas hoje, infelizmente, somos confrontados, dia após dia, com a impunidade de um sistema que ainda está longe destes valores e que se revela complacente em relação ao abuso de poder e à violência.

O mais flagrante são os dados da violência doméstica, espelho da forma como encaramos estes princípios no nosso país. Em 2018 foram assassinadas 28 mulheres e os números deste ano são já muito preocupantes. As casas de abrigo, cada vez mais sobrelotadas, não conseguem dar resposta aos milhares de pedidos de ajuda.

Como se não bastasse, e pelos piores motivos, são cada vez mais conhecidos os casos de injustiça dos aspirantes a intocáveis nos tribunais portugueses, com sentenças assentes em princípios medievais que culpabilizam as vítimas e desculpabilizam os agressores. A perpetuação de uma cultura de subserviência e de submissão aos poderes estabelecidos alimenta um sistema judicial cheio de falhas, oportunamente aproveitadas a favor de quem tem mais poder. 

Não podemos continuar a desvalorizar a violência transmitindo à sociedade uma mensagem de enorme impunidade e falta de proteção. As lutas pela igualdade estão diretamente relacionadas com o poder de decisão, de escolha e de liberdade que deixamos às próximas gerações. Este é o momento de continuar a desconstruir padrões assentes na ideia de que as mulheres são o elo mais fraco de um qualquer destino social pré-definido. Não. Por mais confortáveis que estes ideais possam ter sido para alguns, enfraqueceram-nos como humanos e enfraquecem diariamente a nossa capacidade de gerar evolução social e de conquistar uma qualidade de vida assente nos pilares da democracia.

Hoje é dia de saudar as mulheres que continuam a agarrar esta luta com todas as suas forças. Os níveis de mobilização em Portugal por causas feministas, antirracistas, de defesa de direitos da comunidade LGBTI, migrantes e de combate à precariedade são cada vez mais encorajadores e a Rede 8 de Março, à qual me junto hoje, é um exemplo disso. Hoje acontece a primeira greve com este formato em Portugal. As mulheres querem mostrar que podem paralisar um país se, por um dia, deixarem os empregos, não realizarem trabalho doméstico, não cuidarem de outras pessoas, não fizerem compras e não forem às aulas.

Procuraremos acompanhar a vossa ambição por um país pleno em igualdade.

IN "SÁBADO"
08/03/19

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