25/02/2019

SANDRA DUARTE TAVARES

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As palavras e as emoções

Bem-estar e mal-estar; satisfação e insatisfação; alegria e tristeza; amor e ódio são estados emocionais e sentimentos que podem, sem qualquer dúvida, ser provocados apenas pelas palavras. Este é um sinal tremendo do seu poder. Feita esta reflexão, porque não organizar estes pares de palavras em categorias?

É raro o momento das nossas vidas em que estamos longe das palavras. Trocamos palavras com a nossa família, com amigos e até com desconhecidos. Falamos com os animais e, muitas vezes, sozinhos, navegando nos nossos próprios pensamentos.
Será que temos verdadeira consciência do efeito que as palavras têm na nossa mente e no nosso corpo e do seu poder transformador das nossas vidas?
Nos tempos bíblicos, o Rei Salomão enunciava com sabedoria uma grande verdade sobre o poder das palavras: “A morte e a vida estão no poder da língua” (Provérbios 18:21, Bíblia Sagrada).
Há, efetivamente, uma íntima relação entre as palavras e as nossas emoções. Quantas vezes recebemos uma mensagem calorosa, repleta de palavras amigas que nos alegram o coração e isso é o suficiente para tornar o nosso dia mais feliz? Quando nos dizem: “És maravilhoso, inteligente e inspirador”, sentimos seguramente uma enorme felicidade. Estudos clínicos mostram que quando estamos felizes e eufóricos, produzimos a hormona da endorfina, que, ao ser libertada, provoca em nós uma sensação de bem-estar e satisfação. Vamos a um exemplo prático:
Imagine-se sentado à mesa de um restaurante, aguardando uma refeição. Lê na ementa a seguinte descrição dos pratos do dia: “crepes de salmão e espinafres gratinados em aveludado de marisco com salada francesa” e “supremos de linguado à moda de Sintra com couve-flor au gratin”. Ao ler cada sílaba destas sedutoras palavras, começam a ocorrer alterações fisiológicas que lhe darão automaticamente uma sensação de prazer, como se estivesse já a saborear os deliciosos repastos.
Pelo contrário, quando alguém nos faz uma crítica, um reparo desagradável ou nos oferece palavras amargas, ficamos desanimados, tristes ou até mesmo irados: “És um incompetente, não vales nada, um imbecil”. São palavras como estas que nos cortam como uma faca, desferindo golpes severos na nossa alma. “As palavras não têm nem pontas, nem corte, mas podem ferir o coração de um homem”, diz um antigo provérbio tibetano.
Bem-estar e mal-estar; satisfação e insatisfação; alegria e tristeza; amor e ódio são estados emocionais e sentimentos que podem, sem qualquer dúvida, ser provocados apenas pelas palavras. Este é um sinal tremendo do seu poder.
 
Feita esta reflexão, porque não organizar estes pares de palavras em categorias?
- Categoria 1, que inclui palavras com carga afetiva positiva, como confiança, satisfação, expectativa, disponibilidade, honra, compromisso, amor, etc., etc.
- Categoria 2, que incorpora palavras com carga afetiva negativa, como traição, morte, crise, conflito, problema, tragédia, desconfiança, ódio, etc.

Mas… o mundo mágico das palavras não fica por aqui. Existem também palavras que possuem uma carga afetiva neutra, como por exemplo: situação, questão, notícia, episódio, que parecem ser incólumes no que respeita à afetividade, mas podem ser uma arma poderosa na gestão das nossas emoções, especialmente em situações de ira e cólera. Explico: se alguém nos oferece palavras da categoria 2, como por exemplo “temos um problema para resolver”, nós não devemos pagar com a mesma moeda; devemos, sim, devolver palavras neutras como “temos uma situação para resolver”. Jamais devemos alimentar a cólera das palavras, dando-lhes alimento tóxico.
E porquê? Porque se as palavras são a matéria-prima da comunicação, elas devem ser saudáveis e felizes! Saliento: comunicar é muito mais do que transmitir uma mensagem. Comunicar é partilhar, é relacionarmo-nos com o outro.
E se desejamos relações pessoais e profissionais mais saudáveis e felizes, então usemos e abusemos das palavras positivas na nossa vida.
E não nos cansemos de elogiar. Palavras de louvor e honra trazem felicidade não só a quem as recebe mas também, e sobretudo, a quem as oferece!

IN "VISÃO"
22/02/19

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