RUTE AGULHAS

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Carta aberta aos pais

 divorciados em conflito

Caros pais separados ou divorciados, e que estão em conflito, esta carta é para vocês.

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Não interessa a vossa idade, profissão ou estatuto socioeconómico. Não interessa se vivem numa barraca, numa casinha modesta ou numa mansão que vale milhões, no centro da capital. Não interessa também o volume da vossa conta bancária, o carro que conduzem ou o colégio que os vossos filhos frequentam. Se têm empregada externa ou interna, se não têm empregada nenhuma, se viajam muito ou pouco, nada disso realmente importa.

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Aquilo que realmente importa é o que estão a fazer, muitos de vocês, aos vossos filhos.

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Podia tecer aqui inúmeras considerações sobre o impacto negativo que as vossas discussões têm no bem-estar das crianças. Explicar o quão danoso é expor as crianças ao conflito, utilizá-las como arma de arremesso numa guerra que é vossa, e não delas, ou torná-las mensageiros entre os pais. Podia ainda explicar os sentimentos de tristeza e ansiedade que as crianças experienciam, o medo, a desconfiança, os conflitos de lealdade. Já para não falar das noites mal dormidas destas crianças, povoadas de insónias e receios, bem como das dificuldades em concentrarem-se na escola, por terem a cabeça tão cheia de pensamentos maus.

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Mas porque explicar tudo isto tem, para tantos pais, impacto zero, na medida em que continuam centrados em si próprios e no conflito, ignorando totalmente o bem-estar das crianças, iremos abordar o assunto de outra forma.

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Vamos utilizar um paralelismo com os maus tratos físicos, que são, efectivamente, mais fáceis de identificar. A única diferença é que os maus tratos físicos deixam marcas visíveis.

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Deixo o resto à vossa consideração.

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Dizer mal do pai ou da mãe na presença da criança equivale a dar-lhe um murro na cara.

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Proibir a criança de levar as suas coisas de uma casa para a outra, alegando que são da «casa da mãe» ou da «casa do pai», equivale a apertar-lhe o pescoço.

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Gerar discussões nos momentos festivos da criança, como a sua festa de aniversário, na presença dos amigos, equivale a dar-lhe pontapés e socos na barriga.

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Dizer à criança que o pai ou mãe não gosta dela equivale a queimar-lhe o peito com um cigarro.

Proibir a criança de falar ou estar com o pai ou a mãe equivale a bater-lhe com a fivela do cinto nas costas e nas pernas.

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Perguntar à criança se gosta mais da mãe ou do pai equivale a chicoteá-la com fios descarnados.

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Gritar, berrar, ofender ou bater no outro, na presença da criança, equivale a derramar por cima dela uma frigideira com óleo a ferver.

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Por fim, expor tudo isto nas redes sociais ou na televisão, equivale a prostituir a criança.

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Sobre os jornalistas que publicitam e promovem esta violência, na senda de um aumento de audiências, pois equivale ao crime de lenocínio.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
18/01/19

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