16/01/2019

RITA FONTOURA

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Ana (Des)Leal

Ontem fui alertada para uma reportagem que iria passar na TVI sobre a homossexualidade e a forma como podem ser apoiadas pessoas que solicitem apoio psicológico. Tinha uma reunião já marcada, e portanto só vi perto da meia-noite.

Afinal, não era uma reportagem mas uma montagem de filmagens clandestinas assinada pela jornalista Ana (Des)Leal. É verdade, alterei o nome à senhora porque este que lhe atribuí encaixa bem no que ela mostrou ser:

Desleal para os seus colegas jornalistas, porque usou o jornalismo para, de forma vil talvez criminosa (os juristas o dirão), apresentar sem autorização filmes que atentam contra privacidade dos visados. Se o jornalismo em Portugal não ia bem e se a classe tem sofrido com isso por ficar desacreditada, com este programa teve a cereja no topo do bolo;

Desleal para a classe de profissionais de saúde, que a partir de ontem terão de ultrapassar a barreira do medo. Qualquer pseudo-doente, por sua iniciativa ou instigado por alguém, pode colocar na praça pública, patrocinado pela televisão, informação sem contexto e sem explicação, que numa análise ligeira (a que temos, quando vemos despreocupadamente televisão) condene ou ridicularize o profissional a que recorreu;

Desleal para os participantes no debate, que tiveram de escolher, perante as câmaras de televisão, entre ficar (e compactuar com um programa que apresenta uma peça vergonhosa que atenta contra os direitos de privacidade dos visados) ou sair (deixando espaço a que o conteúdo apresentado ficasse a mercê da manipulação da informação sem contraditório);

Desleal para os homossexuais e para os heterossexuais. Aparentemente, o dito Carlos (corajoso para cometer o delito de filmar às escondidos mas cobarde para se mostrar) considera-se homossexual e não aceita que um seu amigo ou amante se considere heterossexual. Por raiva ou instigado por alguém, decidiu vingar-se. Não sei se esta análise está certa nem isso interessa, já que as filmagens são ilegais e portanto só servem para perturbar. Sei que qualquer pessoa casada e com filhos pode, de um dia para o outro, ‘sair do armário’ para se ‘assumir’ homossexual – e, se precisar, poderá e deverá ter apoio psicológico. Já alguém que queira voltar a ‘entrar no armário’, por sentir que afinal se considera heterossexual, terá grandes dificuldades em encontrar apoio psicológico e fica sujeito à vingança e à condenação pública;

Desleal para todos nós, que temos televisão em casa e estamos por isso sujeitos a ser confrontados, ainda por cima num horário nobre, com programação do mais rasca que já vi.

Tudo isto é muito triste e infelizmente é pouco provável que a jornalista responsável queira ou seja obrigada a corrigir de alguma forma o mal que fez. Resta a esperança de que um dia se arrependa. Entretanto, tem a seu favor o facto de ter atacado a Igreja Católica e uma psicóloga católica – e, por essa razão, sei que a esta hora já está perdoada enquanto pessoa. Deverá haver justiça mas não haverá nem raiva nem rancor.

IN "SOL"
13/01/19

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