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* Deputada do Bloco de Esquerda
IN "i"
29/11/18
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Batota no parlamento
O PSD montou uma farsa em que simultaneamente nos
impediu de submeter a proposta à votação e nos acusou de enganar o povo
por “falar, falar, falar”mas não cumprir, ou seja, não levar a proposta
à votação
Depois do Orçamento do ano passado, em que o PS
aprovou uma proposta do Bloco de Esquerda para uma contribuição sobre a
energia renovável, para depois ceder à EDP e dar o dito por não dito, a
energia volta a protagonizar um triste episódio na discussão do
Orçamento do Estado.
Na 25.a hora do segundo dia de maratona de votações de especialidade,
os deputados do PSD solicitaram à presidente da Comissão de Orçamento e
Finanças que não votasse as propostas de redução do IVA da eletricidade
até aos 6,9 kW apresentadas pelo Bloco, PCP e PEV. Quando decidiu
anuir, Teresa Leal Coelho aceitou participar num lamentável ato de
cobardia e desonestidade política.
Desonestidade, em primeiro lugar, para com o parlamento. Porque
esconderam a carta na manga até ao último minuto. O Bloco de Esquerda
apresentou a sua proposta no início do processo orçamental. Ela foi
anunciada na imprensa, apareceu nos telejornais, foi objeto de polémica
em relação ao seu conteúdo, ou seja, era amplamente conhecida pelo
governo, pelos partidos e pela opinião pública. Cumprindo as regras, a
nossa proposta foi entregue e aceite pelos serviços da Assembleia da
República, incluída pela mesa na ordem de trabalhos da especialidade em
plenário, debatida e incluída no guião de votações. Em nenhum momento
lhe foi apontada qualquer fragilidade técnica e é até pouco credível que
pudesse ter sido aceite se fosse inconstitucional, como sugeriu António
Leitão Amaro.
O PSD alega que os grupos parlamentares não podem alargar o âmbito de
uma autorização legislativa, ou seja, que não têm sequer competência
para fazer aquela proposta. O normal seria que um erro técnico desta
natureza impedisse a entrada da proposta a tempo de ser corrigida. Mas
isso não aconteceu. Seria difícil sustentar tal posição quando o
processo legislativo na Assembleia está repleto de precedentes de
projetos similares, exemplos que foram apresentados pelos grupos
parlamentares e ignorados pela presidência.
A desonestidade política foi também com o povo. O PSD montou uma
farsa em que simultaneamente nos impediu de submeter a proposta à
votação e nos acusou de enganar o povo por “falar, falar, falar” mas não
cumprir, ou seja, não levar a proposta à votação. Foi a confirmação de
António Leitão Amaro como o deputado dos factos alternativos, uma
espécie de pós-verdade em versão caseira.
As escolhas democráticas fazem-se em campo aberto, diante dos olhos
de toda a gente. Na votação do IVA da eletricidade, o PSD escondeu uma
carta na manga por medo de mostrar o jogo. Mas este episódio foi também
responsabilidade do Partido Socialista. A cumplicidade com que votou a
inadmissibilidade das propostas trouxe à lembrança o volte-face do ano
passado.
Em resumo, nenhum dos partidos quis votar a redução do IVA da
eletricidade. O que tem a energia que tanto atrai enguiços ao PS e ao
PSD? Tem uma empresa privatizada que lucra milhares de milhões com
rendas que nos são cobradas na fatura da luz. Por causa disso, tem a
segunda fatura mais cara da Europa e os maiores níveis de pobreza
energética, ou seja, os pobres passam frio. Tem um presidente que ganha
6800 euros por dia. E tem o pior da promiscuidade e da porta giratória
entre o bloco central e os interesses económicos das grandes operadoras
energéticas, os seus acionistas e os seus gestores.
Este é um triste episódio que marca o final do debate do Orçamento
para 2019. Seja qual for o jogo, ninguém reconhece grande dignidade às
vitórias de secretaria. Gostar de ganhar por simpatia do árbitro, por
artifício das regras ou por capricho administrativo é coisa de
batoteiro. Mas isso é no jogo. No parlamento, utilizar
discricionariedade administrativa para impedir uma proposta de ir a
votos é uma artimanha que deixa a muito a dever à prática democrática e
quase nada à cobardia política.
* Deputada do Bloco de Esquerda
IN "i"
29/11/18
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