22/12/2018

FRANCISCO GUERREIRO

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Os populistas nunca falam 
sobre Ambiente. Porque será?

Assistimos à ascensão de movimentos radicalizados, tanto à Esquerda como à Direita, e à elevação, a estatuto de estrelas de rock, de muitos líderes populistas no Mundo. Este fenómeno chega agora a Portugal.

Assistimos à ascensão de movimentos radicalizados, tanto à Esquerda como à Direita, e à elevação, a estatuto de estrelas de rock, de muitos líderes populistas no Mundo. Este fenómeno chega agora a Portugal.

Sociologicamente, porque nós, humanos, adoramos caixas e caixinhas, pertenço à geração Y, ou melhor, à geração milénio, que nasceu com a explosão da Internet e, no caso português, cresceu e beneficiou da estabilidade do espaço europeu. Recordo-me vivamente de ler e estudar os impactos devastadores de políticas isolacionistas, de correntes nacionalistas, de pensamento higienizado e mesmo de tentativas de polarização ideológica, também aqui em Portugal, nomeadamente após o 25 de Abril. A linha orientadora destes discursos, destes movimentos, destes conservadorismos materializava-se, e materializa-se, na supremacia do Ser Humano, e na superiorização de parte desta "humanidade" perante os demais. Agora, e passados estes anos, a História repete-se e a sociedade polariza-se uma vez mais.

Mas como se materializa esta polarização? Em discursos inflamados, na apresentação de soluções rápidas, cirúrgicas e absolutas, no "Sebastianismo" do sacrifício pessoal em nome de um bem patriótico e superior. Mais: esta pontualidade, esta radicalização do imediato, centra-se sempre na divisão entre pessoas, géneros, classes e espécies. E, ao contrário do que os populistas dizem, o seu próprio modelo de "politicamente correcto", que é também politicamente constante, em nada difere do modus operandi mantido durante milénios, com tribalismos e nacionalismos nos quais o Ser Humano impera e subjuga os seus pares, outros seres e o ecossistema.

Difícil ­– e, para estes líderes, politicamente inexistente – é falar e apresentar um novo modelo económico e social baseado na tolerância e na não violência, que reforce a liberdade e responsabilidade individual e colectiva, que tenha um sistema de taxação gradual e mais justo, que não penalize as pessoas e as empresas por erros políticos constantes, que se baseie na gestão sensata e a longo prazo dos recursos terrestres, que garanta o fim da exploração e do stress organizacional entre trabalhadores e empresários, que elimine os "efeitos colaterais" económicos do paradigma vigente nos restantes seres e ecossistemas e que promova uma sociedade multicultural com regras e valores Europeístas.

Os populistas nunca falam nem defendem a Ecologia porque não querem assumir a necessidade de uma urgente alteração do modo como produzimos, distribuímos, consumimos e gerimos bens, produtos e serviços, garantindo que a Ecologia está na base de toda a nossa consciência individual, colectiva e pública. Que esta mudança estrutural terá que se operar por novos conceitos sociais, culturais e económicos a nível nacional e internacionais, e que, sobretudo, as soluções ecológicas só poderão emergir criando pontes e não elevando muros.

Os populistas não falam em Ambiente pois, como disse a activista sueca de 15 anos, Greta Thunberg, na COP 24, "vocês apenas falam de andar para a frente com as mesmas más ideias que originaram esta confusão, mesmo quando a única atitude sensata a tomar é puxar o travão de mão. Vocês não são maduros o suficiente para o dizer como deve ser dito. Mesmo esse fardo vocês deixam para nós, as crianças."

IN "SÁBADO"
21/12/18

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