01/12/2018

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HOJE NO 
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Uma jaula, uma cama e um corpo, o de Eduardo Jorge, à porta da Assembleia

Tem 56 anos. É tetraplégico, desde 1991. Vive num lar de idosos. Hoje saiu à rua para protestar. Quer uma vida independente, alguém que o apoie na sua autonomia. Espera uma lei que já aprovada, mas ainda não foi aplicada.

À porta da Assembleia da República: uma jaula, uma cama lá dentro e um corpo. O de Eduardo Jorge, 56 anos, tetraplégico. Foi assim que Eduardo decidiu protestar contra ao facto de estar há mais de um ano à espera de uma vida independente, aquela que só pode ter com o apoio de um assistente pessoal, uma figura que integra o projeto-piloto aprovado pelo governo e que irá avançar agora, segundo disse ao DN a secretária da Inclusão, Ana Sofia Antunes, com a assinatura de contratos com 30 Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI).
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Mas Eduardo Jorge não sabe se será um dos contemplados. Há três anos que vive num lar de idosos. Nada tem contra a quem lhe deu a mão quando mais precisou. "O lar deu-me trabalho e um teto, pensei que poderia ficar ali a viver uns seis meses, já lá vão três anos." E é isso que não quer. "Tenho a minha casa, onde só posso ir ao fim de semana quando tenho dinheiro para pagar a alguém que possa tratar de mim", explicou ao DN.

Eduardo perdeu o pai quando tinha sete anos, a mãe já há vários anos também, mas tinha uma pessoa paga pelo Estado que diariamente ia tratar dele. Quando começou a trabalhar essa pessoa, foi-lhe retirada. E, mais uma vez, teve de protestar para conseguir apoio. O lar onde está agora abriu-lhe as portas. Deu-lhe emprego também. Durante este tempo lutou pela aprovação de um decreto-lei que criasse um projeto de Vida Independente, que é o que "quero para a minha vida", disse-nos. O decreto foi aprovado em 2017, é DL 129-2017, mas ainda não está a ser aplicado. Só agora os contratos com os CAVI estão a ser assinados.

Por isso, em vésperas de se assinalar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, na segunda-feira, Eduardo Jorge decidiu sair à rua, estar na rua e ali dormir, sem ninguém a tratar dele. Enviou um pedido ao Presidente da República para que o fizesse durante o dia hoje, outra a António Costa para que dele tratasse no domingo e ao ministro da Segurança Social para o ajudar na segunda-feira.

Só do gabinete de Marcelo Rebelo de Sousa recebeu uma resposta. "Disseram-me que o Presidente estava solidário com a minha luta, mas que ele tem vindo a fazer um grande esforço para que o Estatuto do Cuidador Informal seja aprovado. Nem perceberam que são coisas distintas, o que me deixou tremendamente triste", desabafou ao DN. "Eu luto por uma vida independente", voltou a sublinhar. "Os outros nem me responderam."

Eduardo, que trabalha como assistente social no lar onde está, diz que aos 56 anos faz a vida de quem muitos anos tem a mais do que ele. "Não é isso que quero, a que tenho direito. Se o Estado paga ao lar 1027 euros ao fim do mês pela minha estadia, então também me pode ajudar a estar na minha casa", defende. "Só preciso de alguém que me ajude." Eduardo ficou tetraplégico em 1991, a sua vida mudou, e muito. Mas aprendeu a viver com esta condição. Quer mais autonomia, mais liberdade e diz que não vai desistir.

Hoje às 14.00 começou o protesto e se ninguém lhe der uma resposta sobre a sua situação ficará até terça-feira, sem ajudas, só a beber líquidos.

* Os deficientes deste país não merecem o Estado deficiente a que pertence.

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