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ESTA SEMANA NA
"@ VERDADE"
Autárquicas 2018:
Presidente da CNE mente publicamente
e chancela fraude em Marromeu. O que dirá o Conselho Constitucional?
Na repetição, a mando do Conselho Constitucional (CC), da eleição dos
membros da assembleia autárquica e do presidente do conselho autárquico
de Marromeu, a 22 de Novembro prestes a findar, houve irregularidades
de bradar aos céus, sobre as quais o presidente da Comissão Nacional de
Eleições (CNE) não se pronunciou, nesta quinta-feira (29), no anúncio da
“centralização nacional e do apuramento geral dos resultados da
eleição” em questão. Abdul Carimo Nordine Sau, não só ficou indiferente e
fingiu que nada viu ou pelo menos ouviu falar, como também mentiu até
não poder mais, de tal sorte que os representantes dos partidos
políticos correntes saíram melindrados da sala de conferências das
Telecomunicações de Moçambique (TDM), em Maputo. Excepto a Frelimo que
não se coibiu de agradecer à CNE, ao STAE, à PRM e a tantos outros por
terem movido céu e terra para assegurar a sua vitória.
A Frelimo e
a Renamo têm uma diferença de apenas 46 votos, de acordo com o edital
da CNE. Ou seja, o partido no poder teve 8.395 (45,78%), contra 8.349
(45,53%) da “perdiz” e 1.594 (8.69%) do Movimento Democrático de
Moçambique (MDM).
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CONTESTADO |
Este é um caso pra dizer que os eleitores de
Marromeu “sabem votar, e bem”. Ou houve artimanhas para prejudicar e/ou
favorecer algum partido? A resposta a esta pergunta pode estar na
consciência de Abdul Carimo, que recentemente não poupou palavras para
chamar de “cães” aos seus críticos, que a cada eleição parecem ficar
convencidos de que ele é um “ladrão de votos.”
Os resultados da
votação naquela autarquia, apresentados por entidades que efectuavam
contagem paralela, conferiam vitória à “perdiz”. Porém, num processo
absolutamente atabalhoado, os órgãos eleitorais forjaram editais que
atribuem vitória à Frelimo, segundo relatos de vários órgãos de
comunicação social e dos observadores nacionais e internacionais que
estiveram no terreno.
Aliás, André Magibire, mandatário da Renamo,
acompanhou in loco a votação em Marromeu. Ele assegurou que os
resultados que constam do apuramento intermédio não coincidem com os do
apuramento geral.
O certo, porém, é que em Marromeu, as “eleições
livres, justas e transparentes” que a CNE tem vindo a propalar não
passaram de chavão político e só para inglês ver. Os órgãos eleitorais,
os presidentes das meses de assembleia de voto e a Polícia da República
de Moçambique (PRM) aparecem como os obreiros da vitória da Frelimo por
detrás da fachada que foi a votação do 22 de Novembro. Os erros
cometidos foram ainda piores do que os outros no escrutínio de 10 de
Outubro passado.
As anomalias consistiram, por exemplo na listagem
do frelimista e presidente da Assembleia Municipal de Marromeu, Castigo
Djedje, como presidente da mesa de assembleia de voto número 07130-02,
uma das oito que repetiram a votação. Foram necessárias horas a fio para
ele ser afastado da mesa e não se percebe por que cargas de água alguém
que dirige um órgão deliberativo e era suposto conhecer a lei
arrogou-se o direito de fazer parte de um processo que lhe é
incompatível nos termos da Lei no. 7/2018, de 3 de Agosto de 2018.
Os técnicos do STAE e a PRM, por exemplo, apoderaram-se das urnas
para parte incerta. Algumas delas foram tiradas pelas janelas. Finda a
eleição, a contagem de votos foi paralisadas porque os membros das mesas
exigiam jantar, factos que são contrários à lei a que nos referimos
anterior. As anomalias foram tantas, mas a CNE não faz menção a nenhuma
delas.
Na leitura da Deliberação no. 92/CNE/2018, de 27 de
Novembro, “atinente à centralização nacional e ao apuramento geral dos
resultados da eleição dos órgãos autárquicos na vila de Marromeu”, Abdul
Carimo faltou à verdade ao afirmar que a votação foi “livre, tranquila e
justa, salvo a ocorrência de alguns incidentes de pouca expressão
(...), que tiveram o tratamento imediato e pronto (...).”
Uma das
maiores mentiras de Abdul Carimo foi quando declarou, de cabeça baixa,
que “o apuramento parcial dos resultados iniciou em todas as mesas das
assembleias de voto logo que encerraram a votação (...).”
José de
Sousa, mandatário do MDM, frisou a jornalistas que o presidente da CNE
“pura e simplesmente mentiu quando leu, perante os mandatários e
representantes de partidos políticos que concorreram em Marromeu, que
depois da votação” houve “contagem de votos. Isto é uma mentira
grosseira. Todo o mundo pode provar que, efectivamente, a contagem só
começou quando determinadas pessoas acharam que era o momento” para o
efeito. “Tiveram que primeiro jantar (...).”
“O que aconteceu em Marromeu é inconcebível e inaceitável”
O
membro e deputado do MDM, considerou lamentável Abdul Carimo tenha
proferido mentiras em público. Ele não escondeu a sua decepção: Quando
“Abdul Sau estava na sociedade civil defendia os direitos e a democracia
em Moçambique. Mas hoje vimos que ele está, de facto, manietado e
obrigado a dizer mentiras.”
“O que aconteceu em Marromeu é
inconcebível e inaceitável. Foram irregularidades graves. Como é que a
votação numa autarquia tão pequena, onde as eleições aconteceram em
apenas oito mesas, os delegados de candidatura não tiveram direito de
receber as actas e os editais conforme dita a legislação eleitoral?”,
questionou José de Sousa e lamentou que os presidentes das mesas de
assembleia de voto tenham um poder discricionário e impeçam,
impunemente, o exercício de direitos democráticos.
Segundo ele, a
eleição em Marromeu “foi uma vergonha e nunca devia ter acontecido”,
mormente quando o presidente da CNE apadrinha as anomalias que
ocorreram. “É uma vergonha proferir uma mentira grosseira (...).”
Os ladrões de votos “sem vergonha”
Para
o mandatário da Renamo, “o que acabamos de assistir é uma centralização
nacional e um apuramento geral do roubo de votos em Marromeu. Não tem
outro nome. O próprio presidente da Comissão Nacional de Eleições mentiu
perante todos nós quando disse que o apuramento intermédio começou logo
depois da votação. Isso não é verdade. Quando as mesas encerraram” os
membros das mesmas “ficaram sentados” durante pelo menos uma hora. “Não
podemos estar aqui a mentir para o público. Isso é uma brincadeira.”
O
político afirmou que a “perdiz” nunca teve dúvidas de que “esses
senhores [referia-se à CNE, ao STAE, à Polícia e à própria Frelimo] são
ladrões sem vergonha. Isso que seja dito (...).”
Na sua opinião,
não é casual que no dia da votação os presidentes das mesas tiraram
urnas com votos pelas janelas e fugiram, escoltados pela Polícia. “Vamos
recorrer ao Conselho Constitucional” mas a responsabilidade de travar o
“roubo de votos”, que acontece “desde 1994, não cabe só à Renamo”, mas
também a “todo o povo moçambicano.”
Alcídio Nguenha, representante
da Frelimo, parece não ter visto irregularidades em Marromeu. Se
existiram, “não afectaram essencialmente a votação (...). Nós estamos
satisfeitos com os resultados e queremos agradecer a CNE, o STAE e todas
outras pessoas que participaram” na votação.
Abdul Carimo negou a recontagem de votos
O
vogal e membro da CNE, Fernando Mazanga, foi também peremptório nas
suas declarações à imprensa: Tudo o que Abdul Carimo disse “não
corresponde à verdade.”
De acordo com ele, sete vogais daquele
órgão não subscreveram os resultados tornados público esta quinta-feira
(22), porque, depois de Abdul Carimo ter perguntado “quem estaria a
favor da recontagem dos resultados em Marromeu e quem estava interessado
em votar nos resultados incongruentes” já tornado públicos, ele próprio
“não votou na sua proposta.”
Segundo a fonte, todos os membros da
CNE estavam cientes que havia disparidades entre os resultados
processados no Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) em
Maputo e os de Marromeu. “Nós votamos a favor da recontagem porque
impunha-se para a nossa tranquilidade.”
Um número considerável de
vogais, incluindo os da famigerada sociedade civil, concordaram que a
recontagem de votos era pertinente. Porém, de repente, houve uma suposta
coação e discursos de ameaças a determinados vogais no sentido de
validarem os resultados que Abdul Carimo apresentou como “centralização
nacional e apuramento geral dos resultados da eleição dos órgãos
autárquicos na vila de Marromeu.”
Fernando Mazanga disse que por uma questão de decoro não iria mencionar o nome da pessoa que fez as ameaças a que se referiu.
Num
outro diapasão, o membro da Renamo acusou os dirigentes da CNE de
continuamente estarem a “hibernar em Maputo” e não fazem a devida
supervisão eleitoral nas províncias e nos distritos.
A quando as
eleições autárquicas de 10 de Outubro, o órgão ficou 13 dias inertes na
capital do país, sem fazer o trabalho que lhe competia nos órgãos
provinciais e distritais. “Até aqui não temos esclarecimento” sobre o
que originou essa apatia, segundo Mazanga.
A situação repetiu-se
no dia 22 de Novembro, em Marromeu, quando se constatou várias
irregularidades “por incompetência dos órgãos de apoio” naquela vila
autárquica, que não efectuaram bem o seu trabalho.
Esperava-se
que, aquando da repetição do escrutínio, a CNE faria o devido
acompanhamento mas não o fez. Nem tão-pouco a Comissão Provincial de
Eleições em Sofala deslocou-se a Marromeu para acompanhar o processo de
perto, denunciou a fonte a que nos referimos.
Todavia, cabe ao CC
ajuizar conforme a sua discernimento, pese embora seja também uma
instituição cuja credibilidade está beliscada e é sempre posta em causa.
* Quando do resultado se desconfia pôdre vai a democracia.
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