20/12/2018

EDUARDO OLIVEIRA E SILVA

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O PANdamentalismo
 PANfletário do
 PANpulista PAN

Aos poucos, o PAN está a criar grupos de prós e contras e a acentuar fraturas na sociedade

1. Tendo começado por ser um partido de boas ideias e intenções no qual havia algum conforto em votar, por tratar de questões relacionadas com a proximidade humana e a proteção da vida animal e do ambiente, o PAN tem vindo a mudar substancialmente.

Aos poucos, “Pessoas Animais e Natureza” mais parecem pretexto de procura do poder, aproveitando as naturais clivagens fraturantes da sociedade sobre certos temas, como o caso das touradas.

Mas essa não é a única matéria. Sistematicamente, PAN vai escavando divergências e tenta transformá-las em confrontos de prós e contras, como se não houvesse soluções intermédias. Atinge até patamares ridículos com a tentativa de alterar provérbios e ditados populares.

A técnica de crescimento adotada pelo PAN é um clássico já visto em muitos sítios, de várias formas e em tempos diferentes, aliando facetas populistas a um discurso fundamentalista e panfletário, cheio de certezas absolutas, na procura de um novo politicamente correto que se vai impondo por via de uma estratégia mediática e, hoje, das redes sociais.

Noutros moldes e com outros temas, o PAN mimetiza o que fez o Bloco de Esquerda, que cresceu com base em temas fraturantes até se tornar o que é hoje: um partido de poder que até está disponível para ser objeto de uma OPA política do Partido Socialista.

Esse conformismo e integração no quadro da política tradicional por parte do Bloco de Esquerda é a oportunidade que os estrategas do PAN aproveitam para crescer, transformando-o num partido de protesto, enquanto outros se distanciam dos seus valores de referência e se tornam mais conformistas.

E assim o PAN cresce, ocupa espaço, ganha influência. Há dias, um político experiente lembrava que o PAN é atualmente o partido que mais depressa consegue levar legislação ao plenário da Assembleia da República, o que é prova de que tem apoios políticos e repercussão na sociedade. É uma situação que, em si mesmo, nada tem de negativo. Mas o facto é que há no PAN uma tendência populista e fundamentalista. Há até nota de uma alegada apetência por um certo tipo de ações radicais, o que a sua direção nega veementemente.

Seja como for, o PAN tem-se imposto perante a crescente frustração dos portugueses relativamente aos partidos de direita e de esquerda que não têm conseguido construir soluções quando governam, o que gera movimentos alternativos, uns organizados, como o PAN, e outros inorgânicos, como os coletes amarelos e as novas lideranças sindicais.

2. O trágico acidente de um helicóptero do INEM, que arrastou para a morte quatro heróis anónimos, feriu o coração dos portugueses. São mortes que nos surgem mais injustas ainda quando se trata de pessoas em missão humanitária e em vésperas de Natal. Agrava a tristeza perceber que, mais uma vez, houve falhas na organização do socorro e do resgate e que, provavelmente, nunca saberemos o que aconteceu. É a política irresponsável do tempo que vivemos, em que todos tentam sacudir as responsabilidades.

3. A gestão do Montepio e a liderança de Tomás correia não para de surpreender. Depois do estranho processo eleitoral, há nota de outra situação surrealista. Sucede que a assembleia-geral foi, maliciosamente ou não, marcada pelo seu presidente, padre Melícias, para o próximo dia 27 de dezembro, com gente fora e em plena quadra natalícia. Se nas eleições houve uma abstenção de 90%, imagine-se quantas pessoas irão à assembleia. Se calhar, nem vale a pena reservar uma sala. Um elevador para meia dúzia de associados é bem capaz de chegar…

4. O escondido. Poderia ser esse o cognome político do ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social. É que Vieira da Silva só aparece para as boas notícias e desaparece quando há problemas. Nas greves de Setúbal e da enfermagem, quem aguentou foram as suas colegas do Mar e da Saúde. E sempre que há problemas nos transportes, quem alomba é Pedro Marques, que tem a cargo as infraestruturas. Assim é fácil ser considerado um bom ministro, apesar das centenas de greves que assolam o país. E ainda há quem ache que dava um excelente ministro das Finanças.

5. O Campo das Cebolas deixou de o ser. Foi rebatizado Largo José Saramago, o único prémio Nobel português que, por sinal, se incompatibilizou com o país, exilando-se nas Canárias. Casou até com uma senhora do país vizinho que ainda hoje não é capaz de dizer duas palavras na língua de Camões. Saramago é um ícone da nossa cultura. A sede da fundação Saramago fica bem na Casa dos Bicos mas, pelos vistos, não chegava para o homenagear. É bem verdade que a toponímia da cidade de Lisboa bem podia ser revista, mas talvez houvesse outras prioridades. Por exemplo, Eça de Queirós, o grande Eça, só dá o nome a uma rua esconsa de Lisboa que vai desaguar na Avenida Duque de Loulé e onde apenas se destaca a casa de Alvaiázere.

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19/12/18
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