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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
14/10/18
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Os pais não podem andar nus
à frente dos filhos?
O corpo despido dos pais deve ser escondido e tapado, sob pena de as
crianças poderem ver e ficar traumatizadas. Pode até ser considerado um
abuso sexual! É isto o que muita gente pensa.
Por isso, os pais fecham bem as portas da casa-de-banho e do quarto,
andam enrolados em toalhas até se vestirem e todo este processo é vivido
com muita preocupação e ansiedade. Ai se a toalha cai. Ai se as
crianças veem…
Muitos pais – especialmente homens – evitam ainda sentar os filhos ao
colo, uma vez que isso implica, necessariamente, contacto entre o rabo
da criança e a zona genital dos pais (ainda que por cima da roupa).
Esta preocupação é mais frequente nos homens porque a tolerância
social ao contacto físico entre as crianças e as mulheres é maior.
Acredita-se (erradamente) que os abusadores sexuais são sempre homens.
Mas não são. E quando os pais estão em conflito e um deles observa algum
destes comportamentos no outro… podemos ter alegações de abuso sexual.
Estas são ideias ainda enraizada em muitos pais e mães, que procuram
evitar a todo o custo que os filhos os vejam nus. E vivem rodeados de
cuidados, associados a um medo crescente sobre eventuais alegações de
abuso sexual. Que as crianças sintam esta exposição como algo negativo
ou, ainda, que terceiros a percepcionem dessa forma.
O abuso sexual de crianças e jovens é um tema cada vez mais abordado,
e ainda bem, sensibilizando a comunidade para a existência desta forma
de mau trato, que é transversal a todas a classes sociais e estatutos
sócio-económicos. Não é exclusivo das famílias pobres e disfuncionais e,
mais, os agressores sexuais não se identificam a «olhómetro». Não são,
necessariamente, estranhos-feios-porcos-e-maus. Não. Na maior parte das
vezes são pessoas próximas do círculo relacional da criança, familiares
ou amigos da família. Pessoas de confiança.
Por um lado, esta sensibilização da comunidade é muito importante, na
medida em que permite desmistificar ideias erradas e, consequentemente,
aumentar a probabilidade de estas situações serem precocemente
identificadas e sinalizadas.
Aumentar conhecimentos sobre o abuso sexual e promover competências
para a sua detecção e para saber lidar com o mesmo são os grandes
objectivos da prevenção primária de natureza universal.
Por outro lado, é importante evitar os alarmismos. Os alarmismos são
perigosos na medida em que aumentam a ansiedade e conduzem a
comportamentos desajustados. E há que ter cuidado com os alarmismos em
relação à nudez dos pais.
Ver os pais nus apenas poderá ser enquadrado como abuso sexual se a
essa exposição estiverem associadas motivações sexuais (por exemplo, com
toques ou conversas de natureza sexualizada, em que se pretende que o
adulto ou a criança experimente algum prazer sexual). Caso contrário,
não podemos falar em abuso sexual.
Outra coisa, bem diferente, é a necessidade de privacidade. À medida
que crescem, é natural que as crianças se sintam incomodadas com este
comportamento por parte dos pais, e vice-versa. Passam a fechar-se as
portas, a não querer que se entre no seu espaço sem pedir licença. E a
privacidade deve ser respeitada, pelo que os pais devem perceber em que
momento este comportamento (muitas vezes, um hábito familiar que não é
abusivo) deve ser repensado.
Por sua vez, sentar os filhos ao colo é maravilhoso, quer para os
filhos, quer para os pais. Estamos a falar de um comportamento de
cuidado, que transmite afecto positivo. O toque é muito securizante para
a criança e fortalece os vínculos afectivos entre pais e filhos. E quem
não gosta de colo?
E a velha ideia de mimo a mais não existe. O mimo quer-se em doses
exageradas, superlativas, absolutas e sem qualquer contenção ou limites.
Assim, deixemos de lado esta ideia errada de que os pais têm de se
controlar na forma como interagem com os filhos, sob pena de qualquer
comportamento poder ser interpretado como potencialmente abusivo.
Importa clarificar, saber distinguir o que é, e o que não é, abuso
sexual, para que pais e filhos possam viver a sua relação de uma forma
tranquila, espontânea e, por isso mesmo, mais saudável e estruturante.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
14/10/18
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