07/10/2018

INÊS CARDOSO

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Comédia, drama e terror

Imagine-se um espectador que de repente é empurrado para uma sala de cinema, sem fazer ideia do filme a que vai assistir. À medida que tenta entender a trama, a história muda abruptamente a cada momento, numa oscilação de protagonistas e de diálogos insólitos que o deixam sem saber se há de rir ou chorar, encolher os ombros ou assustar-se.


Tancos já passou, aos olhos dos portugueses, por todas estas fases e mais alguma. Mas chegou a um ponto em que o mais preocupante é perceber o quanto estará ainda por deslindar. E até onde nos pode conduzir, politicamente, a investigação do que realmente sucedeu e de quem participou neste filme. 


O discurso dos nossos eleitos esforça-se, sempre que processos de extrema gravidade se aproximam do poder político, por repetir o mantra da separação de poderes. À política o que é da política. À justiça o que é da justiça. Numa contradição absurda, no entanto, que faz depender a responsabilidade política do apuramento resultante do trabalho do poder judicial. Como se não houvesse ilações a tirar quando instituições tão basilares como a militar são atingidas ao ponto em que as nossas Forças Armadas estão a ser. 


É verdade que há ainda muito por esclarecer sobre o que aconteceu há quase 16 meses. E sobre a encenação que, em dezembro do ano passado, acrescentou motivos de perplexidade ao já absurdo assalto aos paióis. A justiça deve ter condições para fazer o seu caminho, mas é natural a impaciência quando começam a multiplicar-se contradições e comportamentos mal explicados. 

Não poderá sobrar, no final deste processo, nenhuma ponta por explicar. Nenhuma dúvida a pairar. Que não se invoquem segredos de justiça ou de Estado para atropelar outro direito essencial que todos temos: o direito à verdade. Sem esse, não há confiança nas instituições que resista. 

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
06/10/18

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