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Comissão impele Itália a manter trajectória de redução da dívida
Apesar de o orçamento expansionista proposto pelo governo anti-sistema de aliança entre o 5 Estrelas e a Liga ter elevado as metas do défice para os próximos três anos, é o défice estrutural, a dívida e o crescimento previstos na proposta orçamental que suscitam mais apreensão em Bruxelas. No entanto, na carta entretanto enviada para Roma, a Comissão lembra que o défice de 2,4% para 2019 presente no orçamento está muito acima dos 0,8% inscritos no Programa de Estabilidade aprovado em Maio.Quanto ao esforço de consolidação orçamental (medido pela evolução do saldo estrutural, que desconta os efeitos do ciclo económico), a Comissão Europeia reitera que em vez de uma melhoria está prevista uma deterioração. Salienta ainda que não é cumprida a recomendação feita em Julho pela Comissão para que o crescimento da despesa líquida primária não excedesse 0,1 pontos percentuais em 2019.
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HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Bruxelas toma decisão inédita e
rejeita orçamento de Itália
A Comissão Europeia recusou a proposta de orçamento apresentada pela Itália, uma decisão inédita da parte do órgão executivo da União Europeia.
Era um desfecho há muito esperado mas acaba de se confirmar. A Comissão
Europeia recusou a proposta orçamental apresentada pelo governo
eurocéptico italiano, considerando que a clarificação dada por Roma é
insuficiente. Nunca desde a criação da Zona Euro uma proposta de
orçamento havia sido chumbada pelo órgão executivo da União Europeia.
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A
decisão foi formalmente anunciada na conferência de imprensa que se
seguiu ao encontro do colégio dos comissários que decorreu em
Estrasburgo. Coube ao comissário europeu para os Assuntos Económicos,
Pierre Moscovici, e ao vice-presidente da Comissão com a tutela do euro,
Valdis Dombrovskis, fazer o anúncio e explicar esta
"situação inédita".
"Pela primeira vez, a Comissão foi obrigada a
pedir a um país do euro para rever a sua proposta de Orçamento. Não
vemos outra alternativa", revelou Dombrovskis confirmando que Roma tem
agora três semanas para fazer chegar a Bruxelas um novo plano
orçamental. A Comissão Europeia recorreu assim ao artigo 7.º do
regulamento 473, do ano de 2013, que permite a Bruxelas rejeitar um
documento orçamental nos primeiros 15 dias desde a sua recepção.
Depois
de uma manhã em que aliviaram face às subidas acentuadas registadas nas
últimas semanas, os juros da dívida pública transalpina reagiram em
forte alta ao anúncio feito pelo comissário letão, com a "yield"
correspondente aos títulos soberanos transalpinos a 10 anos a disparar
9,7 pontos base para 3,588%.
Pierre Moscovici recorda que as
metas assumidas pelo executivo italiano representam um "desvio claro e
assumido", notando que na resposta ao pedido de clarificação feito pela
Comissão, o ministro transalpino das Finanças, Gioavanni Tria, assumia
que o não cumprimento das regras do Pacto de Estabilidades da
União Europeia tinha sido uma "decisão difícil mas necessária à luz do
persistente atraso na recuperação dos níveis do PIB pré-crise e das
dramáticas condições económicas em que se encontram os estratos mais
desfavorecidos da sociedade italiana".Giovanni Tria
colocou-se assim em contradição com as garantias dadas por ele próprio
no Eurogrupo de Setembro quando, perante as dívidas em torno das novas
prioridades orçamentais de Itália, assegurou que o país iria apresentar
uma proposta conforme as regras europeias. "O governo italiano está
aberta e conscientemente a contrariar os compromissos que assumiu",
rematou Dombrovskis.
Já o comissário Moscovici exclui que
Bruxelas vá interferir em "questões internas" italianas, contudo admite
que tentará influenciar a nova proposta de Roma com base num "diálogo
construtivo" que terá como objectivo central encontrar medidas capazes
de continuar a reduzir a elevada dívida pública de Itália. Moscovici
mostrou-se confiante e fez questão de notar que, na visita de dois dias
que realizou na semana passada à capital italiana, pôde constatar que
todos os interlocutores que encontrou em Roma "estão firmemente a favor
da Europa". "O ministro Tria disse que o lugar de Itália é na Europa e
na área do euro e estou totalmente de acordo", acrescentou.
A
acção da Comissão Europeia inaugura formalmente um embate que estava há
muito escrito nas estrelas. O Movimento 5 Estrelas e a Liga, que
formaram governo em Junho, garantiram as melhores votações de sempre
depois de uma campanha eleitoral que, entre outros elementos, continha
uma retórica fortemente crítica da União Europeia. Com garantias de fim
da austeridade, as duas forças anti-sistema prometiam bater o pé a
Bruxelas. Do lado da Comissão, o desafio apresentado pela Itália é tanto
mais preocupante por se tratar não apenas de um Estado-membro fundador
da UE e da Zona Euro mas da terceira maior economia da moeda única.
Comissão impele Itália a manter trajectória de redução da dívida
Apesar de o orçamento expansionista proposto pelo governo anti-sistema de aliança entre o 5 Estrelas e a Liga ter elevado as metas do défice para os próximos três anos, é o défice estrutural, a dívida e o crescimento previstos na proposta orçamental que suscitam mais apreensão em Bruxelas. No entanto, na carta entretanto enviada para Roma, a Comissão lembra que o défice de 2,4% para 2019 presente no orçamento está muito acima dos 0,8% inscritos no Programa de Estabilidade aprovado em Maio.Quanto ao esforço de consolidação orçamental (medido pela evolução do saldo estrutural, que desconta os efeitos do ciclo económico), a Comissão Europeia reitera que em vez de uma melhoria está prevista uma deterioração. Salienta ainda que não é cumprida a recomendação feita em Julho pela Comissão para que o crescimento da despesa líquida primária não excedesse 0,1 pontos percentuais em 2019.
Sobre
o crescimento económico previsto, a instituição liderada por
Jean-Claude Juncker volta a considerar que as previsões são muito
optimistas, um optimismo que se reflecte na previsão de descida da
dívida pública em níveis que a Comissão considera questionáveis.
Itália
argumenta que as medidas favoráveis ao crescimento económico previstas
no orçamento vão compensar a deterioração do saldo estrutural, e vão
acabar por se repercutir na descida do endividamento público. Reticente,
Dombrovskis lembrou que num nível superior a 130% do PIB, a dívida
italiana é a segunda mais alta da Europa mas o custo do serviço da
dívida é o mais alto da UE. Em 2017, Itália gastou cerca de 65,5 mil
milhões de euros em juros da dívida (3,8% do PIB), o equivalente à
despesa alocada pelo governo italiano para o sector da educação,
precisou o letão.
Acerca da estratégia de crescimento do actual
governo transalpino, que aposta em défices mais altos para pagar um
programa de investimento público capaz de promover o crescimento,
Dombrovskis garante que é errada: "défices orçamentais e dívida mais
elevados não trazem crescimento. E uma dívida excessiva torna a economia
mais vulnerável a futuras crises". Porque se uma "política orçamental
mais flexível afecta a confiança pode, na verdade, ter o efeito oposto
no crescimento", conclui o vice-presidente da Comissão.
Aqui
chegados e depois de, em Maio passado, a Comissão não ter aberto um
procedimento por défices excessivos a Itália porque, na altura, o
governo então liderado por Paolo Gentiloni (PD) mantinha um
"amplo cumprimento dos seus compromissos", as coisas podem agora mudar,
alerta Moscovici. Isso significa que Itália pode estar na antecâmara de
ser alvo de sanções por incumprimento das regras europeias, já que a
actual proposta orçamental representa uma "alteração substancial" face
aos compromissos anteriormente assumidos.
"A
bola está agora do lado do governo italiano", diz Moscovici. Antes de
receber a bola, o governo transalpino tem afirmado não ter condições
para alterar um orçamento desenhado a pensar nos italianos.
* Impera a xenofobia e a incompetência na quinta economia europeia, aproveitem e vão rezar ao vaticano.
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