01/10/2018

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HOJE NO 
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
FMI: 
Dívida mundial subiu 60% desde 2007
Corresponde a 182 vezes a Apple

Seria necessário 182 vezes o valor da capitalização bolsista da Apple para pagar toda a dívida mundial pública e privada. Desde 2007, um ano antes da queda do Lehman Brothers, o endividamento global aumentou 60%, estima o FMI. Lagarde deixa ainda alertas para o comércio e a desigualdade.

182.000.000.000.000 dólares. É este o valor da dívida pública e privada de todo o mundo, o qual equivale a 182 vezes a capitalização bolsista da Apple. Esta é uma nova estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) revelada esta segunda-feira, dia 1 de Outubro, pela directora-geral, Christine Lagarde, num discurso em antecipação das reuniões anuais entre o FMI e o Banco Mundial que este ano se realizam em Bali (Indonésia) na próxima semana.
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"A dívida global - tanto pública como privada - alcançou um máximo histórico de 182 biliões de dólares, quase 60% acima do nível de 2007", afirmou Lagarde, assinalando que este fardo da dívida pode "amplificar pressões nos mercados financeiros".

"Para a maior parte dos países, conduzir o barco [da retoma económica] significa criar mais espaço para agir quando a nova e inevitável desaceleração chegar", destaca a directora-geral do FMI. E há um ponto que, para o FMI, não deve ser esquecido neste processo: os Estados têm activos públicos que podem ser utilizados para gerar receita na ordem dos 3% do PIB por ano - o equivalente ao que as empresas entregam aos Estados com economias avançadas.

As contas públicas são um dos principais desafios que os Governos enfrentam actualmente: "Dez anos depois da crise financeira mundial, estamos mais protegidos? A minha resposta é 'sim'... mas não estamos suficientemente protegidos", disse Lagarde. Um dos legados da crise é efectivamente o nível de endividamento que deixou os Estados e as empresas "mais vulneráveis a um aperto das condições financeiras".

Para as economias avançadas, tal como é o caso de Portugal, a acção passa pela criação de espaço orçamental através da redução do défice e a tendência descendente da dívida pública, a mesma receita dada por Bruxelas. "Isto deve ser feito de uma forma justa e amiga do crescimento, através de despesa mais eficiente e assegurando que o fardo do ajustamento é partilhado por todos", aconselha o Fundo.

Além disso, o FMI quer ver mais avanços na regulação financeira e avisa que os Estados têm de resistir em retirar as regras pós-crise, tal como deverá vir a acontecer nos EUA de acordo com os planos da actual administração norte-americana.

O sol, as nuvens e a chuva
Há um ano, a directora-geral do Fundo dizia que o sol dominava o céu, mas era preciso construir um telhado melhor, uma metáfora utilizada também pela Comissão Europeia para pedir aos Estados-membros que criem espaço orçamental para fazer face uma nova crise. Mas o panorama mudou. Seis meses depois, a ex-ministra das Finanças francesa já fazia referência a nuvens no horizonte. Agora, é claro para o FMI que as nuvens estão para ficar e já caem algumas pingas.

No discurso de hoje, Lagarde deixa antever que na próxima actualização das previsões para o crescimento da economia mundial haverá uma revisão em baixa. Porquê? A resposta está no assunto mais badalado dos últimos meses: a guerra comercial desencadeada pelos Estados Unidos. Apesar de não ver um "contágio financeiro generalizado" para já, o FMI admite que as condições "podem mudar rapidamente" e que "se as disputas comerciais actuais agravarem-se ainda mais, estas podem provocar um choque".

Para o Fundo a solução passa por sentar os países à mesa para trabalharem em conjunto num sistema mundial de comércio que seja "mais forte, mais justo e apropriado ao futuro", em vez de o destruir. O FMI fala de "regras inteligentes para o comércio que assegurem que todos possam ganhar". Um estudo que virá a ser publicado pelo Fundo estima, segundo Lagarde, que reduzir as taxas à exportação/importação de serviços em 15% pode aumentar o PIB dos países do G20 em 350 mil milhões de dólares este ano.

Desigualdade é uma prioridade
Além do comércio e da recuperação económica, o outro pilar passa pela confiança dos cidadãos nas instituições democráticas, principalmente ao nível do combate das desigualdades. Apesar do número de pessoas em pobreza extrema ter diminuído para menos de 10% - um mínimo histórico -, as desigualdades aumentaram.

"Desde 1980, os 1% do topo [com mais rendimentos] capturaram duas vezes mais os ganhos do crescimento económico do que os 50% mais pobres", refere o FMI, o que "naturalmente" leva os cidadãos a considerar que o sistema está manipulado. Assim, durante a crise, "muitas economias avançadas viram a desigualdade de rendimentos aumentar e o crescimento dos salários foi limitado". Essa limitação ocorreu em parte por causa da tecnologia e da globalização, mas também por causa das políticas que "favoreceram o capital em detrimento do trabalho".

Como resolver este problema? O FMI deixa algumas pistas: investir na educação, na saúde e nos sistemas de protecção social. O investimento na educação deverá reduzir a desigualdade de oportunidades e não deixar de parte a população atrasada a nível tecnológico. Em teoria, com mais qualificações, os trabalhadores poderão ter empregos de maior qualidade e, assim, receber um salário melhor. Para evitar que as mulheres sejam mais penalizadas do que os homens, é necessário que as políticas públicas tornem mais fácil equilibrar o trabalho com a família, refere ainda o Fundo.

Mas estas medidas só são eficazes com uma mudança na política fiscal. "Sempre que possível, é necessário um sistema fiscal mais progressivo e salários mínimos mais altos", admite o FMI. É preciso também assegurar que o sistema seja eficaz junto das empresas multinacionais "de forma a assegurar que todos paguem a sua quota parte". Um problema que ganha uma dimensão considerável quando, segundo o FMI, uma estimativa recente revelava que 40% dessas empresas transferem os seus lucros para países com impostos baixos todos os anos.

* O problema é a economia selvagem global que permite a 1% da população controlar mais de 50% da riqueza do mundo.


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