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Rui Rio não quer ser de direita
O líder social-democrata quer ganhar o centro político e por isso tem vergonha de ser de direita. As suas bases não o conseguem entender. E o eleitorado do centro político para quem António Costa verdadeiramente governa também não.
As circunstâncias históricas que envolveram a criação dos partidos
políticos em Portugal deram origem a alguns equívocos que só agora
parecem estar a ser resolvidos. O mais evidente é o da matriz
social-democrata do PPD, mais tarde PSD. Provavelmente esta discussão
não é hoje muito relevante. Mas ajuda a explicar o desconforto crescente
das bases com Rui Rio.
Só o
momento revolucionário que então se vivia obrigou a que alguns jovens de
espírito liberal e formação católica, como Francisco Sá Carneiro,
optassem por se deixar marcar ideologicamente por uma corrente muito em
voga na Europa e que era, tal como hoje continua a ser, parte de uma
grande família política a que importava pertencer - a Internacional
Socialista. Só a intervenção de Mário Soares impediu que os "laranjas"
portugueses dela se tivessem tornado membros.
O
aparecimento inesperado da "geringonça" veio alterar profundamente as
regras do jogo político e o quadro partidário bipolarizou-se entre
esquerda e direita. O centro político, apesar de continuar a existir
sociologicamente e a ditar quem ganha eleições, parece ter deixado de
ter representação inequívoca no espetro atual. E o PSD nunca se mostrou
confortável com este reposicionamento.
No novo bloco de
direita, composto pelo CDS e pelo PSD, há uma enorme convergência ao
nível das bases de cada um dos partidos. Retirando desavenças e invejas
locais, não existe uma verdadeira diferença de pensamento, de atitude ou
de identificação de inimigos entre militantes dos dois partidos. É
muito raro sentir que algum militante do PSD fica incomodado quando o
acusam de ser de direita. Pelo contrário. Normalmente até o confirma com
uma certa dose de orgulho.
O discurso de Rui Rio parece
ter esquecido que esta bipolarização aconteceu muito rapidamente e está
praticamente assumida pelos eleitores. O líder social-democrata quer
ganhar o centro político e por isso tem vergonha de ser de direita. As
suas bases não o conseguem entender. E o eleitorado do centro político
para quem António Costa verdadeiramente governa também não.
As
bases do PSD querem ver Rui Rio combater António Costa. Todos os dias,
em todas as frentes, seja a propósito de que assunto for. Se não o
fizer, o sentimento de orfandade e de distância será cada vez maior e
obrigará o seu eleitorado habitual a escolher entre a postura afirmativa
de Assunção Cristas, a aventura de Santana Lopes ou a desistência
através da abstenção. Seja como for uma coisa tenho como certa. Se o PSD
quiser voltar a ser um grande partido terá de aceitar integrar o espaço
político da direita em Portugal. Mas se assim for, dificilmente poderá
reivindicar a social-democracia como a sua matriz ideológica. Para
sobreviver é necessário fazer escolhas. Se ainda for a tempo.
Jurista
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
08/10/18
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