16/09/2018

MARGARIDA BRITO PAIS

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Jornalistas VS Influenciadores:
Cada macaco no seu galho,
mas os galhos são vizinhos

-O que queres ser quando fores grande?

– Vou dar notícias em primeira mão.

– Queres ser jornalista?

– Não, não. Quero ser Youtuber!!!

Este diálogo de poucos segundos faz parte do anúncio de regresso às aulas do Intermarché, e diz muito sobre a relação que o público tem hoje em dia com os media, sobretudo na área de lifestyle. Para os mais pequenos as grandes notícias chegam através dos ipads e telefones, num qualquer canal de youtube com milhares de subscritores. Para os mais velhos as novidades gastronómicas, os hotspots urbanos, as marcas mais trendy e até a solução para um problema de pele, chegam cada vez mais através do Instagram, muitas vezes embrulhados em posts patrocinados.

É urgente que os leitores e seguidores percebam a diferença entre uma informação dada por um influenciador e por um jornalista. Uma dica dada por influencer é semelhante ao conselho de um amigo, no Instagram ou noutra plataforma que funcione a título pessoal, o que é mostrado está intimamente ligado a uma visão pessoal – é uma informação parcial e motivada por uma experiência particular que não pode ser universalizada. Já um conselho dado por um jornalista deve ser especializado. Uma resposta dada por um jornalista parte sempre de uma pergunta concreta, e por isso a resposta é concreta, tendo em base um trabalho de pesquisa e a consulta de especialistas.

Como me explicou Dulceida, uma das maiores influenciadoras espanholas, com 2,4 milhões de seguidores, em Madrid: “as influenciadoras só falam daquilo que gostam, enquanto uma revista vai falar de tudo, porque o trabalho de uma revista é informar, independentemente dos gostos pessoais. Por isso as revistas são sobre informação e cultura de moda e beleza, o Instagram é mais a realidade pessoal de alguém que recomenda as suas preferências”.

Trocado por miúdos, e (quase) mal comparado, podemos dizer que o que se passa aqui é o mesmo que acontece quando estamos doentes e temos duas hipóteses: ou vamos ao médico (jornalistas) ou perguntamos a um amigo o que é que tomou quando estava com os mesmo sintomas que nós (influenciador). Quantas vezes é que preferimos ligar a um amigo?! Muitas… talvez a maioria das vezes. Porquê? Em primeiro lugar, e sem hipocrisias: porque dá muito menos trabalho, os médicos falam imenso, pedem imensos exames, é uma chatice. E em segundo lugar: porque confiamos nos nossos amigos, acompanhamos a sua vida e por isso conhecemo-los, confirmamos de perto o efeito que o medicamento teve na sua saúde.

Com os influenciadores passa-se o mesmo, os seguidores sentem que os conhecem, por isso confiam mais neles, enquanto um jornalista a maioria das vezes não passa de uma assinatura negra, fria e crua numa página branca. É aqui que temos o nosso calcanhar de Aquiles, a personalização do jornalismo, que é cada vez mais falada, é de facto urgente. Já não chega um nome, um apelido e um número de carteira profissional para se ser de confiança, é preciso ser transparente não só na informação (que essa é obrigação dos media) mas também no método. É preciso mostrar o processo, revelar o backstage de uma redação (que convenhamos não é a coisa mais glamorosa do mundo mas desperta muita curiosidade). Uma rede social que revele mais que os milhares de carateres que um jornalista martela diariamente no teclado, pode ser a arma mais forte para conquistar esta confiança de quem nos lê, porque sem confiança não há leitores e sem leitores não há jornalismo.

Agora que esclarecemos que cada macaco tem o seu galho, é preciso deixar claro que são galhos vizinhos. Muitas vezes são realidades que se tocam, e nos tempos que correm é fundamental que assim seja. Muitas vezes é um caminho perigoso, onde os limites podem ser dúbios, mas o fundamental é ter sempre claro que a forma de veicular notícias será sempre diferente: o influenciador é o amigo que nos inspira e aconselha, o jornalista é o médico que nos cura a longo prazo. Nunca nos devemos esquecer que por muitos amigos que tenhamos, nenhum substitui um médico quando este é mesmo necessário.

IN "DELAS"
14/09718

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