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Não se tira a troika
Desta vez foi Assunção Cristas. Questionada sobre as 35 horas semanais de trabalho, não hesitou em afirmar que "precisamos de trabalhar muito porque infelizmente continuamos a estar atrás dos outros países no que diz respeito à competitividade da nossa economia". Por outras palavras, diz-nos Cristas que a competitividade da economia depende de mais horas de trabalho, isto é, de mais trabalho por menos salário. Numa única frase, a presidente do CDS resumiu o pensamento bafiento da troika sobre o trabalho que, como se vê, não se distingue do seu. Em 2016, a Esquerda conseguiu aprovar a reposição das 35 horas no setor público. Os partidos que tinham aumentado o horário de trabalho no tempo da troika, PSD e CDS, votaram contra a medida e justificaram o voto também com a ideia de que estaria a ser criada uma desigualdade entre trabalhadores do público e do privado. Menos de um ano depois, CDS, PSD e PS chumbaram as propostas da Esquerda para alargar o horário de 35 horas semanais ao privado. A igualdade nunca foi e nunca será uma preocupação para a Direita, porque a desigualdade é e sempre foi a sua única política.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
03/07/18
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Não se tira a troika
de CDS e PSD
A Direita portuguesa bem se tem esforçado
por moderar o discurso face ao evidente fracasso da estratégia de
empobrecimento e austeridade que apresentaram como inevitável. Mas não é
preciso procurar muito para encontrar no discurso de CDS e PSD as
linhas mestras do programa que, com a ajuda da troika, impôs ao país a
mais violenta austeridade. Afinal de contas, pode tirar-se o Governo da
troika do país, mas não se tira a troika do CDS e PSD.
Desta vez foi Assunção Cristas. Questionada sobre as 35 horas semanais de trabalho, não hesitou em afirmar que "precisamos de trabalhar muito porque infelizmente continuamos a estar atrás dos outros países no que diz respeito à competitividade da nossa economia". Por outras palavras, diz-nos Cristas que a competitividade da economia depende de mais horas de trabalho, isto é, de mais trabalho por menos salário. Numa única frase, a presidente do CDS resumiu o pensamento bafiento da troika sobre o trabalho que, como se vê, não se distingue do seu. Em 2016, a Esquerda conseguiu aprovar a reposição das 35 horas no setor público. Os partidos que tinham aumentado o horário de trabalho no tempo da troika, PSD e CDS, votaram contra a medida e justificaram o voto também com a ideia de que estaria a ser criada uma desigualdade entre trabalhadores do público e do privado. Menos de um ano depois, CDS, PSD e PS chumbaram as propostas da Esquerda para alargar o horário de 35 horas semanais ao privado. A igualdade nunca foi e nunca será uma preocupação para a Direita, porque a desigualdade é e sempre foi a sua única política.
A
ideia de que mais horas de trabalho significam mais competitividade da
economia levou a Direita a aumentar o horário de trabalho e diminuir o
salário, mas serviu também para justificar a eliminação de feriados e
dias de férias ou os cortes nos salários e horas extras durante o tempo
da troika. Três anos passados, Cristas ainda não compreendeu que a
fragilidade da economia portuguesa não está no pouco tempo de trabalho,
ou nos altos salários. É precisamente o contrário.
Até
hoje, a aposta nos baixos salários não fez mais que deixar o país preso
a uma economia fraca, de baixas qualificações, centrada em atividades
de pouca intensidade tecnológica e valor acrescentado. É esse o caminho
que é preciso reverter. E a solução não é impor jornadas de trabalho
mais longas, como propõe Cristas. Em Portugal já se trabalha mais tempo
que a média europeia.
A solução está em
menos horas de melhor trabalho. E melhor trabalho, ou trabalho mais
produtivo, resulta de uma combinação de fatores em que o CDS não quer
nem sequer pensar. Porque não é possível pensar a sério em trabalho
qualificado sem um forte investimento público em educação, em ciência e
investigação. Porque trabalho empenhado requer um bom salário, segurança
no vínculo laboral em vez de precariedade. Numa palavra: dignidade. Ou
seja, muito longe da visão elitista da educação que o CDS defende e o
contrário da prática de precarização laboral que o Governo da troika
impôs ao país.
O país precisa de
discutir a sua estratégia económica de futuro. Mas devemos rejeitar
soluções que já conhecemos, e que falharam. A proposta de Cristas não é
mais que um regresso ao passado.
* DEPUTADA DO BLOCO DE ESQUERDA
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
03/07/18
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